Artigo: Eduardo Suplicy lamenta morte do humorista Bussunda

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é o autor do artigo "Adeus Bussunda", que trata da morte do humorista do Casseta & Planeta. Bussunda completaria 44 anos neste sábado. Confira o artigo de Suplicy, publicado originalmente no "Blo

Adeus Bussunda

Por Eduardo Suplicy

Bussunda deve estar feliz no céu por saber que a última força que deu para Ronaldo, ali na Alemanha, contribuiu para que o Fenômeno jogasse tão bem e marcasse dois gols contra o Japão.

Se não tivesse decidido partir antes da hora, deixando uma ausência difícil de preencher, Bussunda, do Casseta & Planeta, faria hoje 44 anos. Os médicos sempre falam do perigo do infarto em gente moça, mas é difícil de acreditar que possa ter ocorrido logo com o coração de quem ajudava o Brasil inteiro a rir.

Bussunda – ou Cláudio Basserman Viana, o Claudinho – jogava uma pelada quando se sentiu mal. Era fanático por futebol. O que nos leva a pensar que estava todo contente em Pasdorf, na Alemanha, para cobrir a Copa do Mundo e viver seu último personagem – o "Fofômeno" – ou vestindo a camisa onde se lia "Ferômeno", sempre brincando com Ronaldo.

Bussunda deve estar pensando na brincadeira que faria por seu ídolo inspirador ter batido o recorde de gols na Copa. Qualquer coisa parecida com "Eu não sou gordo. Sou gooooooldo" – atrevo-me a imaginar, diante da polêmica da imprensa sobre o peso do jogador e pelas piadas que fazia com seu próprio peso.

Essa característica de rir de si mesmo, aliás, atribuída às pessoas inteligentes, também é conhecida como "humor judaico", como lembrou Alberto Dines no Observatório da Imprensa do dia 20. "Bussunda considerava-se herdeiro dos humoristas e comediantes judeus, e assumia-se como judeu".

Mas havia também em Bussunda o espírito carioca, brincalhão, em tudo o que fazia.  Considerava-se um "carioca clássico": nasceu e se criou no Rio de Janeiro e torcia pelo Flamengo. Era também um "jornalista clássico": pautava-se pelo noticiário para compor seus personagens e piadas, criticando a notícia e nos obrigando a refletir sobre ela.

Casado com outra jornalista, Angélica Nascimento, tinha uma filha, Julia.
A parte crítica, aliás, Bussunda aprendeu desde cedo. Era filho de Luís Guilherme Viana e de Helena Besserman Viana, a psicanalista que teve a coragem de denunciar o médico e psiquiatra como participante das equipes de tortura do Dói-Codi nos tempos da ditadura. 

Bussunda atuou no movimento estudantil do Rio ao lado do irmão Sérgio, que mais tarde foi presidente do IBGE. E foi lembrado pelo historiador e sociólogo carioca Hamilton Garcia, que escreveu guardar de Bussunda a lembrança do companheiro, "do homem de opinião que lutou pela democracia… Um militante, não um indiferente dormindo."

Bussunda reagia com humor desde cedo. Ainda estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi redator do Casseta Popular que, nos anos 80, fez sucesso ao combinar o escracho com a crítica política e de comportamento. Era da TV, mas também da imprensa esportiva, como cronista de esportes. Entre 1989 e 1999, colaborou em O Dia. Escrevia também para a revista Placar e para o jornal esportivo Lance. Foi ainda titular da coluna Alô Rapaziada, no suplemento Zap! do jornal O Estado de S. Paulo.

Começou na TV Globo em 1988, como redator do TV Pirata. No ano seguinte, o show "Eu vou tirar você desse lugar" daria início à parceria com o Planeta Diário, surgindo então o Casseta & Planeta.

Desde 1992 protagonizou o humorístico Casseta & Planeta Urgente!, exibido inicialmente dentro do Fantástico, e depois transformado em programa semanal.

Incansável, escreveu onze livros, lançou três discos, encenou uma peça de teatro e estreou no cinema em 2003, com A Taça do Mundo é Nossa. Fez uma participação especial no filme Como ser Solteiro e dublou o personagem principal da animação Shrek.  E terminou de filmar "Seus Problemas Acabaram", a ser lançado nos cinemas.

Minha querida Maria Paula Fidalgo Suplicy, mulher de meu filho João, que integra a turma do Casseta e Planeta escreveu para o Correio Braziliense sobre o seu enterro bem na hora do gol de Fred, de Brasil x Austrália:

"Não dava para acreditar que ele estava deitado naquele caixão enquanto o resto do país comemorava um gol!  Só agora me veio o sentido de tamanha coincidência: era na hora do gol que ele ficava mais feliz da vida!"
 
O programa Casseta & Planeta, Urgente! de terça-feira, dia 20,  o homenageou. É claro que o futebol, uma de suas paixões não ficou de fora. Vimos o Tabajara Futebol Clube com Zico, Maradona com "o pesadelo de Don Diego", Ayrton Senna num dos primeiros programas, e a personagem que ele fazia do presidente Lula com a faixa presidencial. Bussunda e a turma do Casseta e Planeta estiveram com o presidente em Brasília, que mostrou ver com naturalidade e alegria o humor construtivo que faziam com ele.

Eu próprio tornei-me algumas vezes personagem das brincadeiras do Casseta & Planeta. Ficava sem graça, mas também considerava natural e me divertia, inclusive quando Bussunda e sua equipe compareceram ao Congresso Nacional para interagir com seus personagens.

Sem Bussunda as noites de terça-feira não serão iguais. Mas a continuação do programa com seus companheiros Marcelo Madureira, Hubert Aranha, Helio de la Peña, Maria Paula, Cláudio Manoel, Beto Silva, Reinaldo Figueiredo e o diretor José Lavigne e suas piadas geniais será a melhor homenagem a um de seus principais criadores.