Avante!: Portugueses comemoraram 32 anos da Revolução dos Cravos

No dia em que se comemorou o 32.º aniversário da Revolução dos Cravos, 25 de abril, reafirmando a sua firme determinação de continuar a lutar para que Abril e a Constituição da República se cumpram, milhares

No dia em que se comemorou o 32.º aniversário da Revolução dos Cravos, reafirmando a sua firme determinação de continuar a lutar para que Abril e a Constituição da República se cumpram, milhares de pessoas manifestaram-se, terça-feira, em Lisboa, do Marquês de Pombal ao Rossio, para exigir uma política alternativa e um novo rumo para Portugal.
 
Na Avenida da Liberdade, a encabeçar o desfile, via-se uma chaimite das oficinas gerais do Exército. Logo atrás, na primeira fila, estavam, entre outros, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, Rosa Coutinho, antigo membro da Junta de Salvação Nacional, Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, e Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP-IN, que foram amplamente saudados pelas pessoas que, como é hábito, não desfilam e ladeiam a manifestação de cravo ao peito e punho cerrado.
 
Porque tudo deve ser feito para que as gerações futuras tenham acesso a uma vida digna e participativa, com direitos e responsabilidades assumidas, na concretização dos ideais do Portugal democrático e desenvolvido, num sinal de esperança e confiança, logo a seguir estava um grupo de crianças da Associação "Pioneiros de Portugal". "Abril é uma criança a sonhar com estrelas no olhar", dizia um cartaz por elas empunhado.
 
Atrás, bem mais crescidos, e em maior número, estava a JCP. "Transformar o sonho em vida", "Pelos direitos da juventude", "Companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço" e "Vamos continuar Abril", lia-se nas faixas e cartazes dos jovens comunistas portugueses.
 
Contra a precariedade
 
Porque as actuais políticas não dinamizam a economia, não impulsionam o sector produtivo e não estão a orientar o investimento para necessidades estruturais que sirvam a população, promovam o emprego e serviços públicos dignos, universais e de qualidade, os sindicatos, Comissões de Trabalhadores e delegações de várias empresas, estiveram, de igual forma, presentes nas Comemorações do 25 de Abril.
 
De olhos postos no 1.º de Maio, que este ano se comemora, em Lisboa, no Estádio Primeiro de Maio, os trabalhadores exigiram melhores salários, a valorização do Salário Mínimo Nacional, o direito à contratação colectiva, a defesa dos sistemas públicos da Segurança Social, a manutenção da água no domínio público e uma Administração Pública moderna e eficiente.
 
"Dignificar o trabalho, cumprir a Constituição de Abril", "Hoje e sempre, a luta continua", "Saúde não é um negócio, não ao fecho dos hospitais públicos", "Comemorar Abril, defender os nossos direitos", "Trabalhadores da OGMA em Luta", "Unidos venceremos! Não ao Pacote Laboral" e "25 de Abril sempre. 32 anos de liberdade. 32 anos de democracia", eram, apenas, alguns dos dizeres que percorreram a Avenida da Liberdade.
 
Também as autarquias, câmaras municipais e juntas de freguesia, elas próprias fruto da Revolução, estiveram presentes. O Movimento Democrático de Mulheres, o Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, a Confederação Portuguesa das Colectividades da Cultura, Recreio e Desporto, que se fizeram acompanhar de um coro alentejano, também se juntaram à iniciativa. De Santa Iria de Azoia desfilou ainda uma marcha popular, já com «cheiro» a santos populares.
 
Nesta jornada de luta, estiveram ainda, com as suas famílias e amigos, a Associação de Praças da Armada, a Associação de Oficiais das Forças Armadas e a Associação Nacional de Sargentos. Estas associações têm, entretanto, agendado para dia 11 de Maio, uma vigília «Pelo Direito à Saúde», nas principais cidades do País.
 
A manifestação contou ainda com representantes da Euskal Herria, associação portuguesa com 11 anos de existência e que apoia o socialismo e a independência do País Basco, da Associação de Amizade Portugal-Cuba e do CPPC.
 
Compareceram ainda, em grande número, os moradores da zona de Chelas que aproveitaram a ocasião para se manifestar contra a actualização de rendas que está a ser imposta pela Fundação D. Pedro IV, actual gestora das casas sociais nos bairros dos Lóios e Amendoeiras.
 
Cumprir promessas
 
Após duas horas, ainda a manifestação não tinha terminado, era, pois, tempo de iniciar as intervenções centrais. No Rossio, onde já se encontravam milhares de pessoas, o coronel Nuno Santos Silva incitou os cidadãos a participarem na vida do País para "obrigarem os governos a cumprir as promessas".
 
"Em Abril se rasgou na História deste povo e deste País uma nova fronteira, ficando para trás a ditadura», disse o oficial, recordando os que sofreram a opressão da ditadura e lutaram pela liberdade, para sublinhar que este balanço «deve estar sempre presente".
 
O antigo oficial do Movimento das Forças Armadas enalteceu ainda o «poder autárquico democrático e mais próximo dos cidadãos» como uma das conquistas do 25 de Abril e criticou as "manifestações de riqueza", a que se associam, segundo disso, "empresas do Estado"
 
Realçou ainda que existem, em Portugal, dois milhões de portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza. Esta iniciativa terminou, ainda com manifestantes a chegar, com a "Grândola, Vila Morena" e o Hino Nacional.
 
"Não ao regresso ao passado"
 
Na cidade do Porto, vários outros milhares de pessoas encheram a Praça de D. João I e ruas circundantes para participar nas comemorações dos 32 anos da Revolução dos Cravos.
 
Aproveitando o sol radioso e o dia quente, a iniciativa arrancou cerca das 16h30 após uma intervenção do responsável pela Delegação do Norte da Associação 25 de Abril, tenente-coronel Ribeiro da Silva, o único discurso do dia nestas comemorações.
 
Na intervenção, a principal crítica foi para o presidente do Governo Regional da Madeira, por ter inviabilizado as comemorações oficiais do 25 de Abril, o que acontece pela primeira vez.
 
Na praça, os participantes ostentavam milhares de cravos verdadeiros e de papel, assim como cartazes com as palavras de ordem que aludiam sobretudo à liberdade de informação.
 
"Direito à informação, direito constitucional", "Pelos direitos de Abril" e "Não ao regresso ao passado" foram algumas das palavras de ordem exibidas, numa alusão ao projecto da Câmara do Porto de limitar a propaganda política na cidade.
 
A concentração decorreu junto ao edifício sede da PIDE/DGS, onde, numa iniciativa da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), foi prestada homenagem aos que durante a ditadura combateram pela liberdade.
 
Os participantes deslocaram-se depois em desfile organizado pela União dos Sindicatos do Porto para a Praça D. João I, num percurso que demorou cerca de 40 minutos, que já se encontrava cheia, e onde após o breve discurso a cargo da Associação 25 de Abril se iniciou as comemorações, com vários grupos musicais.
 
Reproduzido do jornal Avante!