Vitória da integração: Evo e Kirchner acertam aumento do gás

O presidente boliviano recebeu ontem todo o apoio de seu colega argentino durante um ato público conjunto na localidade de Hurlingham, na província de Buenos Aires, que sela uma nova aliança política entre os dois países. Pouco antes, na capit

Pelo acordo, o preço do gás que a Bolívia fornece à Argentina passará de US$ 3,50 por milhão de BTU – unidade utilizada para comercializar gás – para US$ 5 em uma primeira fase e a partir de janeiro de 2007 para US$ 5,50. A Bolívia exporta 7,7 milhões de metros cúbicos diários de gás para a Argentina. Além disso, foram ratificadas medidas destinadas a melhorar a situação dos imigrantes bolivianos residentes na Argentina, tema polêmico depois da morte em março passado de equatorianos no incêndio de uma oficina clandestina em Buenos Aires, onde viviam em condições de semi-escravidão.

A visita relâmpago de Evo também tem uma interpretação interna nos dois países. A quatro dias das eleições para a Assembléia Constituinte na Bolívia – na qual o presidente precisa de uma ampla vitória e conseguir dois terços dos assentos para poder avançar em sua "refundação" da Bolívia -, ele conseguiu voltar à noite para Cochabamba para o encerramento da campanha do seu partido, o Movimento Ao Socialismo (MAS).

O tema dos benefícios econômicos gerados pelos recursos naturais foi a grande o cavalo de batalha pelo qual Evo chegou à Presidência da Bolívia. Na chefia do Estado, sua primeira medida importante foi decretar a nacionalização dos hidrocarbonetos em 1º de maio passado, o que provocou uma grande convulsão internacional, e fez com que Brasil e Argentina convocassem uma reunião urgente com o presidente boliviano para estudar as repercussões do decreto.

Vitórias

Com a assinatura dos acordos de ontem, Evo envia uma mensagem de último minuto para o eleitorado boliviano sobre a eficácia de sua gestão internacional, o que lhe permite apresentar-se diante dos eleitores como um líder que não ficou isolado, mas que colocou a Bolívia no mapa regional. Soma-se a isso o fato de a Bolívia ter sido convidada formalmente a participar da cúpula do Mercosul, prevista para fins de julho na cidade argentina de Córdoba.

 

Além disso, os acordos dão também mais um passo na direção da integração dos países do continente, que objetiva essencialmente o fortalecimento das economias da região. Outro exemplo deste movimento é o chamado Super Gasuduto do Sul, que envolve Brasil, Venezuela, Argentina e Bolívia.

Néstor Kirchner está consciente dos problemas energéticos estruturais de seu país, e que caso se intensifiquem poderão representar um obstáculo muito importante para o crescimento econômico e industrial -muito maior que para seus vizinhos – e gerar um forte descontentamento social que pode ameaçar a vitória de sua formação política nas eleições presidenciais do próximo ano. Isso, somado ao reconhecimento geral de que o preço que se pagava pelo gás boliviano era muito inferior ao do mercado internacional, levou Kirchner a movimentar-se com muita cautela na negociação e repetir gestos de apoio internacionais ao presidente boliviano, entre os quais se destacam o feito diante dos deputados espanhóis durante sua recente visita à Espanha.

O aumento do gás, considerado inevitável, obrigou o governo argentino a buscar fórmulas para evitar que repercuta nas faturas dos consumidores, uma política que caracterizou a gestão de Kirchner e que ele quer manter pelo menos até as eleições presidenciais de 2007. De fato, a Argentina transferirá parte do aumento acordado com a Bolívia para o Chile e o Uruguai, países para os quais exporta gás natural. Oficialmente a Bolívia não fornece gás ao Chile, devido à disputa territorial histórica entre os dois países, mas na prática parte do gás que chega à Argentina cruza os Andes e vai parar no Chile.

 

Da Redação

Com informações do jornal El País