Jornalistas destacam Gabeira, Cardozo e Aldo como os ''melhores'' deputados

Enquete realizada pelo site Congresso em Foco apontou os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ), José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) como os "melhores parlamentares no exercício de mandato". Participaram da enquete jornalist

Foram consultados 20 jornalistas, de diferentes veículos de comunicação. Sob o compromisso de que suas indicações seriam mantidas em sigilo, eles citaram espontaneamente até dez parlamentares em cada Casa. Cada um votou de acordo com seus próprios critérios, sem que o entrevistador sugerisse qualquer nome de parlamentar.

Na Câmara, dos 513 deputados, apenas 49 foram citados pelos jornalistas.

Gabeira recebeu nove indicações, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) conquistou a segunda colocação com oito votos, seguido de perto pelo presidente da Casa, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que ficou em terceiro com sete indicações.

O deputado Gabeira diz que "hoje em dia é muito complexo ser um bom parlamentar", pois os trabalhos estão se resumindo à apuração de denúncias. Mas, numa situação normal, Gabeira define o bom parlamentar como aquele que é "fiel ao seu programa e à sua base". "É aquele que traz o programa (de campanha) e consegue realizá-lo", pensa ele.

O deputado José Eduardo Cardozo foi muito elogiado pela maneira como conduziu o trabalho de sub-relator da Subcomissão de Contratos da CPI dos Correios. "Vi que a melhor forma de defender meu partido era apurar toda a verdade, foi isso que orientou meu trabalho na CPI", conta o deputado.

O deputado Aldo Rebelo, que tem se destacado também como um dos "cabeças do Congresso" nas listas do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), não comentou a enquete. Mas o site Congresso em Foco registrou que Rebelo, assim com o o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), "receberam votos (dos jornalistas) pelas mesmas qualidades: a capacidade de buscar acordos políticos e costurar alianças sem se indispor com partidos ou pessoas".

Os dois foram descritos por vários jornalistas como "pacientes e tolerantes". Aldo é agora "um dos parlamentares mais influentes no Congresso Nacional", diz o site.

Os mais votados no Senado

Entre os 81 senadores, 20 obtiveram votos dos jornalistas. Aloizio Mercadante, o mais citado, recebeu dez votos. Em segundo lugar, ficou o polêmico senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), com oito indicações, seguido pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM) na terceira posição, com sete votos. Arthur Virgílio entrou na lista porque, na opinião do jornalista Otávio Cabarl, da Veja, o senador tucano "tem as melhores frases contra o governo".

"Os jornalistas que cobrem o Congresso Nacional são muito críticos, observadores e atentos e, por isso, essa referência é uma das grandes motivações da minha vida pública" disse o senador Aloizio Mercadante.

Entre os vinte senadores citados, compareceram duas mulheres: Heloísa Helena (Psol-AL), a mais votada, e Ideli Salvatti (PT-SC).

Entre as deputadas, Denise Frossard (PPS-RJ) e Perpétua Almeida foram as mais votadas, mas outras quatro mulheres foram lembradas: Luiza Erundina (PSB-SP), Luciana Genro (Psol-RS), Maria do Carmo Lara (PT-MG) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

Apesar da crise política que abalou o governo e o Partido dos Trabalhadores no ano passado, o PT foi a legenda com maior número de parlamentares que receberam votos na enquete, 18. O PSDB ficou em segundo lugar (12) e o PFL em terceiro (9). Com cinco nomes de congressistas indicados, o PMDB, um dos maiores partidos do Congresso, ficou atrás do PDT e empatado com o Psol e o PSB. Em seguida, vieram o PCdoB (4); o PPS e o PTB (2 cada); e o PV e o PP (cada qual com um parlamentar citado).

A enquete

"A idéia da enquete nasceu da vontade deste site de distinguir os parlamentares mais bem conceituados num momento em que o Parlamento passa por uma grave crise de credibilidade por conta dos sucessivos escândalos que o atingem", diz o jornalista Paulo Henrique Zarat, idealizador da enquete.

"Em meio à tanta lama, quem se salva? Era essa, em outras palavras, a pergunta que gostaríamos de responder, tentando fornecer elementos ao eleitor para exercer seu direito de voto com mais informações e consciência", completa.  

Na enquete, que não tem valor científico, foram colhidas as opiniões de jornalistas dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Correio Braziliense; das revistas Veja, Isto É, Época e Primeira Leitura; das emissoras de televisão Globo News, TV Record e TV Bandeirantes; das agências Senado e Câmara; e ainda da Rádio Difusora de Goiânia e do Sistema RBS de Rádio. Foram ouvidos ainda o jornalista Antônio Augusto de Queiroz, que acompanha a Câmara e o Senado para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e o diretor do Congresso em Foco, Sylvio Costa.

Os entrevistados tiveram ampla liberdade para definir os critérios que nortearam suas escolhas. Mas, durante as entrevistas, ficou claro que o quesito honestidade teve grande peso nas indicações. "É inconcebível que um parlamentar, por mais atuante que seja, por melhor que discurse, esteja envolvido em caso de corrupção", destacou o repórter Otávio Cabral, da revista Veja.

Mas outros pré-requisitos lembrados foram "coerência de discurso", "apreço pela democracia" e "respeito pelo voto do eleitor". Houve ainda o que poderíamos chamar de "voto técnico"…

O bom parlamentar
Mas, o que o bom parlamentar faz melhor que os demais? Que características possuem? Essas e outras perguntas foram feitas aos jornalistas e aos próprios parlamentares vencedores da enquete.

Uma das qualidades apontadas pelos jornalistas como fundamental é a capacidade de pensar o Brasil como um todo, não ficar focado somente em sua base eleitoral. Obviamente, ele precisa representar o seu estado e os eleitores que nele votaram, mas sem se tornar míope em relação ao contexto nacional ou mesmo global.

Outro aspecto ressaltado é que o bom parlamentar apresenta idéias capazes de melhorar o funcionamento do Estado ou produzir reflexos positivos na sociedade. "O bom político é aquele que tem espírito público, que não apresenta emendas só para satisfazer interesses pessoais, o que é raro hoje", disse Cristiana Lobo, comentarista da Globo News.

Além disso, "o bom parlamentar deve ter liderança, engajamento e identificação com a chamada alta política e menos envolvimento com a pequena política", comenta Rudolfo Lago, da IstoÉ. Alta política, aqui, seria aquela que envolve as políticas públicas que definem os rumos do Brasil. Já a pequena política é aquela praticada por meio do fisiologismo, pela concessão de votos por cargos no governo e pelo clientelismo.
Da redação, com informações do site Congresso em Foco