Camisas de seleções: A exploração que está na moda

ONG internacional denuncia condições precárias de trabalhadores asiáticos que fabricam roupas esportivas. Artigo de Igor Ojeda, reproduzido do jornal Brasil de Fato.

Vestir um craque de futebol durante a Copa do Mundo da Alemanha, que começa dia 9, custa caro. Muito caro. Mas, ao mesmo tempo, sai barato. Muito barato. Grandes marcas esportivas gastam milhões – e esperam o mesmo em retorno – com o patrocínio das seleções participantes. Só que suas chuteiras, meiões, calções e camisetas são fabricados às custas dos direitos trabalhistas em países subdesenvolvidos.

"A Nike paga 13 milhões de euros (cerca de R$ 38 milhões) ao ano à seleção nacional de futebol do Brasil e a Adidas paga 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 4,4 milhões) por ano ao jogador francês Zinedine Zidane. Enquanto isso, trabalhadores asiáticos que fabricam chuteiras de futebol e outros equipamentos esportivos usados pelos jogadores cobram somente 47 centavos de euros (R$ 1,40) por hora, o que dá 3,76 euros (R$ 11) por um dia de trabalho". A afirmação consta do estudo !Labor Rights and Sportswear Production in Asia (Impedimento! Direitos Trabalhistas e Produção de Roupa Esportiva na Ásia), produzido pela organização não-governamental Oxfam International.

Exploração

Lançada no final de maio, a pesquisa alerta que, apesar de ter encontrado alguns avanços na maneira como essas empresas atacam a exploração de trabalhadores nos países asiáticos, mulheres e homens que produzem as roupas esportivas seguem trabalhando por longas horas, sob forte pressão, em condições difíceis e perigosas (incluindo assédio verbal e sexual), sem direito a se filiar a um sindicato e com salários muito baixos para as necessidades básicas de suas famílias. Segundo o relatório, centenas de milhares de pessoas – 80% mulheres – trabalham para o setor na Ásia, na África, no Leste europeu e na América Latina. O estudo analisa 12 marcas. Cinco delas estarão envolvidas na Copa como patrocinadoras de seleções: Adidas, responsável também pela confecção da bola oficial do torneio, Puma, Nike, Lotto e Umbro. Completam a lista Asics, Fila, Kappa, Mizuno, New Balance, Reebok e Speedo.

Para o jornalista austríaco Klaus Werner, co-autor de O Livro Negro das Marcas, as empresas de roupas esportivas seriam plenamente capazes de garantir condições justas para os trabalhadores das fábricas de seus fornecedores, pressionados a oferecer preços baixos e cumprir curtos prazos de entrega. "Mas não têm interesse. Seu interesse é ganhar dinheiro. A maioria dessas empresas são sociedades anônimas (empresas com capital dividido em ações), o que faz com que busquem menores custos possíveis. No mundo globalizado, isso significa diminuir as condições sociais do trabalho. Os provedores são, na teoria, independentes dessas grandes marcas, mas economicamente dependentes delas", diz. De acordo com Werner, que atualmente vive no Brasil, no sistema capitalista seria uma contradição as transnacionais atuarem para melhorar as condições trabalhistas.

Mão atadas

Por isso, diferentemente da avaliação da Oxfam, o jornalista acredita que tais condições estão ainda mais deterioradas. Segundo ele, os avanços na verdade servem apenas para limpar a imagem das empresas, mas problemas reais, como salários, condições ecológicas e sociais, proteção dos direitos trabalhistas etc, estão piores. Segundo Werner, é cada vez mais difícil para um país pobre implementar leis para proteger os trabalhadores, pois estes são cada vez mais chantageados pelas transnacionais, organismos multilaterais e países ricos. "Eu sou da Áustria. Lá, há leis que protegem o trabalhador e o meio ambiente. Mas se o Brasil quiser fazer a mesma lei, vai ter uma empresa européia que pode até entrar com processo contra o país. Ou vai haver muita pressão por parte da União Européia", explica.

A Oxfam ainda lamenta, em seu relatório, que apesar de muitas empresas terem apresentado avanços com relação aos direitos dos trabalhadores, elas se contradizem no passo seguinte. É o exemplo da Nike e da Puma, que persuadiram uma fábrica fornecedora na Tailândia a permitir a criação de um sindicato, mas logo depois cancelaram seus pedidos. Segundo o texto, outras contradições mais evidentes são a decisão das empresas de priorizar sua produção em países ou zonas de livre-comércio que não dão amparo legal à associação sindical livre e a tendência crescente de realizar contratos de curta duração com os trabalhadores. "Contratados sob esses acordos flexíveis, os trabalhadores são especialmente cautelosos na hora de se unirem a um sindicato. Temem que os empregadores possam reagir não renovando o contrato", diz o documento.