Trabalhadores do sistema financeiro lançam a Contraf

Por nova estratégia sindical, bancários e outras categorias do sistema financeiro fundam confederação, que se contrapõe à estratégia de segmentação adotada pelas empresas do setor para reduzir

Você já andou pelas ruas das principais cidades do país e foi atacado por um funcionário de financeira perguntando se “quer fazer um crédito hoje”? Entrou numa agência bancária e alguém tentou vender seguro, fazer título de capitalização? E já recebeu a indecente proposta de cheque especial ou rolar a dívida de cartão de crédito a taxas de apenas 10% ao mês?

Se escapou, sorte. Se não, saiba que esse filme de terror para o bolso não tem apenas uma empresa por trás, mas sim várias dos mesmos donos. Apesar de a propaganda falar de bancos completos, na verdade são várias empresas organizadas sob o guarda-chuva de uma holding Cartão de crédito, empresa de seguros, financeiras e, até mesmo, o banco.

E essa estratégia de segmentação tem, entre seus principais motivos, passar por cima de direitos trabalhistas. Explica-se. Os bancários, por conta da legislação e por serem uma das categorias mais organizadas, tem a maior média salarial do país, em torno de 2.500 reais, e jornada de trabalho de 6 horas, entre outros direitos.

Para burlar isso, os bancos criaram diversas empresas, como financeiras em que, apesar de fazer empréstimos, os funcionários são registrados como promotores de crédito e têm salários menores e jornadas de trabalho maiores. Com esses estratagemas, houve uma queda significativa dos postos de trabalho da categoria. Se, na década de 1980, o setor empregava cerca de 1 milhão de trabalhadores, hoje, os bancários não passam de 400 mil no país.

Para contrapor-se a essa estratégia, foi criada uma confederação sindical, a Contraf, que não aglutinará somente uma ou duas categorias profissionais, mas sim todos os que trabalham no sistema financeiro. A lógica não é representar apenas os 400 mil, mas sim de 1,5 a 2 milhões de trabalhadores do sistema.

“Há muito tempo estamos discutindo na CUT a criação da representação por ramo de atividade para nos contrapormos à estratégia dos grandes grupos financeiros, que usam as mais diversas artimanhas para reduzir direitos dos trabalhadores. Se tentam nos dividir, nos unimos novamente numa estrutura mais ampla”, afirma Vagner Freitas, presidente da Contraf.

A confederação foi criada em janeiro, numa assembléia realizada no Paraná, e aglutinou nove federações, com 110 sindicatos filiados, cuja base é composta por 360 mil trabalhadores do ramo financeiro. “Estamos num momento histórico, em que nasce uma entidade ampla, representante de diversos segmentos sociais. E dentro da estratégia da CUT de ampliar a representação dos trabalhadores, enfrentando os diversos artifícios usados pelas empresas, como terceirização e segmentação de atividades”, conclui.

Se para passar por cima dos direitos trabalhistas os bancos se segmentam, na hora de defender seus interesses é o contrário. Embora há décadas exista a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), recentemente surgiu a Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif), que representa bancos e empresas que, dizem, não são bancos.

Para o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino, a Contraf representa a consolidação da política de contratação dos trabalhadores do sistema financeiro nacional e o fortalecimento da categoria. “Já fomos a primeira categoria profissional a conseguir uma convenção coletiva em todo o país e também estamos construindo a primeira representação por ramo de atividade. Passo importante na defesa dos direitos dos trabalhadores”, assegura.

Por Frédi Vasconcelos (Revista Fórum)