Baía dos Porcos: “Perdemos porque Fidel está com eles”

Arthur M. Schlesinger, assessor do ex-presidente John F. Kennedy escreveu o que a grande imprensa norte-americana não teve coragem de dizer taxativamente: "Na verdade, Fidel Castro foi um inimigo ainda mais formidável e capitaneia o melh

Em meados de abril de 1961, organizado em unidades das milícias, do Exército Rebelde e da Polícia, o povo deitou derrubou, como um castelo de cartas, a longa e cuidadosamente preparada Operação Pluto, com a qual o governo dos Estados Unidos pretendia banir a Revolução Cubana e seu exemplo para o mundo.

Mais de 1,5 mil homens treinados pela CIA, equipados com o último armamento utilizado pelo Exército norte-americano e com ampla cobertura aérea, em apenas 72 horas, ficaram fora de combate nas areias da Baía dos Porcos, a primeira derrota militar dos Estados Unidos na América Latina.

A derrota da Baía dos Porcos impediu a intervenção direta dos Estados Unidos e evitou que a vitória cubana fosse incomparavelmente mais custosa. O mito da invencibilidade da grande potência começou a desmoronar. A partir daí muitas coisas começaram a mudar no mundo.

17 de abril

 

A Lua, em quarto crescente, se escondeu ao anoitecer: o vento macio soprava do Norte entre 15 e 25 milhas por hora. Era uma noite fresca, quando o miliciano Mariano Mustelier e o alfabetizador Valerio Rodríguez avistaram uma luz que se aproximava no mar em meio à escuridão. Era um navio que fazia sinais.

Movimentaram o jipe até o colocar em frente do navio. E fizeram-lhe sinais. Era pouco mais de meia-noite de 17 de abril, na Baía dos Porcos. Tratava-se do navio Blagar, um dos sete que transportavam mais de 1,5 mil homens financiados, treinados e dirigidos pela CIA para invadir Cuba. Além do mais, vinha um grupo de homens-rãs, liderados por alguns oficiais do Exército e de outros departamentos dos EUA.


O navio começou a disparar contra o jipe. Mustelier revidou com seu fuzil FAL. Os disparos feriram o alfabetizador adolescente de 13 anos que estava ensinando a ler e a escrever os moradores da região. Mustelier o levou ao pequeno quartel de milícias e voltou com cinco homens. Do navio, começaram a disparar contra eles com canhões, enquanto os homens-rãs, que tinham desembarcado, lhes deram a ordem de se render.


Pátria ou morte! Foi essa a firme resposta que aprenderam de Fidel. Essas palavras simples simbolizavam tudo aquilo que aguardava aos invasores. A metralha feriu dois dos valorosos defensores. Outro foi mandado à usina Covadonga para avisar e o quarto foi à emissora de rádio para comunicar com Santa Clara e informar do desembarque.


Em Playa Larga, situada no extremo interior central da Baía dos Porcos, a uns 31 quilômetros de Playa Girón, que se localiza na via direita da baía que vem do Sul, uma esquadra do batalhão n.o 339 das Milícias Nacionais Revolucionárias de Cienfuegos, foi situada ali para proteger o lugar. Na meia-noite, seus cinco homens enxergaram os relampejos do tiroteio em Playa Girón. Às 2h, uma lancha se aproximava. A ordem de alto foi contestada com disparos de metralhadoras e fuzis. O combate começou em seguida, e o chefe da esquadra, Ramón González Suco, avisou por microondas à usina açucareira Austrália.


Hernández, Jaramillo e Quintana, junto a seu chefe, García Garriga, resistiram até acabarem as balas. Às 2h 45, se retiraram depois de informar à usina. Dos navios Houston e Barbara J. dispararam também contra Playa Larga e Buenaventura. Neste último ponto, uma lancha da Marinha de Guerra revidou ao fogo do cais.


Assim que o capitão Cordero, chefe do batalhão no 339, integrado por 528 operários e estudantes da cidade de Cienfuegos, recebeu a informação da usina açucareira Austrália, comunicou a Havana. Às ordens do comandante-em-chefe foi rumo à Playa Girón às 2h 30. Percorreu 68 quilômetros. Já nesse momento, das lanchas tinham desembarcado os invasores, que levavam M-3 e outras armas, em três pontos da Baía dos Porcos: Playa Girón, Playa Larga e Hornos.


Os milicianos que combateram nos primeiros instantes tinham sido enviados no dia anterior, quando o comandante Juan Almeida Bosque, chefe das forças do centro da Ilha (Raúl Castro era chefe da região oriental e Che Guevara da ocidental), durante um percurso reparou nas dificuldades nas comunicações nessa área e mandou ali uma companhia.


No ponto um, o comandante-em-chefe Fidel Castro recebeu a informação e verificou que estava tendo lugar o desembarque com armas pesadas. Posteriormente Fidel comentaria que os imperialistas apenas examinaram militarmente a área onde desembarcariam e nem levaram em conta que, no Pantanal de Zapata, a população tinha sido "redimida da pior miséria, do pior isolamento".


No lugar onde até os cachorros morriam de fome, onde os homens antes recebiam só 60 centavos em cada saco de carvão, agora já recebiam de 8 a 12 pesos diários. Foram construídos centros turísticos, rodovias, entre outros. Além disso, foram enviados 200 alfabetizadores à zona e 300 garotos, filhos de camponeses estavam estudando em Havana.


A Revolução chegou tanto a essa zona, que um dos invasores, José Manuel Gutiérrez, quando o informaram na travessia da Nicarágua a Cuba, que se dirigiam ao Pantanal de Zapata, conhecedor do que acontecia no lugar, disse: "É o fim! Pois, se num lugar o governo tem influência". Ele foi um dos que desembarcou em Playa Larga e escutou quando os milicianos gritaram: Pátria ou Morte! Viva Fidel Castro!


Além dos batalhões da infantaria, os invasores desembarcaram batalhões de canhões pesados e motorizados, uma companhia de tanques e lançaram um batalhão de pára-quedistas ao amanhecer. O batalhão das Milícias de Cienfuegos, com armas leves, deparou, no amanhecer com os invasores. Após decidir como se movimentaria o batalhão n.o 339, Fidel ordenou o capitão José R. Fernández, junto com o batalhão de Responsáveis pelas Milícias, ir de Matanzas para Jovellanos, e outro de Matanzas avançar. Ordenou o batalhão n.o 117 de Las Villas ir para Yaguaramas e Covadonga.


Os pára-quedistas invasores foram lançados na retaguarda do batalhão n.o 339, de Cienfuegos, e na retaguarda do batalhão de Las Villas. O comandante-em-chefe ordenou a aviação revolucionária atacar.


Às 5h apenas havia três aviões, estavam faltando peças de reposição aos aparelhos por causa do bloqueio. Por outro lado, onze aviões de diversos tipos foram destruídos pelo bombardeio a suas bases, dois dias antes, no dia 15, por aviões B-26, com insígnias da Força Aérea Revolucionária, tendo a seu favor a vantagem da surpresa.


Fidel falou e pediu pelo telefone que precisava falar com o piloto Enrique Carreras. "Você tem que afundar esses navios!" Foi a ordem.
O capitão Carreras partiu num Sea Fury, seguido de Bourzac. Silva Tablada era o terceiro num B-26. De cima, Carreras assistiu ao espetáculo imponente dos sete ou oito navios e "um dado número de lanchas de desembarque em meio à ação".

Enxergou que um dos navios grandes navegava rumo ao interior da baía, seguido de uma fragata de guerra. Transportava muitíssimas provisões bélicas. As luzes e explosões dos projéteis disparados dos navios tentavam impedir sua passagem, quando arremeteram contra eles. Carreras foi o primeiro a disparar seus foguetes contra o navio Houston. Bourzac e Silva também acertaram. O primeiro navio ficou fora de combate. A fragata de guerra que o escoltava, fugiu quando viu que já tinha sido afundado.


Num segundo vôo, Carreras arremessou seus foguetes contra o navio Río Escondido, acertando no centro. Explodiu e foi destruída boa parte dos suprimentos dos mercenários. Antes de voltar, Carreras, abateu um B-26, mas este ou os aviões antiaéreos inimigos acertaram em seu motor e entorpeceram seu retorno à base.


No fim do primeiro dia, a Força Aérea Revolucionária tinha afundado quatro navios e abatido cinco aviões inimigos. Desde as primeiras horas da manhã, Fidel foi para o front de guerra. Na usina açucareira Austrália explicou a um grupo de oficiais a estratégia a seguir e deu as ordens para as executar.

Combateram ininterruptamente o dia todo.

O Governo Revolucionário emitiu, nesse dia, um comunicado anunciando o desembarque e concluía afirmando:


Avante, cubanos, que a Revolução é invencível e contra ela e contra o povo heróico que a defende, todos os inimigos se vão estatelar!

Agora, gritemos com mais força e firmeza que nunca antes, quando muitos cubanos ja estão se imolando no combate:
VIVA CUBA LIVRE! PÁTRIA OU MORTE! VENCEREMOS!
Fidel Castro Ruz
Comandante-em-chefe e primeiro-ministro do Governo Revolucionário

18 de abril

O segundo dia de combate começou de madrugada com um ataque de nossos tanques a Playa Larga, apoiados pelo fogo da força antiaérea. Na véspera, boa parte das forças não puderam ser usadas por causa da aviação inimiga.


Além dos batalhões das milícias, que iniciaram a defesa ativa, com o objetivo de derrotar os invasores, o de Cienfuegos, o de Matanzas, o de Responsáveis pelas Milícias e o de Las Villas, Fidel mobilizou as colunas um e dois do Exército Rebelde, uma companhia de tanques, baterias antitanques, quatro baterias de obuses de 122 e o batalhão da Polícia.


Contudo, o inimigo dominava o céu com seus B-26 e as baterias chegaram a pontos determinados e esperaram o anoitecer para se deslocarem, pois a aviação revolucionária era usada para destruir os navios e não podia proteger estas forças quando avançavam pelas vulneráveis estradas.


O Batalhão de Responsáveis pelas Milícias foi protegido com dois aviões no momento em que vinha de Matanzas, a fim de que conseguisse chegar.

Foi dada a ordem que os onze homens que defendiam a usina açucareira Covadonga resistissem até os reforços chegarem e fizeram assim. O mesmo aconteceu na usina açucareira Austrália.

O balanço mais importante do primeiro dia foi a proeza incrível da aviação revolucionária. Com poucos aviões (a terça parte dos da força inimiga e dez pilotos, sem substitutos, sem peças de reposição, afundaram metade da força naval inimiga, abateram cinco aviões e deram proteção aérea à infantaria visando manter a cabeça-de-praia do oeste do Pantanal de Zapata.


O Batalhão de Responsáveis pelas Milícias atacou, durante toda a noite do dia 17 de abril, Playa Larga pela larga estrada, uma vez que era a única maneira de atravessar o Pantanal. Avançavam heroicamente, pois a aviação inimiga arremetia constantemente contra eles. No entanto, ao amanhecer, chegaram as baterias antiaéreas, as de obuses e os tanques.


Na meia-noite, a bateria de obuses do batalhão n.o 122 começou a atacar Playa Larga e, de madrugada, os tanques avançaram até a praia.
Ao amanhecer, o batalhão n.o 111, que estava na usina açucareira Australia, recebeu também a ordem de avançar rumo à ilhota Cayo Ramona, que estava na posse do inimigo, e situar-se na retaguarda deste. Um batalhão virou em Buenaventura e foi para Playa Larga.

Fidel ordenou também fazer outros movimentos de tropas: uma companhia de tanques iria para Yaguaramas, com vista a que estivesse ali no dia 18, à noite. Quatro baterias, duma força da artilharia do batalhão n.o 122, iria a Covadonga, uma companhia de tanques pesados, de reserva, para Yaguaramas. Outra companhia de tanques seria empregue no dia, de manhã. E uma coluna especial de combate e o batalhão da Polícia já tinha entrado pela usina açucareira Austrália, em Playa Girón.

No flanco inimigo

 

Os invasores viam o combate da maneira seguinte: "…quando anoiteceu (no dia 17), começaram a chegar os tanques de Fidel. Então, as pessoas olhavam umas para outras, e diziam: Porém, o que se passa aqui? Onde é que estão os milicianos que se juntariam a nós?… No dia seguinte, nos mandaram a Playa Girón a cobrir a retirada, para que todo mundo fosse embora, e nos mandaram depois…"

Um dos pára-quedistas invasores, Antonio Fernández Álvarez, narrou tudo que aconteceu, no amanhecer do dia 18, no flanco inimigo:
"Por volta das 7h ou 7h10, a mesma milícia que tinha atacado a primeira avançada, atacou de novo, mas nesta ocasião, com obuses, os já conhecidos obuses 120 e quando acertaram em nossas primeiras trincheiras e feriram alguns de nossos companheiros, Alejandro del Valle (chefe dos pára-quedistas) ordenou a retirar-se para outro lugar que chamavam de Dois Vías, sei lá qual seu nome verdadeiro, num lugar em que há um povoado muito pequeno e um cruzamento de estradas.

"As tropas se posicionaram de novo em trincheiras para esperar o inimigo, mas chamaram para que viesse resistir outro batalhão, pois o pessoal estava um pouco descontente. Disseram que as tropas seriam revezadas, que o combate não seria contínuo, que não combateriam… mandaram outro batalhão a Dois Vías e aí travaram outra batalha. De novo, a retirada por causa da artilharia. Todo mundo já se retirava para a praia".

Enquanto isso, em Havana e noutros lugares do país, os órgãos da Segurança do Estado, apoiados eficazmente pelos Comitês da Defesa da Revolução, detinham, por um lado, bandos fichados, e por outro, faziam detenções preventivas dos suspeitos que podiam cooperar com o inimigo.

Desde o dia 15, foi anunciada a detenção de um bando em Pinar del Río, comandado pelo norte-americano Howard Frederick Anderson, proprietário do parque de diversões Coney Island, situado na praia de Marianao. Confiscaram ao bando, integrado por 15 pessoas, oito toneladas de armas, que tinham sido escondidas num lugar chamado Las Furnias, em Pinar del Río.


Anderson era agente da CIA e possibilitou o contato do bando capitaneado por Joaquín del Cueto, ex-tenente do exército da tirania de Fulgencio Batista, com um funcionário da embaixada dos EUA, oficial da CIA, conhecido como mr. Avignon, que antes da ruptura das relações, era um dos que dirigia as ações subersivas internas.


O centro de enlace era um armazém, situado nas ruas 70 e 29-F, no bairro Marianao. Foram recebidas oito toneladas de armas em 22 de fevereiro de 1961, vindas dos Estados Unidos num navio norte-americano que veio até as costas de Pinar del Río. Entre essas armas, havia 40 caixas de rifles, 12 caixas de fuzis automáticos, 18 caixas de metralhadoras Thompson, 18 caixas de metralhadoras calibre 30, cinco caixas de bazucas e cinco de morteiros, uma caixa de dinamite de plástico, entre outras.


No dia 17, os Comitês da Defesa da Revolução detiveram o padre Eduardo Boza Masvidal, renomado líder contra-revolucionário, confiscando na igreja grande quantidade de propaganda e remédios, com os quais contrabandeava.

A solidariedade internacional, por seu lado, se alastrava pelo mundo. Dela, duas expressões são eloqüentes: o ex-presidente do México, general Lázaro Cárdenas, se aprontava para vir a Cuba e combater junto ao povo cubano.

Quando o chanceler Raúl Roa deu a notícia na Assembléia Geral da ONU, provocou grande impacto. E da longínqua União Soviética, que tinha fortemente impressionado o mundo nesses dias com a façanha cósmica de Iuri Gagarin, o qual tornou mais respeitáveis os foguetes da URSS, o governo enviou uma mensagem ao governo dos Estados Unidos, manifestando a indignação de seu povo e advertindo: "…ninguém deve se confundir em relação à nossa posição: prestaremos a ajuda necessária ao povo cubano e a seu governo para fazer face à agressão armada a Cuba".

19 de abril


No dia 19, pela manhã, a terceiro da invasão, as forças revolucionárias começam a atacar Playa Girón com artilharia, tanques e infantaria. Outras tropas, com as mesmas armas, combatem para a tomada de San Blas e conseguem ocupá-lo entre as 9h30 e 10h. Depois disso, fizeram um forte ataque de artilharia contra as posições no povoado de Girón.


Às 14h40, quando as forças cubanas se encontravam a dois quilômetros e meio de Girón, apareceram dois contratorpedeiros da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, que haviam escoltado a frota invasora, da Nicarágua a Cuba.

Após dez minutos, um número considerável de lanchas, botes a motor e outras embarcações, saíram donde estavam os navios para terra. O capitão Fernández, que se encontrava nesse lugar à frente da tropa cubana, pensou que era outro desembarque e deu a ordem de fazer fogo. Algumas embarcações iam da costa aos navios.

Um avião cubano chegou e fez fogo contra as lanchas e botes. As embarcações que iam para terra, tiveram que voltar aonde se encontravam os contratorpedeiros.


Posteriormente, um dos prisioneiros, filho de José Miró Cardona, declarou que em Girón continuavam combatendo, ao passo que informaram, de súbito, que a chefia dos invasores tinha ido embora. Em seguida, eles se desorganizaram. Os contratorpedeiros da Marinha de Guerra dos EUA tentaram evacuar San Román e outros, mas tudo fracassou.


O presidente dos Estados Unidos foi compelido pela CIA e pelos líderes contra-revolucionários Miró Cardona e Tony Varona para as forças estadunidenses intervirem diretamente no país. Ciente das sérias conseqüências que traria, Kennedy refugou. Em seu lugar, permitiu que as unidades navais norte-americanas fossem evacuar os invasores.


Horas antes, autorizou também proteger o último bombardeio dos B-26, com os aviões a jato do porta-aviões Essex, que estava perto, como membro da escolta da força invasora.
Os aviões da Marinha de Guerra dos Estados Unidos chegaram mal coordenados, depois da incursão dos B-26. Nesse dia, foram abatidos mais cinco aviões inimigos, que completam dez no total. Quatro desses últimos pilotos eram norte-americanos contratados pela CIA, pois os de origem cubana se recusaram a prosseguir.

Um deles era Leo Francis Baker, de Boston. O governo estadunidense começou a dar uma mesada de US$ 245 quinzenais às quatro viúvas.

No total, foram derribados 12 aviões B-26 invasores.  Em Playa Girón, a última resistência dos mercenários foi com dois tanques. Ao ficarem sem comando, se renderam.

Fidel ordenou organizar um cerco e ir prendendo os inimigos que fugiam e os sobreviventes dos navios afundados. Um deles, Ulises Carbó, filho do ex-proprietário do jornal Prensa Libre, de Havana, estava a bordo do Houston que foi afundado. Nadou, bem como outros membros desse batalhão que não conseguiram desembarcar, graças à pontaria e à coragem da aviação revolucionária, chegou à costa e fugiu durante onze dias, até se render aos milicianos.


Enquanto isso, os membros do flamejante Congresso, fachada da invasão, foram encerrados numa base aérea deserta em Opa-Locka, Flórida. Arthur M. Schlesinger lá foi vê-los, sob as ordens de Kennedy. Foi recebido pelo oficial da CIA, Frank Bender, de origem alemã. O relato de Schlesinger é uma gostosa tragicomédia:


"Levou-nos com sigilo evidente a um carro que estava estacionado perto dali. Viajamos um tempo. Depois, paramos frente a um posto de hambúrguer, onde deparamos com um segundo carro. A gente começava a sentir que era uma personagem de um filme de Hitchcock. Então, reiniciamos nossa viagem, milha após milha, em meio da estéril paisagem da Flórida. Finalmente, chegamos à bae aérea de Opa-Locka… paramos a uns metros de uma casa de madeira, estranha e indscritível, situada no fundo do acampamento. No lugar, patrulhavam jovens G-1 norte-americanos com revólveres visíveis nas cananas".


Na reunião, Varona acusou a CIA e foi quem mais exigiu a intervenção dos aviões e dos fuzileiros da Marinha dos EUA. Era a figura pura do traidor à Pátria. Schlesinger foi com eles para Washington a fim de se encontrarem com Kennedy.
"Depois de escutar Kennedy, mostraram-se mais submissos do que pela manhã", escreveu Schlesinger em seu livro A Thousand Days: John F. Kennedy in the White House.

Nesse dia 19, de qualquer jeito, a batalha já tinha sido decidida. O saldo da invasão foi de 89 invasores mortos e 1.197 prisioneiros. As baixas revolucionárias foram de 157 mortos. As armas cubanas desferiram uma derrota esmagadora ao inimigo, em menos de 72 horas. Os sonhos da CIA foram por água abaixo.


O centro da CIA em Washington enviou uma mensagem a suas estações no mundo inteiro, em 19 de abril, indicando que informassem da invasão como uma missão de provimento aos revoltados nas montanhas do Escambray. A mensagem tentou esconder a primeira derrota do imperialismo na América Latina, afirmando que a operação de provimento tinha sido um grande sucesso. Era simplesmente ridículo.


Um dos membros da brigada invasora 2506, José Manuel Gutiérrez, em seu comparecimento na televisão após ter sido apreendido, talvez despropositadamente, mostrou uma diferença fundamental, entre os que vieram agredir Cuba, por encargo de uma potência estrangeira, e os que a defenderam.


"No dia seguinte, de manhã, passou um jipe falando: Rendam-se, rendam-se e disparando. E pouco depois, um grupo e eu saímos e nos rendemos. Quem ia no jipe era Fidel e eu disse a um: — Por isso, nós perdemos, porque Fidel está com eles, combatendo no front e os que estavam conosco, os que nos mandaram e nos embaíram, foram embora depois…"

Arthur M. Schlesinger, assessor do depois assassinado misteriosamente ex-presidente Kennedy, escreveu o que a grande imprensa norte-americana não teve coragem de dizer taxativamente: "Na verdade, Fidel Castro foi um inimigo ainda mais formidável e capitaneia um regime melhor organizado do que ninguém imaginou. Suas patrulhas localizaram a invasão quase desde o primeiro instante. Seus aviões reagiram com prontidão e força. Sua Polícia eliminou qualquer vestígio de revolta ou sabotagem atrás das linhas. Seus soldados permaneceram fiéis e combateram corajosamente".

Fonte: Granma Internacional