Emir Sader: México vive sua mais importante eleição

Acreditar que seria a mesma coisa para o México que ganhe Calderon ou Lopez Obrador, seria o mesmo que dizer que os governos de FHC e de Lula são iguais, assim como dizer que os governos de Carlos Menem e de Nestor Kirchner são iguais

Por Emir Sader para a Agência Carta Maior.

Em tempos em que as análises tendem a fazer desaparecer as diferenças e a amalgamar coisas diferentes, ao invés de explicá-las, o tema reaparece nas eleições do México. Qual a diferença entre os dois candidatos favoritos para triunfar – o direitista Felipe Calderón, do PAN, e o esquerdista Andrés Manuel Lopez Obrador, do PRD?

Muitos analistas e grupos políticos consideram que não há maiores diferenças, que um eventual governo de Lopez Obrador primaria pela continuidade, mais do que pelas mudanças. Alguns apelam para o voto nulo, o Exército Zapatista de Libertação Nacional desenvolve o que chama de “a outra campanha”, como atividade alternativa à campanha eleitoral.

Existem diferenças significativas entre os dois candidatos? À questão sobre capitais estrangeiros na Pemex, a empresa petroleira estatal mexicana, Lopez Obrador respondeu claramente que não, Calderón contestou claramente que sim.

As características ideológicas e o que se pode esperar de cada um são reveladas pelas posições de cada um sobre temas significativos:

Reforma do Estado

Calderón: Redução do financiamento aos partidos políticos e às campanhas eleitorais. Reduzir o número de deputados e senadores.

Lopez Obrador: Elevar a nível constitucional o Estado de bem-estar social
Ficar os salários máximos dos altos funcionários e tirar as pensões milionárias dos ex-presidentes do México. Estabelecer a figura do referendo, do plebiscito e da revogação dos mandatos.

Governabilidade

Calderón: Cumprir e fazer cumprir a lei. Ser sensível às demandas sociais.

Lopez Obrador: Primeiro os pobres. Mudar a política econômica e orçamentária para atender as necessidades do povo. Garantir a liberdade religiosa, a liberdade de expressão, o direito a divergir, o direito das minorias. Combater a pobreza e apoio às comunidade indígenas.

Segurança pública

Calderón: Unificação dos corpos policiais federais. Criação do sistema único de informação criminalística. Criação de Agencia Especializada contra o narcotráfico. Reforma das leis do poder judicial para ter fiscais e juizes especializados no crime organizado. Reforma do Código Penal para aumentar as penas por seqüestro e outros delitos graves.

Lopez Obrador: Combate à pobreza, o desemprego e a desintegração familiar. Criar oportunidades para os jovens. Luta contra a delinqüência coordenada com governos estaduais e municipais. Mais faculdades para o Exército no combate ao crime organizado.

Os governos neoliberais, incluído o de Vicente Fox, engessaram as alternativas políticas e econômicas, antes de tudo pelo ingresso do país à Área de Livre Comércio da América do Norte – Nafta -, que apresenta dificuldades enormes para que um país abandone o acordo. Por outro lado, existe no México a independência do Banco Central, com mandatos para o presidente do banco que transcendem os mandatos presidenciais, impedindo que a soberania popular se exerça também sobre todas as áreas sobre as quais o Banco Central exerce sua ação.

No entanto, acreditar que seria a mesma coisa para o México que ganhe Calderon ou Lopez Obrador, seria o mesmo que dizer que os governos de FHC e de Lula são iguais, assim como dizer que os governos de Carlos Menem e de Nestor Kirchner são iguais e que os governos de Battle e de Tabaré Vazques se equivalem. As análises têm que mostrar as diferenças. As decisões políticas devem se basear nelas, considerando se são diferenças políticas fundamentais ou não.

Estas são as eleições mexicanas mais importantes, desde que o mesmo PRD, com Cuahutemoc Cardenas teve sua vitória roubada pelo PRI, em 1988 – conforme confissão, em suas memórias, do presidente mexicano que as presidiu. Pesará sobre a América Latina se triunfar a continuidade do PAN no governo ou se, pela primeira vez, a esquerda triunfar nas eleições de domingo próximo.