Embaixadora palestina diz que agressão de Israel visa dividir palestinos

A embaixadora da Autoridade Nacional Palestina, Mayada Bamie, visitou hoje a sede do Partido Comunista do Brasil, em São Paulo. Mayada é a sexta mulher à frente de embaixadas da Palestina no mundo. A ANP tem, além do Brasil, em

Antes de assumir o seu posto em Brasília, Mayada foi embaixadora por um ano e meio no Senegal. Ela foi primeira ministra conselheira de embaixadas na Guiné, Angola, Senegal e Peru. Seu principal objetivo é reforçar os laços e aumentar o intercâmbio entre o Brasil e a Palestina.

A embaixadora, acompanhada pelo secretário da Confederação Árabe Palestina do Brasil (Copal), Emir Mourad, e pelo representante da Federação das Entidades Árabes do Brasil (Fearab), Eduardo Elias, foi recebida pelo secretário de Relações Internacionais do Partido, José Reinaldo de Carvalho, pelo deputado federal Jamil Murad, do PCdoB de São Paulo, por Ronaldo Carmona, membro da Comissão de Relações Internacionais do Partido e também por Adalberto Monteiro, secretário de Formação, e por Ricardo Abreu — o Alemão —, secretário de Juventude e de Movimentos Sociais do Comitê Central do PCdoB.

Mayada explicou que a recente agressão contra o povo palestino, desferida há duas semanas pelo exército de Israel, não tem como objetivo resgatar um soldado dos ocupantes feito prisioneiro pela resistência palestina, como a mídia corporativa tem propalado. Segundo ela, a ação do governo israelense visa destruir a unidade política palestina, obtida após as negociações em torno do chamado "acordo dos prisioneiros", que poderia ser levado a referendo caso não ocorresse a invasão sionista da Faixa de Gaza.

Em relação ao projeto dos ocupantes, Mayada revelou que "o Governo israelense quer impor um plano unilateral ao povo palestino. Em visita recente aos EUA, o primeiro-ministro israelenses Ehud Olmert disse que não haverá negociações com o governo palestino". A embaixadora também argumenta que "o plano unilateral prevê o muro do apartheid como a fronteira entre Israel e a ANP. O muro já foi condenado pela ONU, que emitiu resolução demandando o fim de sua construção". A resolução é solenemente ignorada desde sempre pelo governo hebraico e por seus apoiadores nos Estados Unidos e União Européia.

Muro separa famílias

A construção do chamado Muro do Apartheid separa milhares de famílias palestinas. Seu traçado deixará somente 41% do território da Cisjordânia sob o controle da ANP. Além dos crimes humanitários cometidos durante a ocupação, Israel privará também os palestinos de seus melhores territórios em termos de áreas agricultáveis e fontes de água potável.

"Cerca de 41% do território da Cisjordânia, cortada pelo muro, ficará sob a autoridade do governo palestino. A área da fronteira norte do país, com a Jordânia, foi confiscada e os israelenses deixam os palestinos sitiados em enclaves, em bantustões desligados do resto de suas famílias, de suas roças e do pasto de seus pequenos rebanhos. O muro impedirá também a ligação física dos palestinos com a Faixa de Gaza", conta Mayada.

Punição coletiva

"A recente agressão israelense, que mantém cerca de 400 soldados dentro da Faixa de Gaza, trouxe uma enorme privação aos palestinos da região. Israel pune coletivamente o povo palestino, cortando a eletricidade e o fornecimento de água. Além disso, impedem os palestinos de receberem assistência médica", explica.

De acordo com os dados oferecidos pela Delegação Especial da Palestina no Brasil, a Faixa de Gaza está perto de um colapso humanitário. Todos os hospitais da região que dependem da principal rede de eletricidade pública perderam a conexão e estão sem combustível para fornecer eletricidade para seus geradores. Uma média de 200 cirurgias foram adiadas ou canceladas. Cerca de 250 cidadãos estão sofrendo graves problemas renais devido a paralisação das unidades de hemodiálise, que são movidas a eletricidade.

Exilada aos dois anos de idade

Mayada começou a trabalhar para a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) desde que terminou a universidade. A diplomata se formou em Ciências Políticas e Educação pela Universidade Americana, em Beirute, e assim que concluiu os estudos passou a trabalhar em campos de refugiados palestinos no Líbano. Aos dois anos de idade, ela e sua família foram expulsas de Jafa, em 1948, pelas milícias sionistas. "Naquela época, 400 mil pessoas foram expulsas da Palestina", conta a embaixadora.

Nos campos de refugiados, Mayada trabalhou com crianças e mulheres. Foi ela quem fundou o departamento de Relações Internacionais para a Cruz Vermelha Palestina, a partir do qual foi criado um comitê de médicos para trabalhar nos campos de refugiados palestinos. Ela também foi a fundadora da área de Relações Internacionais da OLP.

"As mulheres, na Palestina, lutam em duas frentes. Uma, contra a ocupação israelense e a outra por seus direitos como mulheres", conta Mayada, que é também vice-presidente da Federação Democrática Internacional de Mulheres (Fdim).

Campanha de solidariedade

A Câmara dos Deputados e a embaixada palestina realizarão no próximo 11 de julho um ato em solidariedade ao povo palestino, além de lançar um novo livro, patrocinado pela embaixada palestina, sobre o muro construído no regime de Ariel Sharon. O ato relançará a campanha de solidariedade com a Palestina e contará com a embaixadora Mayada Bamie e o presidente da Casa, o deputado Aldo Rebelo.

Leia também a nota de solidariedade com o povo palestino, do secretariado nacional do PCdoB, publicada na última terça-feira (Nova onda de terrorismo israelense ameaça povo palestino http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=4739)