É preciso romper com a perspectiva eleitoralista da juventude, diz Edson Medina

Numa entrevista exclusiva para o portal Vermelho, Edson Medina, da Juventude do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (JPAI) falou sobre a parceria entre a entidade e o governo local, a implantação da primeira universid

Entre os delegados internacionais que vieram a Brasília nesta semana para participar do seminário internacional Paz, multilateralismo e direitos da juventude está Edson Medina, da Juventude do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (JPAI), organização de esquerda que faz parte do governo de Pedro Pires, reeleito no começo deste ano com mais de 50% dos votos.
 
Animado com a troca de experiências entre jovens de movimentos juvenis de diversos países, Medina afirmou que uma de suas principais preocupações como dirigente da JPAI é trabalhar para se romper com o que ele chamou de “perspectiva eleitoralista da juventude”. “Somos um movimento de esquerda, democrático, que luta pelas bandeiras dos jovens caboverdenses como a segurança, a paz, o emprego e a qualificação, mas especialmente para que haja maior participação dos jovens no exercício da cidadania”. Segundo Medina, é fundamental para o país que a juventude “seja capaz de participar do processo decisório e da implementação de políticas de seu interesse e que seja protagonista do seu próprio processo de inclusão, desenvolvimento e afirmação”.
 
O fato de o Partido Africano da Independência de Cabo Verde fazer parte da administração nacional tem facilitado o diálogo entre os jovens e as instâncias governamentais. “Estamos trabalhando no sentido de sermos os interlocutores da juventude junto ao poder público. Temos uma boa relação com nossa bancada parlamentar e ao mesmo tempo temos autonomia. Tudo isso tem contribuído para alcançarmos o bem-estar de nossa juventude”. 

Primeira universidade pública
 
O governo de Cabo Verde luta para construir a primeira universidade pública do país e por isso formou uma comissão especial que acompanha o assunto. Em 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um acordo de cooperação entre o Brasil e Cabo Verde para contribuir com a implantação da universidade pública. A parceria prevê a consultoria técnica da Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), que também será responsável pela qualificação dos professores locais. Hoje, dos cerca de 300 professores do país africano, apenas 3% são doutores e 21% têm mestrado. “Neste momento estamos participando do grande debate que gira em torno da implementação da universidade pública em nosso país. Aproveito a minha estada aqui para me encontrar com a direção da Universidade de Brasília (UnB) e outras instituições para procurar parcerias e idéias que nos ajudem nessa empreitada”, disse Medina.
 
A JPAI, que conta com cerca de 2 mil militantes, tem também trabalhado para a implantação de um programa de estágios. “O governo está querendo começar um processo para a concessão de estágios para estudantes universitários e para aqueles que tenham terminado sua formação, de maneira a qualificá-los para o mercado de trabalho. Estamos apoiando esta iniciativa”.
 
Edson Medina destacou ainda que eventos como este, realizado pela parceria entre a Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD), o Centro de Estudos e Memória da Juventude e a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, contribuem para estreitar a atuação entre as juventudes do campo da esquerda espalhadas pelo mundo. “Não obstante algumas particularidades, é notório que há preocupações semelhantes por parte das juventudes de países diferentes. A questão da paz, por exemplo,  é fundamental para todos, bem como a luta contra o desemprego, um problema estrutural que afeta sobremaneira os jovens, que hoje são a maioria da população mundial”, diz Medina, que não deixa de ressaltar também a necessidade de se “capacitar politicamente os jovens de seu país para o exercício de sua cidadania”.
 
Segudo Medina, a troca de delegações entre a JPAI e a UJS, uma iniciativa inédita, é importante porque “constituímos um mesmo espaço lusófono e acredito que a UJS tem muita experiência e aporte para nos trazer. Tentaremos estabelecer uma cooperação bilateral e contribuir para o avanço e o desenvolvimento das juventudes de nossos países”.
 
De Brasília,
Priscila Lobregatte