PMDB deve deliberar sobre candidatura própria em maio

Documento convocando convenção extraordinária para o dia 13 deve ser entregue ao presidente do partido, Michel Temer (SP), na próxima terça-feira (25). Reunião será teste definitivo para a possível candidatura própria do PMDB.

O ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, terá a oportunidade de testar efetivamente a força de sua candidatura no PMDB antes da Convenção oficial de junho que definirá o rumo do partido na eleição presidencial deste ano. Um documento convocando uma Convenção Extraordinária para o dia 13 de maio está circulando entre os presidentes de diretórios estaduais e integrantes da Comissão Executiva Nacional do PMDB e deve ser entregue ao presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP), na próxima terça-feira (25).

De acordo com o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), 2º secretário nacional do partido, o documento já conta com as assinaturas necessárias para formalizar a convocação (mais de um terço dos diretórios e a maioria dos integrantes da Executiva). “Não podemos esperar até junho para definir se o partido terá ou não candidatura própria à Presidência, isso prejudica as composições que estão sendo feitas no plano estadual na maioria dos estados”, justifica.

A situação dos peemedebistas no Rio Grande do Norte, estado de Alves, exemplifica bem o problema que está sendo enfrentado pelo partido em pelo menos 19 estados. Para tentar impedir a reeleição da governadora Wilma Farias (PSB), o ex-governador Garibaldi Alves Filho (PMDB) está compondo uma frente com o PSDB e o PFL. Com a verticalização, caso o PMDB tenha candidato próprio para presidente, ele não poderá fazer aliança com os partidos que estiverem em coligações nacionais de outros partidos. Isso diminuiria muito as chances de candidaturas majoritárias (governador ou senador) do PMDB no RN, SC, SP, ES, BA, SE, PB, AL, PE, CE, PI, MA, AP, PA, RR, RO, DF, MT e TO.

Prevendo que a tese da candidatura própria sairá derrotada nessa convenção de maio, Garotinho já avisou que pretende disputar a indicação do partido na convenção oficial de junho. No entanto, até lá, a dinâmica das negociações para composição de palanques estaduais já terá atropelado o projeto nacional. A chance do ex-governador é convencer a maioria dos convencionais a votar pela candidatura própria na convenção de maio.

Para a imprensa ele afirma que teria mais de 400 dos 728 votos dos convencionais peemedebistas. Mas, internamente, Garotinho sabe que, mesmo nos estados em que os dirigentes defendem publicamente a candidatura própria do PMDB, o instinto de sobrevivência regional deve prevalecer. Ele tem se esforçado para levar a decisão para junho, na expectativa de alguma alteração no cenário da polarização PT-PSDB. Mas a verticalização foi um golpe duro nas pretensões do ex-governador.

O presidente do PMDB, Michel Temer (SP), continua demonstrando fidelidade a Garotinho, ou à tese da candidatura própria, por dever de ofício. Mas é evidente que entregou os pontos. Temer esperava resolver o assunto com a reunião ampliada da Executiva realizada na semana passada. O lançamento da candidatura do ex-presidente Itamar Franco (MG) pelo ex-governador de São Paulo Orestes Quércia acabou alterando o roteiro e confundindo os coveiros da candidatura própria.

Quem conhece Itamar sabe que ele não gosta de disputar nem par ou ímpar. O que ele gosta é de arrumar confusão quando sente necessidade de exposição na mídia. Itamar quer voltar a ser senador por Minas Gerais. Teria apoio tanto do governador tucano Aécio Neves, quanto em caso de composição com o PT mineiro. Só não tem apoio do ex-governador Newton Cardoso, que manda e desmanda no PMDB de Minas. Newtão já definiu que o candidato ao Senado será o ex-prefeito de Uberlândia Zaire Rezende. Mas Itamar tem tudo para vencer a convenção, se conseguir evitar que Newtão o atropele. Para isso, precisa chamar a atenção para sua candidatura em Minas.

Quércia, por sua vez, também precisa chamar a atenção para o PMDB de São Paulo. O desejo dele é ser parceiro de chapa do PT, seja para o governo ou para o Senado. Mas as duas hipóteses são praticamente impossíveis. Com as prévias entre Marta Suplicy e Aloizio Mercadante marcadas para daqui duas semanas, nem uma bomba atômica seria capaz de impedir a candidatura de um petista ao governo paulista.

No caso da vaga ao Senado, só seria possível se o senador Eduardo Suplicy (PT) abrisse mão da candidatura para puxar votos na coligação para a Câmara dos Deputados. Como essa possibilidade é bem mais do que remota, alguns petistas e comunistas preocupados com a sucessão estadual paulista estão levantando outras composições possíveis para evitar que Quércia seja recebido de braços abertos na chapa tucana do ex-prefeito de São Paulo José Serra. Uma delas seria a aliança do PMDB com o PCdoB, com Quércia e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, fazendo a dobradinha governador-senador, ou vice-versa.

Serra já esticou o tapete vermelho para Quércia, mas o ex-governador reluta em se reaproximar daqueles que saíram do PMDB para fundar o PSDB por causa dele. Para Quércia, essa dissidência foi responsável pelo progressivo esvaziamento da influência da ala paulista na direção nacional do PMDB. Mas, como o ônibus petista não dá sinais de que irá passar no ponto a tempo, Quércia pode decidir entrar no carro de luxo dos tucanos, que está esperando há um bom tempo na avenida da campanha eleitoral.

*Fonte: Agência Carta Maior