1º de Maio: Entidades americanas fazem greve pró-imigrantes

Organizada por entidades sindicais, religiosas e comunitárias dos Estados Unidos, greve transformará Dia do Trabalhador em "Dia Nacional Sem Imigrantes". Haverá eventos em todo o país.

“O 1º de Maio de 2006 nos Estados Unidos será um Dia Nacional Sem Imigrantes. Os politiqueiros antiimigrantes e racistas chamam os imigrantes de ‘carga para a sociedade’, e são eles os que tentam aprovar leis repressivas como a HR4437 e promovem grupos fascistas como os Minuteman. Mas os imigrantes contribuem com bilhões de dólares à economia e recebem quase nada em troca”, afirma o panfleto de convocação da greve nacional de trabalhadores imigrantes organizada por entidades sindicais, religiosas e comunitárias dos EUA que paralisa todo o país no 1º de Maio, Dia do Trabalho.

“A única coisa que estamos dispostos a aceitar é anistia e dignidade para os milhões de trabalhadores sem documentos que na atualidade moram nos Estados Unidos”, acrescenta o documento – distribuído de mão em mão nas portas das estações do metrô, nas principais praças, pela internet e repercutido pelos meios de comunicação não enquadrados pelo governo.

Mobilização –
“Apóie a greve de 1° de Maio! Mostremos ao governo, às corporações e aos politiqueiros racistas que um poderoso movimento popular unificado poderá conquistar os Direitos Civis, os direitos dos trabalhadores e fará história”, conclama o documento. Simultaneamente, está sendo convocado um boicote a nível nacional de compra de produtos de origem norte-americana pela população hispânica.

Nos Estados Unidos, um dos países onde menos se comemora o 1º de Maio, a mobilização é um sinal de novos tempos. Oficialmente lá o feriado não existe, apesar da data lembrar a injusta condenação à morte de oito trabalhadores imigrantes em Chicago, acusados falsamente de conspirar para assassinar um policial em protestos acontecidos em 4 de maio de 1886, que defendiam a jornada de oito horas.

Multidão –
O Dia Sem Imigrantes é o desdobramento de uma das maiores manifestações ocorridas nos últimos anos nos EUA. Centenas de milhares de pessoas marcharam nas últimas semanas em Los Angeles, Dallas, Texas, Chicago, San Francisco, e em mais de 80 cidades dos EUA rejeitando a legislação fascista que o governo Bush tenta aprovar e que pioraria a situação, já sofrível, dos mais de 12 milhões de imigrantes que carregam o serviço agrícola e industrial mais pesado.

O projeto apresentado pelo partido Republicano já foi aprovado em parte pela Câmara Federal, mas precisa passar pelo Senado onde se trava um forte debate sobre a questão. Depois da combativa reação dos trabalhadores e da solidariedade que despertou a proposta dos imigrantes nos próprios norte-americanos, o partido de Bush botou as barbas de molho. Afinal de contas, a comunidade hispânica dos EUA, boa parte dela com direito ao voto, é composta por mais de 40 milhões de pessoas. Sem contar com as centenas de milhares de trabalhadores orientais, árabes e africanos.

Força de trabalho –
Mais de 50% dos imigrantes que trabalham irregularmente nos EUA são mexicanos, diz o jornal La Opinión, a publicação em espanhol mais lida no país.

E não é por acaso. Desde que o México assinou o Tratado de Livre Comércio da América do Norte com Washington e o Canadá, em 1994, cidades inteiras viram desaparecer seus meios de subsistência, fato que provocou o êxodo de milhares de pessoas para o norte, enfrentando os inumanos controles da fronteira. Ao mesmo tempo, o doentio sistema econômico americano demanda o trabalho imigrante.

Estudos da Universidade Nacional do México assinalam que o TLC acabou com grande parte da pequena e média indústria que gerava emprego formal, desarticulou as cadeias produtivas sem criar outras, e causou a desnacionalização do setor da grande indústria voltada para a exportação. Mas, o resultado mais nefasto da “liberdade de comércio” ocorreu no campo.

Dependência –
De ser auto-suficiente e exportador de alimentos básicos, o México passou a importar 40% dos grãos e oleaginosas que consome: entre 1994 e 2000 aumentou em 242 por cento suas importações de arroz, 112 por cento as de milho, 84 por cento as de trigo, 75 por cento as de soja. Nas de origem pecuário, cresceu 247 por cento a importação de carne de boi. Por isso, nos últimos anos se perderam um milhão e oitocentos mil empregos agrícolas e disparou a migração rural, principalmente para os EUA. Nesse período, se calcula o êxodo em 5 milhões de mexicanos e os EUA “resolvem” o problema reforçando a repressão no muro na fronteira.

Os desafios da enorme e inédita mobilização são grandes. É um setor da classe operária e dos trabalhadores que não conta com nenhuma proteção, nem trabalhista, nem legal, nem econômica. Muitos dos líderes das manifestações de 10 de abril foram mandados embora ou ameaçados por causa de sua participação nas atividades. Porém, nos últimos dias, empresários, incluindo grandes empresas comerciais, industriais e agrícolas, que dependem destes trabalhadores, têm apoiado a greve.

As empresas Curaçao e Liborio de Los Angeles, por exemplo, fecharão suas portas na segunda-feira, dia 1º, em apóio à greve. “A mensagem dos trabalhadores imigrantes é muito forte, pode-se perder muito dinheiro, mas somos parte da comunidade”, disse Ruth Garcia, gerente de Publicidade do supermercado Curaçao. Os três mil funcionários da firma terão o dia livre. . "Os imigrantes são bons trabalhadores, como posso ser contra uma reivindicação que é justa?. Se eles forem embora não temos como substituí-los e também eles compram aqui", assegurou Victor Escobar, da rede de restaurantes Pollo Inka.