UJS homenageia ''o jovem Niemeyer''. Leia declaração.

Presentes ao 13º Congresso da União da Juventude Socialista (UJS), os delegados da entidade prestaram homenagem, na semana passada, ao arquiteto Oscar Niemeyer. A declaração final do encontro trata do "jovem Niemeyer&qu

 
CARTA OSCAR NIEMEYER

Declaração final do
13º Congresso da UJS

Encravada no Planalto Central do Brasil, Brasília é uma cidade jovem, fruto do esforço de levas de trabalhadores brasileiros – em particular do Norte e Nordeste – que para cá vieram em busca de uma vida melhor. É nesta cidade nascida do sonho de um Brasil grandioso que, em junho de 2006, cerca de mil e quinhentos jovens reuniram-se durante quatro dias para reafirmar sua crença na possibilidade de um Brasil melhor.

Brasília representa o sonho de um Brasil mais desenvolvido e integrado. É também prova viva do caráter ousado, inventivo e empreendedor do povo brasileiro. Erguida há 46 anos por iniciativa do presidente Juscelino Kubitscheck – um dos grandes expoentes da luta pelo desenvolvimento –, a capital federal representa um marco do esforço de ocupação e povoamento do interior de nosso país. Mais que isso, simboliza a realização de um ciclo de desenvolvimento – ciclo este que passou à história de nosso país através do bordão “50 anos em 5”.

Homem de visão, Juscelino convidou para elaborar o projeto de construção da nova capital federal o arquiteto Oscar Niemeyer. Destacado militante dos valores humanistas e da causa socialista, arquiteto brasileiro reconhecido internacionalmente como um dos grandes renovadores da arquitetura no século XX, Niemeyer possui obras de destacado valor nos quatro cantos do mundo. Inicialmente influenciado pelas tendências arquitetônicas européias, com seus traços retos e angulosos, Niemeyer libertou-se com o tempo dessa perspectiva, adotando as formas curvilíneas e flexíveis tão profundamente entranhadas na alma barroca do povo brasileiro.

Trabalhando em conjunto com o urbanista Lúcio Costa e com o paisagista Burle-Marx, Niemeyer ajudou a erguer Brasília projetando edifícios e monumentos como o Palácio da Alvorada (residência presidencial), o Palácio do Planalto (sede oficial do poder executivo), o Palácio do Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores), o edifício do Supremo Tribunal Federal, a Catedral Metropolitana, o Teatro Nacional, o edifício do Congresso Nacional, o monumento JK (este em formato de foice e martelo) e, mais recentemente, os prédios do Museu Nacional e da nova Biblioteca Nacional. Por obra de Niemeyer, a capital federal é composta de uma série de conjuntos arquitetônicos cuja beleza efusiva levou as Nações Unidas a declararem Brasília Patrimônio Cultural da Humanidade.

Ao idealizar uma cidade de curvas barrocamente arredondadas, o grande gênio da arquitetura fez da nova capital uma expressão genuína e pujante de nosso jeito de ser e de nossa visão de mundo. Mais que mera cidade-sede das instituições do poder federativo, Brasília tornou-se, com seu intrigante formato de cruz barroca, uma das mais legítimas expressões de nossa identidade nacional.

Vivemos hoje tempos de pensamento único neoliberal, quando se afirma por todas as partes a morte da utopia. Esse discurso derrotista não pretende senão afirmar a inexistência de alternativas políticas capazes de proporcionar o desenvolvimento econômico e social. Em um contexto como este, repleto de caminhos interditados para aqueles que almejam construir um novo país, vai ser preciso muita coragem e ousadia, muita disposição e vontade de lutar. Mas a realidade vai requerer também de nós a mesma imaginação e a mesma criatividade desfraldadas por Oscar Niemeyer para romper com os modelos prontos. Mais que nunca, devemos ser capazes de elaborar caminhos próprios que nos permitam descortinar um futuro radiante para nosso povo.

Para trilhar esses caminhos devemos manter os pés fortemente fincados no solo nacional. Em um mundo marcado pela tentativa de forjar uma falsa integração – através da chamada “globalização neoliberal” – vai ser necessário, cada vez mais, afirmarmos o ponto de vista nacional. Caminhos que servem a outros na maioria das vezes não nos servirão, justamente por não estarem calcados em nossa própria experiência, na realidade e no modo de vida de nosso povo. Como afirma o Manifesto Socialismo com a Nossa Cara , firmado por nossa entidade já em 1998, “não queremos fórmulas. Nosso socialismo será verde-amarelo, tocará viola, dançará samba e rock. Fará carnaval e jogará futebol. Será construído a partir de nossa realidade e caminhos que descortinaremos. Beberá da experiência da história de luta do nosso povo”.

É por isso que, construtores que somos do mundo novo e da nova humanidade, não podemos nos bastar com as soluções fáceis e os receituários pré-fabricados, impostos muitas vezes de fora pelos centros dominantes e abraçados internamente pelos representantes do imperialismo. Vai ser preciso buscar na singularidade da formação social brasileira – assim como fez Niemeyer – os traços da civilização original que almejamos construir e certamente construiremos. Vai ser preciso buscar nas raízes de nossa nação e na experiência de nosso povo as indicações indispensáveis à construção de um modelo político e econômico revolucionário, capaz de libertar o Brasil, em definitivo, das cadeias do atraso e da dependência.

Sabemos que o caminho para alcançar esses objetivos não será simples ou fácil. Para chegar lá devemos ser capazes de derrotar, uma vez mais, aqueles que trabalham contra o desenvolvimento da nação, inclusive porque lucram com a miséria de nosso povo. As eleições deste ano em nosso país representam mais um round dessa batalha de sentido histórico. Nela, dois projetos antagônicos estarão novamente em disputa. De um lado as velhas raposas conservadoras capitaneadas pelo PSDB e por seu candidato Geraldo Alckmin; de outro as forças da mudança lideradas pelo presidente Lula, engajadas na tarefa de imprimir um rumo diferente para nosso país.

A grande tarefa da juventude nos dias que correm está em impulsionar o projeto de mudanças inaugurado com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva em 2002. Remando na contramaré do pensamento único dominante, Lula busca resistir à hegemonia do conservadorismo em escala mundial, e começa a reverter a triste herança deixada pelo neoliberalismo. Em pleno início deste século XXI, quando volta a ganhar força o ideal socialista, Lula – o presidente do povo e da juventude brasileira – conduz o Brasil em direção ao fortalecimento da integração continental, juntamente com outros líderes progressistas da América Latina. Essa é uma tarefa histórica, imprescindível para enfrentar o imperialismo nas atuais condições do mundo, quando nenhum país pode se achar em condições de enfrentar, sozinho, as pretensões hegemônicas do imperialismo norte-americano.

São estas as tarefas, estes são os desafios. Cientes de nossas responsabilidades para com os destinos da nação, haveremos de guiar nossos passos com sabedoria e criatividade, mirando exemplos como o de Oscar Niemeyer. Emblema de imaginação, de inventividade e de apego aos valores patrióticos e humanistas, a figura de Niemeyer – assim como Brasília, uma de suas principais realizações – inspira a juventude brasileira em sua jornada pela construção de um Brasil soberano, democrático, justo e desenvolvido. Ao contrário daqueles que insistem em afirmar a morte da beleza e do sonho; ao contrário daqueles que perseveram na descrença e no derrotismo, condenando as grandes utopias e projetos coletivos, seguimos acreditando, como Niemeyer, que o socialismo é futuro da humanidade. Seguimos afirmando, como no lema deste 13º Congresso da UJS, que, se não enxergamos qual o fim da nossa estrada, é apenas porque ela vai além do que se vê.

Brasília, 18 de junho de 2006.

Delegados presentes ao 13º Congresso da UJS.