Por que me ufano da urna eletrônica

Por Bernardo Joffily


Aí estão, desta vez, os mexicanos, a sofrer com uma apuração eleitoral de resultado apertado e incerto, entre o centro-esquerdista López Obrador e o direitista Felipe Calderón.

As maquininhas de votar foram introduzidas pela Justiça Eleitoral brasileira pela primeira vez nas eleições municipais de 1996, apenas nos 57 municípios com mais de 200 mil eleitores. Em 1998 foram 537 municípios e em 2000 ocorreu a primeira eleição totalmente informatizada na votação e na apuração.


Uma engenhosa e unânime maquininha


A cada experiência foram ficando para trás as reticências e desconfianças. As últimas foram as do PDT, gato escaldado pelo escandaloso Caso Proconsult, que em 1982 quase rouba de Leonel Brizola a eleição para governador do Rio de Janeiro. Mas mesmo estas foram sendo superadas.

O sistema foi também se aperfeiçoando. Em 2002, o programa de criptografia passou a ser apresentado aos fiscais dos partidos. Em 2004 passou a ser permitida a conferência dos programas carregados na urna, com os partidos usando seus próprios programa de verificação (o que só foi feito pelo PT e o PDT).

Seguimos agora para a sexta eleição eletrônica, disputada, tensionada, onde tudo se discute e se questiona… Tudo, exceto a engenhosa maquininha.


Fator democratizante e moralizador


A urna eletrônica se afiançou como uma tecnologia não só simplificadora e agilizadora mas sobretudo democratizante e moralizadora. Por pelo menos dois motivos.

Primeiro, porque o voto eletrônico, contabilizado e apurado com rapidez e isenção cibernéticas, fechou as brechas para os processos de fraude anteriormente empregados. Dada a inventividade dos fraudadores, não se pode dizer que esta seja uma ameaça morta e enterrada. Mas também os sistemas de vigilância e controle ficaram muito mais eficazes. Estatisticamente, os questionamentos de resultados eleitorais cairam bruscamente com o emprego da maquininha.

Segundo, porque a nova forma de votar – ao contrário do que poderia parecer talvez à primeira vista – permitiu o exercício efetivo do voto a uma grande massa de brasileiros analfabetos ou precariamente alfabetizados. Isto fica patente na redução dos votos nulos e em branco. Na eleição de 1994 para deputado federal, eles somaram 34,3% do total. Em 1998, com a introdução parcial da urna eletrônica, cairam para 8,8%. E em 2002, com o voto 100% eletrônico, recuaram para 6,3%. A brusca redução se deve a eleitores que, com o sistema informatizado, passaram a conseguir expressar a sua intenção de voto, que antes se perdia.
Fora do Brasil, engatinha


A inovação, um invento tupiniquim, ainda engatinha fora do país. Foi usada no Paraguai. Quando o presidente Hugo Chávez tentou introduzi-la na convulsionada Venezuela, deparou-se com feroz resistência da oposição conservadora. Nos EUA, alguns Estados se abrem para informatizar o voto, porém dez deles têm legislação local que proíbe o sistema.


Pior para eles. Mais dia, menos dia, a urna eletrônica vai se universalizar. É um avanço, uma conquista. Os mexicanos estariam sofrendo bem menos se tivessem aderido a ela.