9º Concut: Para Wagner Gomes, falta ''projeto de nação'' à CUT

O metroviário Wagner Gomes corre por fora na disputa pela presidência da CUT. Membro da Corrente Sindical Classista (CSC) e vice-presidente da central, ele acredita que a gestão atual não foi bem-sucedida, num primeiro momento, ao busc

Mas a situação, segundo Wagner, melhorou em seguida. A CSC, de todo modo, lança candidatura própria por entender que a central pode contribuir mais — e melhor — na realidade brasileira.

“A CUT, além de sua função sindical, não pode se eximir de ter um projeto de nação e mobilizar os trabalhadores para defender esse projeto”, afirmou Wagner, em entrevista ao Vermelho. O metroviário também destacou as singularidades da CSC nos debates travados no seio da CUT.

Leia as principais declarações do sindicalista.

A CUT evoluiu como entidade representativa dos trabalhadores na gestão que se encerra nesta semana?

Uma das dificuldades dessa gestão foi que, pela primeira vez, a CUT se defrontou com um grande dilema: como atuar durante o governo Lula? Como manter a central sindical cumprindo seu papel, mas, ao mesmo tempo, num governo que ela ajudou a eleger? A nossa avaliação é que, na primeira metade da gestão, tivemos dificuldade em ter essa clareza. Do meio para o fim, a CUT melhorou. Achamos que foi dado o avanço de cumprir papel enquanto representante dos trabalhadores — e ainda ajudar o país a tocar com um governo popular. Na nossa opinião, ficou longe do ideal. Em se consolidando a vitória do Lula, a CUT tem de estar mais presente nas lutas do que esteve. Vai ser o grande diferencial num eventual reeleição de Lula.

A CUT perdeu autonomia?

Acho que não perdeu, mas deixou de jogar um papel importante. Uma central sindical do porte da CUT não pode se ater só ao papel de uma simples representante dos trabalhadores nas questões do dia-a-dia, do salário — as questões econômicas. Faltou, nesse período, ter um papel muito claro a respeito de nação. A CUT, além de sua função sindical, não pode se eximir de ter um projeto de nação e mobilizar os trabalhadores para defender esse projeto. É o grande desafio nosso.

A central chega dividida para o 9º Congresso?

A CUT é composta — e a gente espera que se mantenha assim — por várias tendências do movimento sindical. Isso dá o caráter de pluralidade dentro da central. Quem está dividida não é a CUT, mas a tendência majoritária, que é a Articulação Sindical. O Arthur (Henrique) e o João Felício disputam palmo a palmo a presidência da CUT. Isso é um fato. São duas correntes dentro da Articulação disputando para ver quem vai encabeçar a chapa da tendência majoritária.

Com isso, sua candidatura ganhou contornos de fiel da balança. Existe a possibilidade de o senhor abrir mão da candidatura para apoiar um dos candidatos da Articulação?

A CSC lançou a candidatura, antes de tudo, para demarcar uma posição do que a gente entende ser a central. É o aspecto mais positivo. Nossa luta aqui é para que a CUT seja uma central autônoma, de luta e unitária. A Corrente vai chegar com cerca de 20% no Congresso. É uma bancada que joga um peso importante — não só no papel político mas também na disputa real de votos. Então nós podemos desde apoiar alguém até sermos apoiados também e eventualmente ganharmos uma eleição. Isso ocorrerá durante toda a semana do congresso, porque muitos movimentos dependem da posição final da Articulação Sindical. Mas a nossa chapa está lançada, e a nossa idéia é ver como a gente contribui para montar uma direção que tenha, como objetivo, uma CUT mais ativa na luta política do país.

O que a chapa da CSC tem de diferente?

A Corrente é reconhecida não só por suas posições políticas. Na verdade, ela joga um papel importante por três questões: por ser uma corrente que preza muito pela unidade do movimento; por ser objetivamente de lutas; e por poder dar um papel mais plural à central, um papel mais democrático. Esse aspecto pode ser definidor do congresso da CUT. Nossa expectativa é de melhorar nossas posições dentro da CUT, que, com todos seus erros e acertos, é a principal central sindical do Brasil.

A CUT vai sair fortalecida do 9º Concut?

Creio que sim. A CUT estará mais preparada para viver numa conjuntura política que, na nossa opinião, é esta de defender os interesses do trabalhador num governo popular. Nós já acumulamos experiência suficiente e chegamos à conclusão de que a saída é a CUT mobilizar a sociedade em defesa de sua plataforma sindical e de seu projeto de nação. É a melhor forma de ajudar um governo democrático-popular. O governo sofre pressão de todos os setores da sociedade. Se os trabalhadores também não exercerem sua pressão, não se mobilizarem para defender seus interesses, eles evidentemente vão sair perdendo dessa batalha.

De São Paulo,
André Cintra