Toquinho: “O artista é uma antena que capta a vontade popular”

O verão espanhol pode acabar se transformando no verão Toquinho. O violonista e compositor acaba de editar de uma vez cinco novos CDs e nesta quarta-feira iniciaria nas ilhas Canárias uma série de shows que o levará a dez ci

 "Canções misturadas com temas instrumentais que ressaltam o valor do violão, instrumento que foi a base dessa trajetória. Nessa mistura de cantos e solos incluo histórias interessantes sobre algumas canções e um momento para as homenagens com músicas de Baden Powell, Tom Jobim e Paulinho Nogueira."

Toquinho começou na última terça-feira sua nova turnê espanhola pela Grande Canária e continuaria ontem, quarta, por Mallorca, San Javier, Madri, Valencia, Córdoba, Barcelona e Vigo (em 12 de julho).

Precedendo esse concertos, aparecem agora na Espanha seus últimos discos (todos distribuídos por Discmedi / Blau): o mais recente, "Passatempo", gravado no ano passado, junto com duas produções anteriores, "Mosaico" e "Orquestra Jazz Sinfônica e Toquinho". Também foram editados dois discos para o público infantil: "Canciones de los derechos de los niños", em castelhano, e "Herdeiros do futuro". "Minha música sempre se caracterizou pela simplicidade harmônica e melódica, e continuo tentando conservar essa característica que a torna agradável aos ouvidos das pessoas", comenta.

Antonio Pecci Filho nasceu em São Paulo em 6 de julho de 1946. Paulinho Nogueira foi seu primeiro professor, Baden Powell sua primeira influência e Chico Buarque o amigo que gravou sua primeira canção em 1967. Outros nomes como Tom Jobim ou Vinicius de Moraes, para citar somente dois, concentram sua atividade posterior, que alcança uma autêntica dimensão internacional graças ao sucesso de "Aquarela". "Às vezes o passado deixa marcas perigosas, causadas tanto por sucessos estrondosos como por frustrações inesperadas", afirma Toquinho. "As duas situações podem se transformar em fatores inibidores da criatividade. O artista deve se manter alheio a essas influências, buscando criar com a máxima naturalidade. Um grande sucesso pode levá-lo à acomodação."

Toquinho foi uma das pontas visíveis do iceberg da bossa nova. "A bossa foi sem dúvida a maior transformação rítmica, melódica e poética na música brasileira. E ainda hoje conserva essa beleza simples mas sofisticada que tanta influência teve em outros países e que serviu para que o mundo pudesse conhecer toda a beleza contida nas letras de Vinicius e valorizar profundamente as melodias de Tom Jobim, Carlos Lyra e Baden Powell."

Uma das relações mais frutíferas da bossa nova foi precisamente a que Toquinho manteve com Vinicius de Moraes ao longo de 11 anos. Um período criativo sem igual, que se materializou em 25 discos e mais de 120 canções gravadas. E exatamente o primeiro disco que gravaram juntos em 1970, em Buenos Aires, começa com o tema "Copa do Mundo", dedicado aos sucessos da seleção brasileira. "Cada vez mais o futebol integra a cultura dos povos. Se o Brasil ganhar na Alemanha começaremos todos os shows outra vez com essa canção."

Para Toquinho, tanto o futebol quanto a política deveriam estar muito perto da criação musical. "A arte acaba sendo um reflexo da cultura e da vontade popular, e um artista é uma antena captadora desse comportamento, marcado ou não pelas diretrizes políticas ou pelos segmentos sociais de uma nação. A arte não pode ser imune a tudo isso, e a música será sempre um veículo de desabafo e de diversão para o povo."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: El País / UOL Mídia Global