Lula pede ao PT “habilidade para detectar aliados”

"Um PT unido; uma aliança forte com os partidos de esquerda; e a habilidade de detectar na sociedade quem são os nossos aliados e os nossos adversários". Com estas recomendações, em tom de apelo, o presidente Lui

Lula reservou a parte final de sua fala para a questão das alianças, que ficou em aberto no documento aprovado por consenso no Diretório Nacional, visando servir de base aos debates do Encontro. "Prestem atenção numa coisa, neste momento não existe espaço para medo, dúvida ou vacilação: nós temos que saber quem são os nossos adversários; e quem são os nossos aliados", sublinhou.
Além do tom pausado, o presidente ainda enfatizou a opinião com o argumento mais forte que possui para obter do seu partido, no plano nacional e nos Estados, "consciência de um projeto nacional", como ele chamou. "Eu não vou decidir se serei candidato enquanto não tiver certeza. Eu tenho que ter certeza de que nós temos mesmo um projeto nacional. Então, vamos pensar, companheiros", advertiu.
Os motivos da insistência
A insistência presidencial tem seus motivos. O 13º Encontro deve aprovar, por maioria mas sem maiores problemas, uma política de alianças ampla, que se estenda em especial até o PMDB. Porém os mesmos quadros petistas que aprovam em tese o "projeto nacional", na hora de definir as políticas estaduais privilegiam os interesses locais. Um bom exemplo é o Paraná, onde o PT local volta as costas para a reeleição de Roberto Requião, um peemedebista de esquerda, que poderia jogar um papel-chave justo na região onde Lula é menos cotado segundo as pesquisas.
O presidente não citou exemplos concretos, e nem mencionou o PMDB que é o principal embora não o único dos prejudicados pelos acessos de localismo em segmentos petistas. Mas deu o recado de forma que todos os delegados entenderam. Disse estar percebendo "que o discurso feito para mim não é o discurso feito para a base", que há gente "mais preocupada em eleger o deputado" e "não podemos admitir que em cada estado preveleça a idéia do Estado".
Ao frisar a necessidade do PT ter consciência do seu projeto nacional, Lula advertiu que "a nossa correlação política é frágil" e é preciso obter governabilidade no Congresso. Lembrou que em 2002 o PT elegeu 90 deputados (em 513) e 13 senadores (em 81) e precisa portanto de alianças para governar.
"Uma caminhada sem volta"
Lula falou também dos desafios da eleição. Disse que "eles" criaram a CPI dos Correios e a CPI dos Bingos "porque sabem que na disputa democrática não nos derrotarão". Citou uma profusão de fatores econômicos e sociais neste sentido. Mas advertiu: "Se preparem para enfrentar um momento grave. Se preparem porque este ano os adversários vão ser muito mais duros conosco do que nós fomos com eles."
O discurso como um todo, porém, foi de um forte tom otimista. "Nós precisamos preparar uma caminhada sem volta, uma caminhada que não tenha retorno para o retrocesso neste país", afirmou.
A platéia interrompeu várias vezes o presidente com aplausos, gritos de "Lulalá" e "Um, dois, três, Lula outra vez". Irromperam aplausos também quando Lula citou, chamando-os "companheiros", alguns dos petistas atingidos por denúncias de corrupção durante a crise do Velerioduto, como Luiz Gushiken, José Genoino e José Dirceu o mais aplaudido. "um companheiro nosso, na dúvida, ele é nosso companheiro", defendeu o orador.
De São Paulo,

Bernardo Joffily