Parada gay em SP deve reunir dois milhões de pessoas

A parada deve reunir cerca de 2 milhões de participantes, estima a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. O número representa uma queda de 20% na comparação com o ano passado (2,5 milhões), mesm

Sem muita expectativa de bater o recorde de público de 2005, quando cerca de 2,5 milhões de pessoas lotaram a Avenida Paulista, a Parada do Orgulho GLBT de São Paulo chega à sua 10ª edição rodeada de pressões.

Este ano, o verde e o amarelo devem ganhar destaque no arco-íris. Por causa do jogo, o desfile foi antecipado do domingo para o sábado. É a primeira vez que isso acontece desde 1997. Alguns organizadores acreditam que a mudança poderá reduzir o número de participantes, já que muitos trabalham no sábado. Mesmo assim, foi mantida a previsão de 2 milhões de pessoas esperadas.

A organização fica a cargo da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT), presidida por Nelson Matias Pereira, que comemora a diversidade do evento. "Na Parada, há um mix, todas as classes sociais participam", afirma. 22 trios elétricos vão agitar o público.

Segundo Pereira, a edição desse ano deve contar com mais trios elétricos de militância do que nos anos anteriores. Ele, contudo, não teme queda na participação do público. "Não importa se virão 2 milhões ou 1,5 milhões, o importante é se manifestar", opina. A APOGLBT não quis fazer previsões de público.

Este ano, o tema da parada é 'Homofobia é Crime'. Há vários eventos previstos sobre o tema na programação oficial. Os organizadores querem discutir a violência contra os gays, já que no Brasil o número de homossexuais assassinados ainda é alto. Há um projeto tramitando na Câmara dos deputados de autoria da deputada federal Iara Bernardi (PT/SP) que criminaliza a homofobia. Ele está na pauta desde abril, mas ainda não há data para que seja votado. Os organizadores pretendem denunciar as violações aos Direitos Humanos para a cidadania plena da comunidade GLBT, e incentivar uma série de ações pela aprovação de legislação contra a homofobia no cenário nacional e por Políticas Públicas que visem o controle e a erradicação da homofobia no Brasil. A homofobia é o preconceito motivado por orientação sexual-que atinge gays, lésbicas e bissexuais-, ou por identidade de gênero-que atinge travestis e transexuais.

Para Nelson Matias Pereira, a escolha foi feita pensando em trazer a homofobia em discussão. "Precisamos criminalizar a homofobia para que os crimes de ódio não caiam na vala comum da justiça", argumentou.

Pereira ainda faz questão de enfatizar o caráter social e político do evento e da APOGLBT. "Somos um movimento social. Gays querem ser tratados como cidadãos. Pagamos os mesmos impostos mas não temos os mesmos direitos", afirmou. O lado lúdico do evento seria o segredo para reunir mais gente. "Algo sisudo não atrai o público", opinou Pereira.

O evento acontece na Paulista, entre a Alameda Joaquim Eugênio de Lima e a Rua Augusta, no dia 17 de junho. A concentração começa ao meio-dia, no vão livre do MASP, e a Parada segue das 14h às 20h. A festa segue pela avenida, desce a Rua da Consolação e termina na Praça Roosevelt, no centro.

Chantagem da prefeitura

Neste ano, os organizadores enfrentaram uma série de dificuldades para a ralização do evento. A principal delas é acobrança de uam inédita taxa de mais de R$ 80 mil reais para que a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) possa monitorar o trânsito local. Os organizadores alegam que não têm dinheiro para pagar as taxas cobradas pela prefeitura.

A comunidade gay pediu ajuda à SPTuris, a vereadores e deputados para que convençam o presidente da CET, Roberto Scaringela, a isentar o evento. Scaringela argumentou que há exposição de marca e venda de produtos durante a Parada e que, por lei, não pode isentar.

Pereira diz que só tem marca de casas noturnas nos trios elétricos, que apóiam a Parada. Ele afirmou que a Prefeitura deveria investir R$ 260 mil no evento. Mas pelo levantamento dos organizadores os gastos municipais, até agora, totalizam cerca de R$ 150 mil.

– A Prefeitura fornece o que se comprometeu: lanches para quem vai trabalhar, grades para isolar as ruas, geradores, palcos, som – afirmou Caio Carvalho, presidente da SPTuris.

Pereira diz que a CET informou que vai à Justiça cobrar o pagamento da taxa. Ele disse que não há outro jeito: a Parada Gay vai realizar e, depois, a comunidade vai à Justiça para explicar que é evento da sociedade civil organizada, não comercial, como diz a CET.

– O evento se paga pelo retorno que ele dá à cidade. O tom é lúdico, não cobramos ingressos. É diferente de cobrar para organizar trânsito em shows internacionais e de clubes de futebol, por exemplo, que têm arrecadação – diz ele.

Pereira afirma que os organizadores da Parada Gay pagariam o valor cobrado pela CET se tivessem dinheiro, mas estão sem um tostão no bolso. Segundo ele, o total beira R$ 90 mil, pois além da taxa há adicionais cobrados pela CET em cima do preço do serviço.

Se pagassem, no entanto, eles iriam querer saber o preço de cada um dos itens que justificam a cobrança, já que a notificação apresentada pela CET como gastos não detalha onde e como o dinheiro é usado.

A CET informou que vai fornecer mão-de-obra e fazer a orientação do trânsito durante o evento, mesmo sem o pagamento antecipado.

Além da CET, a Prefeitura também impôs regras rígidas para o evento. A Avenida Paulista deve ser desocupada até às 20h, o que significa que os trios elétricos que tradicionalmente desfilam vagarosamente terão que acelerar o ritmo. Os organizadores deverão ainda se responsabilizar pela limpeza da área e zelar pelos acessos às estações de metrô. Eles deverão ser isolados com tapumes para evitar depredação. A Prefeitura promete multar em R$ 30 mil a organização caso essas exigências não sejam cumpridas.

Kassab diz que vai

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), confirmou hoje sua presença na parada gay 2006. Segundo a agenda oficial, o Kassab deve chegar à avenida Paulista por volta das 14h.

Além do prefeito, outras autoridades devem participar da parada. O senador Aloizio Mercadante, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, também confirmou a presença no maior evento GLS do país.

Representando o Ministério da Cultura, o ator Sérgio Mamberti, que também é Secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, prestigiará o evento pelo segundo ano seguido.

Dois nomes convidados pela Associação da Parada do Orgulho GLBT (APOGLBT) já informaram que não poderão comparecer: Rodrigo Garcia, presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados. Rebelo mandou um telegrama parabenizando o evento.

Fonte: SPTV/Globo Online