Lula convoca reunião para examinar nacionalização boliviana

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião para hoje (2), às 11 horas, em Brasília, para examinar a nacionalização dos recursos de petróleo e gás na Bolívia. Segundo a assessoria de imprensa do Minist&eacu

O titular do Itamaraty, Celso Amorim, estava numa reunião em Genebra, Suíça, sobre a OMC, quando surgiu a notícia. O ministro passou 30 minutos ao telefone com o embaixador do Brasil em La Paz, Antonino Mena Gonçalves, para se inteirar sobre a nacionalização. Em seguida, conversou com o presidente Lula, também por telefone. Amorim antecipou sua volta a Brasília para terça-feira (3), mas não estará na reunião de hoje.
Petrobras reage com cautela
A reação da Petrobras foi cautelosa. Seu presidente, José Sergio Gabrielli, que se achava ontem no Texas (EUA), comentou que o decreto possui vários "detalhes que não estão ainda definidos e que precisamos saber o que significa".
O diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cervero, garantiu que o fluxo de gás natural para o Brasil será mantido normalmente, importando cerca de 24 milhões de metros cúbicos por dia. "É preciso destacar que o fluxo de gás para o Brasil está dentro da normalidade", afirmou.

"O decreto é apenas um documento de gestão. Nós continuaremos discutindo as condições de trabalho na Bolívia. Queremos manter a maior normalidade possível no mercado brasileiro, disse Cervero.
A Petrobras ingressou na Bolívia no final de 1995 e é, segundo a estatal brasileira, responsável por 20% dos investimentos diretos no país e por 18% do Produto Interno Bruto (PIB) boliviano. Entre 1997 e 2000, a estatal brasileira construiu o Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Por esse gasoduto, o Brasil importa até 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, 50% do seu consumo.
Para tucano, o culpado é Lula
A reação mais belicosa à medida da Bolívia partiu da oposição. O candidato presidencial tucano, Geraldo Alckmin, disse em Juazeiro do Norte que “o governo tem que salvar a Petrobrás”. Ao seu lado, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disparou que “nada justifica essa ruptura de contrato”. E culpou o presidente brasileiro: “Lula não está tomando nenhuma atitude para defender os interesses do Brasil. Foi ele quem bagunçou a política para a América Latina, criou uma desarmonia total, um verdadeiro caos", disse Tasso. Para ele, "tudo isso é resultado de uma política externa errada do Lula para o continente".
Não deixa de haver certa ironia em ver a oposição conservadora e privatizante acorrer em defesa da grande estatal petroleira, remanescente do processo de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda no último dia 24, o mesmo Jereissati entrava com representação no TSE, negada, queixando-se de que, “prática, a Petrobras malversou recursos”, em sua campanha publicitária sobre a obtenção da auto-suficiência em petróleo.
O decreto de Evo Morales diz que, “no exercício da soberania nacional, obedecendo ao mandato do povo expresso no referendo vinculante de 18 de julho de 2004 e em estrita aplicação dos preceitos constitucionais, nacionaliza-se os recursos naturais de hidrocarboinetos do país”. Ele não impede a continuidade da atividade das petroleiras transnacionais na Bolívia, mas estabelece cotas, de 50% ou 82%, para a participação boliviana no negócio. E dá um prazo de 180 dias para as empresas se adaptarem.
Na Espanha, é Aznar que quer sangue
O governo da Espanha, país de origem da Repsol, a petroleira que possui maiores negócios na Bolívia depois da Petrobras, expressou a esperança de uma “autêntica negociação e diálogo”, para que “se respeitem os direitos de uns e de outros”, evitando “o envio de um sinal negativo” aos investidores. O ministro do Exterior do país expressou sua “mais profunda preocupação” com o decreto da nacionalização.
Já o ex-primeiro ministro José Maria Aznar, do direitista PP (Partido Popular), exigiu que o governo de José Luís Rodríguez Zapatero (do PSOE, social-democrata) “defenda” os interesses da Repsol e que o próprio Zapatero “se empenhe pessoalmente na defesa dos interesses das empresas espanholas no exterior”.
Com agências