9º Concut: Unificar campanhas é desafio da CUT, diz Felício

Professor de História da Arte e Educação Artística, João Felício pode se tornar o segundo sindicalista a presidir a CUT por três gestões, a exemplo de Jair Menegueli. Esteve no cargo entre 2000 e 2003, assumindo-o novamen

Para Felício, a CUT cresceu em sua gestão, com mais intercessões nos debates políticos. Um exemplo da consolidação da central é, segundo o professor, o crescimento de entidades filiadas, bem como a aproximação com a base. Como ponto negativo, destaca a dificuldades em unificar campanhas nacionais.

O primeiro sindicalista da Apeoesp a assumir o cargo máximo da CUT insiste em mais uma candidatura, embora sua corrente, a Articulação Sindical, do PT, deva apoiar o eletricitário Artur Henrique. "Não sou candidato de mim mesmo", justifica-se Felício. "É um conjunto de companheiros que apontam a possibilidade de minha reeleição, e eu quero discutir com eles."

Felício conversou com o Vermelho na abertura do 9º Concut.

Na atual Executiva da CUT, o senhor herdou a presidência de Luiz Marinho? Quais foram os méritos dessa gestão?
No geral, posso concluir, sem medo de errar, que foi um mandato positivo. Nós consolidamos a central sindical e tivemos inúmeras conquistas no mundo do trabalho. A CUT nunca deixou de opinar sobre questões gerais que estão ocorrendo no país. Consolidamos mais nossa organização e nossa estrutura interna. Aperfeiçoamos mais ainda a relação com a base, em que pese nós acharmos que precisa, ainda, diminuir muito a distância que existe entre a CUT Nacional, as CUTs estaduais e os ramos. A melhor demonstração de que foi um balanço positivo é que a central chega maior a esse congresso. Nós temos 3.490 sindicatos filiados. Perdemos alguns sindicatos, mas ganhamos outros – entraram mais do que saíram. A maior central sindical brasileira se consolida dessa maneira e chega a esse congresso com muita unidade interna. Vamos combinar, nesse Concut, uma pauta de reivindicações para o mundo de trabalho e vamos opinar sobre os acontecimentos políticos do país. Nós não ficaremos neutros.

E quais foram os entraves da gestão?
Acho que nós temos muitas dificuldades ainda. O Brasil é um país muito grande. Não conseguimos, às vezes, fazer campanhas salariais unificadas. É um esforço que tem ocorrido nos últimos anos, mas ainda não é uma realidade. O sonho nosso é de que, um dia, possamos colocar a classe trabalhadora em movimento por salário, como nós fizemos com o salário mínimo. Aquilo foi muito bonito. Nós decidimos, mobilizamos e negociamos. Queremos fazer isso com o conjunto das categorias profissionais. Ainda não conseguimos, mas tenho certeza de que vamos chegar lá. Acho que conseguimos, sim, efetivar uma política de comunicação. Por incrível que pareça, ainda há uma dificuldade muito grande no interior da central no que se refere à comunicação. Hoje nós estamos muito melhores do que estávamos um tempo atrás. Portanto, há muita coisa para capitalizar, muita coisa para dizer. Nós conseguimos negociar o salário mínimo, ampliar o número de trabalhadores com carteira assinada. A nossa base, da chamada agricultura familiar, hoje tem muito mais recursos para poder plantar, vender, sobreviver, evitando o êxodo rural, como acontecia até bem pouco tempo. São conquistas inegáveis. A ampliação do número de vagas no ensino superior atinge a base da CUT. Estamos saindo desse mandato melhor do que quando nós entramos.

Qual o limite dessa divisão aberta entre o senhor e Arthur Henrique na disputa pela próxima presidência da CUT?
Acho que as pequenas divergências que temos não são suficientes para possibilitar um racha. Nós fazemos parte da mesma corrente sindical. Há uma unidade muito forte entre mim e ele, entre o conjunto da central sindical. Não acredito mesmo na possibilidade de racha. O que eu acredito é na CUT se consolidar como uma central combativa, autônoma. Isto é que é fundamental – a gente estabelecer a agenda, a disputa que nós queremos fazer no segundo mandato do governo Lula. A CUT vai entrar para disputar o que ela pensa, o seu projeto, etc., e eu acho que, nesses casos, não há divergências entre mim e o Arthur. Vamos sair muito unidos daqui.

Então o senhor manterá sua candidatura?
Claro que eu manterei a candidatura! Os delegados da Articulação Sindical é que vão decidir isso na plenária. Não sou candidato de mim mesmo. É um conjunto de companheiros que apontam a possibilidade de minha reeleição, e eu quero discutir com eles. Vou andar com esse pessoal que me apóia e vou me comportar com o desejo dele.

De São Paulo,
André Cintra