Caminhada por Recife dá início ao 2º Fórum Social Brasileiro

Começa na tarde desta quinta-feira (20/04), o 2º Fórum Social Brasileiro (FSB) — ou Fórum de Abril. Milhares de pessoas devem participar da Marcha de Abertura, em Recife, cidade-sede deste que é um dos maiores eventos sociai

A concentração para a Marcha de Abertura está programada para as 14 horas de hoje, na Praça do Derby. A caminhada começará às 16 horas e seguirá pela Conde da Boa Vista até a Praça do Carmo. Crianças do MST — as sem-terrinha — estarão na comitiva de frente, carregando a faixa do FSB. O sentido da marcha é mostrar que alternativas para “outro mundo” existem ou podem ser construídas por todos, inclusive por crianças. A chegada está prevista para às 18h30.

Debates e atividades começam na sexta-feira (21), feriado de Tiradentes, e se estendem pelo fim de semana. As atividades autogestionadas ocorrerão na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 21 e 22 de abril em três turnos: das 8 horas  às 11 horas; das 11h30 às 14h30; e das 15 horas às 18 horas. No dia 23, haverá atividades somente no período da manhã, das 8 horas às 11 horas. O encerramento será realizado também em 23 de abril, a partir das 12 horas, no palco do laguinho da UFPE.

Novos desafios –
Se a primeira edição do FSB ocorreu em novembro de 2003 — ainda na euforia da chegada de Lula à presidência da República —, agora as diversas representações da sociedade civil se deparam com uma nova realidade: Lula ainda governa com apoio popular, mas sob ataques caluniosos e reacionários da oposição, que já manifestou até o desejo de “bater no presidente”. É um momento de polarização e de crescente acirramento da luta de classes.

Sem atividades centrais, o FSB será um amplo espaço democrático, dialogando com a experiência brasileira. Em vez de definir os tradicionais eixos temáticos, terá áreas de contato que busquem cobrir todos os aspectos e dimensões da construção do “outro mundo possível”. A antiga “disputa” entre pontos de vista dará lugar à escuta de análises, interpretações e propostas das diferentes pessoas, redes, entidades e movimentos da sociedade civil. Do encontro também deve sair uma agenda comum, fruto da maior articulação dos participantes.

O Fórum é horizontal, autogestionado por seus participantes e autônomo em relação a governos e partidos, como recomendam os termos da Carta de Princípios do Fórum Social Mundial. Partindo do ponto de vista dos movimentos e das redes sociais, procura abranger o maior número de área e setores, a fim de traçar um panorama da realidade sóciopolítica.

Um dos principais temas que está sendo pautado pelas organizações é educação. Na própria Marcha de Abertura, o Bloco da Educação terá como foco o Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).  A manifestação contará com a participação de militantes do Fórum em Defesa da Educação Infantil em Pernambuco, dos comitês nordestinos da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com representantes de creches, mães e crianças em carrinhos. Uma ala defenderá o direito das crianças às creches no Fundeb, enquanto outro segmento sairá  em defesa do piso salarial nacional.

Durante a programação, também haverá o seminário “Semana de Ação Mundial pela Educação”, sobre a valorização dos profissionais do setor. Debaterá  o que a sociedade espera de um educador e o que os educadores esperam da sociedade. Na mesa, estarão representantes da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), da Comissão dos Professores Indígenas de Pernambuco (COPIPE), de universidades, além de dirigentes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Central dos Movimentos Populares (CMP).

Confira abaixo todas as áreas de diálogos do Fórum. Para conhecer toda a programação do evento, acesse http://www.fsb.org.br/atividades.pdf

1. Os sujeitos políticos e suas relações
– Movimentos sociais: suas relações inter e intra-movimentos; com ONGs, com partidos, e com governos
– Papel dos/as intelectuais de esquerda
– Teoria crítica e projetos de transformação
– Os movimentos sociais e a democratização da comunicação: criando novas bases para uma sociedade igualitária
– Refletindo a educação popular e seus desafios para a radicalização da democratização
– Dimensões constitutivas dos projetos políticos dos movimentos sociais – o que queremos mudar e o que queremos afirmar?
– Cultura e identidades
– Gerações, novas formas de sociabilidade e de participação política
– Estratégias para enfrentar a criminalização dos movimentos sociais
– Como a questão da violência desafia os movimentos sociais?
– Enfrentando o pensamento único (fundamentalismo)

2. Projetos de desenvolvimento alternativo ao neoliberalismo
– Desenvolvimento sustentável em contextos de exclusão
– Sistemas econômicos, cidadania e justiça social
– O trabalho no contexto da reestruturação produtiva: redução de direitos de trabalhadoras/es; a divisão sexual do trabalho
– Direito à terra, reforma urbana e reforma agrária
– Soberania nacional
– Alternativas de superação do capitalismo
– As empresas nacionais e sua relação com o capital transnacional
– Quebras de patentes e outras estratégias de enfrentamento do capital
– As lutas dos movimentos sociais em defesa dos bens comuns da humanidade e contra a violação dos direitos das populações atingidas por projetos de desenvolvimento hegemônicos
– Projetos de desenvolvimento, a questão do agronegócio x o direito ao meio-ambiente sustentável
– Desafios e oportunidades para a construção de alternativas aos atuais processos de integração regional
– A interlocução internacional entre agentes do agronegócio e suas conseqüências
– Visões de desenvolvimento e desigualdades de gênero, raça e classe

3. A resistência antiimperialista e alternativas de integração solidária
– Organismos multilaterais, concepções e práticas
– Questões para a integração regional: o respeito à dignidade e aos direitos dos povos

– Geopolítica, guerra e militarização
– Dívida externa e dívida interna
– Tratados de "livre" comércio e comércio com justiça
– Controle de capitais
– As macropolíticas e as identidades locais
– O Custo social do superávit primário
– As políticas dos organismos financeiros multilaterais e sua relação com as políticas públicas governamentais
– A atualização da política agrária do Banco Mundial

4. Democratizar o Estado: por uma nova institucionalidade
Reforma política e combate à corrupção
– Democracia representativa e democracia participativa
– A participação popular: aprofundando mecanismos de democracia participativa e direta
– As políticas de ação afirmativa – uma estratégia de combate às desigualdades sociais
– A democracia exige um Estado laico e não patriarcal
– Desafios da democracia em contextos de extrema desigualdade social estruturada pela articulação entre as dimensões de gênero, raça e classe
– Direitos humanos num mundo em transição: da economia de mercado para a sociedade de mercado
– A quem/a quê servem as políticas de segurança pública?
– Liberdade e democratização da vida social – repensando as relações entre público e privado
– Uma nova cultura de gestão das águas
– Os empreendimentos hidrelétricos no contexto da política de integração regional
– O papel dos parlamentos na construção da democracia e da soberania