Operação Sanguessuga: mais de 50 parlamentares serão investigados

De acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo, a relação de parlamentares citados nas conversas está nas mãos do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Há na lista

A investigação da fraude na compra de ambulâncias, que provocou 46 prisões na quinta-feira através da Operação Sanguessuga da Polícia Federal, inclui menções aos nomes de pelo menos 51 parlamentares, além de 14 ex-parlamentares. Esses nomes estavam na transcrição de conversas telefônicas dos integrantes do esquema. Os grampos foram feitos pela PF, com autorização da Justiça.

De acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo, a relação de parlamentares citados nas conversas está nas mãos do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Há na lista 13 deputados do PP, 11 do PTB, 10 do PL, 8 do PFL, 5 do PMDB e 4 do PSDB. O procurador-geral poderá encaminhar a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo o juiz federal Jeferson Schneider, que enviou a lista a Souza, a maioria dos parlamentares da lista aparece apenas em "simples menção" nas conversas. Há, contudo, trechos em que alguns são implicados no esquema. Os nomes de 2 ex-parlamentares envolvidos já são conhecidos – os de Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Ronivon Santiago (PP-AC), que foram detidos na quinta-feira.

A "Operação Sanguessuga" desmantelou uma quadrilha que comprava ambulâncias ilegalmente. Essa quadrilha, segundo a PF, era chefiada pela família Trevisan Vedion, proprietária de uma empresa de montagem de ambulâncias – a Planam -, e tinha pessoas infiltradas no Congresso, no Ministério da Saúde e em outros órgãos.

Apesar de a PF não divulgar o nome de todos os investigados, parlamentares que tiveram assessores e ex-assessores presos também são considerados suspeitos de participação no esquema. Pelo menos nove deputados e um senador tiveram assessores envolvidos no escândalo.
Já os ex-deputados Carlos Rodrigues (sem partido-RJ) e Ronivon Santiago (PP-AC) foram presos durante a operação. A PF tem informações de que eles receberam propina para facilitar a ação da quadrilha no Congresso.
Bispo Rodrigues, como é mais conhecido, apresentou-se espontaneamente na superintendência da Polícia Federal em Brasília ontem, por volta do meio dia. Logo em seguida, o PL anunciou a expulsão do ex-deputado.
Além do envolvimento com a venda ilegal de ambulâncias, pesa também contra Rodrigues a acusação de que teria recebido recursos do valerioduto, motivo que o levou a renunciar no ano passado. Ronivon também deixou a Câmara no ano passado, após ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusado de compra de votos nas eleições de 2002. Em 1997, o acreano renunciou ao mandato após a revelação de conversas nas quais disse ter recebido R$ 200 mil para votar a favor da emenda que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Ambulâncias 110% mais caras
O primeiro passo da quadrilha era fazer contato com prefeitos interessados na compra de ambulâncias sem depender dos trâmites legais. A partir daí, os chefes do esquema acionavam assessores parlamentares, que preparavam emendas ao Orçamento da União, posteriormente apresentadas pelos congressistas. Essas emendas solicitavam convênio com a Planam e verba para o fornecimento de ambulâncias.
Após a aprovação da proposta em Plenário, cabia a Maria da Penha Lino, assessora do Ministério da Saúde, viabilizar a liberação da verba, segundo a denúncia. As ambulâncias eram entregues até 110% acima do preço normal de mercado e sem os equipamentos necessários para o atendimento de emergência. Ao todo, foram vendidos mil veículos no esquema desde 2001. Estima-se que a quadrilha tenha movimentado mais de R$ 110 milhões.
A PF iniciou as investigações em 2004 e, com o auxílio da Receita Federal, identificou 22 empresas fantasmas montadas para dar aparência de veracidade às concorrências para venda das ambulâncias. Foram quebrados, com a autorização da Justiça, os sigilos bancário e telefônico de 60 pessoas. Com base nessas informações, os envolvidos foram identificados.
As ações da Operação Sanguessuga tiveram início às 6h, em seis estados e no Distrito Federal, e foi coordenada pelo delegado Tardeli Boaventura, diretor-regional da PF em Mato Grosso.
Devassa nos gabinetes
Logo após o cumprimento dos primeiros mandados de prisão da "Operação Sanguessuga", parlamentares que tinham assessores envolvidos na fraude decidiram cobrar explicações dos funcionários.
O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) decidiu afastar qualquer rumor de seu gabinete. De prontidão, exonerou um de seus assessores, Marcelo Cardoso Carvalho, preso durante a manhã. O parlamentar disse que ficou surpreso com a notícia e que vai manter o funcionário afastado até o fim das investigações.
O deputado João Mendes (PL-RJ) exonerou o assessor parlamentar Régis Moraes Galheno, outro envolvido com a quadrilha.
No Ministério da Saúde também houve demissões. O órgão divulgou nota no meio da tarde para informar que pedira a exoneração de todos os envolvidos no superfaturamento das ambulâncias. Dessas, apenas uma era do quadro do ministério: Cassilene Ferreira dos Santos, que terá de responder a processo administrativo, perderá a gratificação e deverá ser demitida por justa causa.
Outro funcionário, Jairo Langoni de Carvalho, foi exonerado no final do ano passado. Maria de Penha Lino, assessora do ministro Jorge Agenor Álvares da Silva, e apontada como uma das principais articuladoras do esquema, teve o ato de exoneração expedido.
O que dizem os parlamentares
Os congressistas que não demitiram assessores presos na operação da PF deram explicações durante a tarde. A assessoria de Vieira Reis (PRB-RJ), cujo assessor Cristiano de Souza Bernardo está entre os envolvidos na fraude, informou que o deputado está procurando mais informações para saber o que aconteceu. Cristiano, segundo informações da assessoria, já trabalhava na Câmara antes de Vieira Reis assumir o mandato em 2003.
O deputado Maurício Rabelo (PL-TO) informou, pela assessoria, que Luiz Carlos Moreira Martins, outro preso, não tem vínculo com seu gabinete. Segundo o gabinete de Rabelo, Martins é consultor autônomo e atua na Câmara prestando serviços para diversos parlamentares.
A assessoria de Nilton Capixaba (PTB-RO) informou que o deputado está próximo à fronteira com a Bolívia, em local de difícil comunicação, e ainda não foi informado sobre a prisão de seu assessor Francisco Machado Filho.
O deputado Benedito Dias (PP-AP) afirmou que Erik Janson Sobrinho de Lucena, inicialmente citado como seu assessor parlamentar e também preso, não trabalha mais com ele "há mais de três anos". Segundo a PF, Lucena seria empresário.
Já o deputado Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE) disse que Adarildes Costa, também presa na operação da PF, trabalha com ele há quase sete meses. "Estou convicto que qualquer coisa que ela tenha feito, que eu não sei o que foi, não teve nada de escuso com o gabinete", disse Pedro Ribeiro.
A deputada Elaine Costa (PTB-RJ), cujos assessores Marco Antonio Lopes e Nívea Martins de Oliveira também foram presos na operação da PF, está de licença médica. No gabinete do deputado Eduardo Seabra (PTB-AP), a informação era que ele tinha viajado e que tentariam um contato com ele nesta sexta-feira.
Entre os presos está Wilber Corrêa da Silva, que trabalhou na liderança do PMDB na Câmara entre 2001 e 2003. O líder à época, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), disse desconhecê-lo. "A liderança tem 200 funcionários, é difícil conhecer todo mundo, mas se ele errou, tem que ser preso."

Comissão fará levantamento

O presidente da Comissão de Orçamento do Congresso, deputado Gilmar Machado (PT-MG), deve divulgar na próxima terça-feira um levantamento com os nomes de deputados e senadores que apresentaram emendas ao Orçamento da União para a compra das ambulâncias. A relação será entregue à Polícia Federal e ao Ministério Público para ajudar nas investigações da "Operação Sanguessuga".

Segundo Machado, a partir desse material será possível rastrear os recursos usados na compra de veículos da empresa Planam.

A divulgação das emendas é a primeira iniciativa do "núcleo de ação" criado por Machado para acompanhar a execução do Orçamento. O núcleo terá como função acompanhar a execução dos recursos orçamentários e eventuais interferência ou participação de funcionários dos ministérios para facilitar a liberação das verbas.

Rebelo examinará documentos

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) vai examinar neste fim de semana os documentos relativos às investigações da Polícia Federal. "As denúncias são muito graves, porque a Câmara tem o papel constitucional de fiscalizar os recursos públicos. E quando funcionários da Casa e até parlamentares são envolvidos nesse tipo de denúncia, é evidente que a Câmara tem de adotar uma providência rigorosa, tanto em relação ao funcionário, quanto em relação aos parlamentares envolvidos nas ilicitudes", afirmou Rebelo, em declaração feita no Paraguai e transmitida por sua assessoria.

Rebelo chegará amanhã em São Paulo, onde deverá conversar com assessores jurídicos, pessoalmente ou por telefone, e decidir os procedimentos que serão adotados. A Polícia Federal informou o presidente da Câmara, na noite da última quarta-feira, que faria prisões de assessores da Casa.
Morte sob encomenda
Nas investigações, a Polícia Federal registrou duas conversas em que integrantes da bancada da fraude tramam a morte de pelo menos duas pessoas. Num dos diálogos, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, um dos donos da empresa Planam apontado pela PF como o chefe da organização, acerta com Francisco Machado Filho, o Chico, assessor do deputado Nilton Capixaba, a morte de um jornalista do Correio Braziliense.

Na conversa, gravada no início da tarde do dia 23 de dezembro, Vedoin pergunta a Chico se um repórter do Correio estava mesmo em Rondônia. O jornalista estaria fazendo uma reportagem sobre direcionamento de verbas do Orçamento da União para compra fraudulenta de ambulâncias.
Em outro trecho, uma mulher reclama com Vedoin por que o empresário teria mandado matar um prefeito. A polícia acompanhou de perto os passos dos suspeitos. Mas as tramas não chegaram a ser postas em prática.

Confira abaixo a lista dos deputados que serão investigados. A relação foi divulgada pelo site do jornalista Cláudio Humberto.
Alceste Almeida (PTB-RR)

Amauri Gasques (PL-SP)

Benedito de Lira (PP-AL)

Benedito Dias (PP-AP)

Carlos Rodrigues (PL-RJ)

César Lauro

Cleonâncio Fonseca (PP-SE)

Edna Macedo (PTB-SP)

Elaine Costa (PTB-RJ)

Enivaldo Ribeiro (PP-PB)

Fernando Gonçalves (PTB-RJ)

Heleno Silva (PL-SE)

Irapuan Teixeira (PP-SP)

Isaías Silvestre (PSB-MG)

Itamar Serpa (PSDB-RJ)

Gilberto Nascimento (PMDB-SP)

João Batista (PFL-SP)

João Caldas (PL-AL)

João Correia (PMDB-AC)

João Magalhães (PMDB-MG)

João Mendes de Jesus (PSB-RJ)

José Divino (PRB-RJ)

José Militão (PTB-MG)

Junior Betão (PL-AC)

Laura Carneiro (PFL-RJ)

Lino Rossi (PP-MT)

Eduardo Seabra (PTB-AP)

Marcos Abramo (PFL-SP)

Mario Negromonte (PP-BA)

Mario Nunes (PFL-BA)

Mauricio Rabelo (PL-TO)

Nélio Dias (PP-RN)

Newton Lima (PTB-SP)

Nelson Bornier (PMDB-RJ)

Nilton Capixaba (PP-RO)

Osmânio Pereira (PTB-MG)

Paulo Magalhães (PFL-BA)

Paulo Baltazar (PSB-RJ)

Pedro Henry (PP- MT)

Pedro Ribeiro (PMDB-CE)

Raimundo Santos (PL-PA)

Reginaldo Germano (PP-BA)

Ribamar Alves (PSB-MA)

Ricarte de Freitas (PTB-MT)

Robério Nunes (PFL-BA)

Ronivon Santiago (PP-AC)

Silas Câmara (PTB-AM)

Severiano Alves (PDT-BA)

Thelma de Oliveira (PSDB-MT)

Vieira Reis (PRB-RJ)
Welington Roberto (PL- PB

Da redação,
com informações das agências