Neonazistas alemães queimam “O Diário de Anne Frank”

A queima do "Diário de Anne Frank, vítima do Holocausto, por extremistas de direita na parte oriental da Alemanha foi condenada nesta sexta-feira (07/07) pelo governo alemão, em meio a chamados pela intensificação dos esfor

"Este ato está abaixo do desprezível. Dificilmente poderia ter sido mais primitivo", disse o Ministério do Interior alemão. O ministério reagiu a um incidente em que três homens no Estado oriental de Saxônia-Anhalt usaram um exemplar do diário da adolescente judia para reencenar a famosa incineração de literatura "antialemã", promovida pelos nazistas em 1933.

Promotores do Estado investigam homens que também queimaram uma bandeira norte-americana diante de uma multidão estimada em mais de cem pessoas, por suspeita de incitação ao ódio racial. De acordo com relatos da imprensa, um dos homens atirou o diário nas chamas e disse: "Entrego Anne Frank ao fogo", usando palavras empregadas pelos nazistas em 1933.

"Esse incidente envergonhou a todos nós da Saxônia-Anhalt", disse o premiê estadual, Wolfgang Boehmer, ao jornal “Frankfurter Allgemeine Zeitung”. Para Boehmer, o Estado vai agir de maneira decisiva para prevenir uma repetição do incidente, que ocorreu numa comemoração do solstício do verão, no final de junho, no vilarejo de Pretzien. Detalhes do incidente vieram à tona nos últimos dias.

O nazismo em diário
"O Diário de Anne Frank" faz a crônica do período que a garota judia nascida em Frankfurt passou num esconderijo na Holanda, sob ocupação nazista. Desde sua publicação, em 1947, tornou-se um dos livros mais lidos do mundo.

Juergen Falter, especialista em extrema-direita da Universidade de Mainz, disse que não foi por acaso que os homens tomaram como alvo Anne Frank, que morreu aos 15 anos no campo de concentração de Bergen-Belsen, em 1945, e os Estados Unidos, principal potência de ocupação da Alemanha no pós-guerra. "Os dois atos andam juntos: o extremismo de direita é, ao mesmo tempo, antiamericanismo e anti-semitismo", disse.

Uma série de ataques lançados contra estrangeiros vem suscitando temores de que a violência neonazista possa estar em ascensão, desde que partidos de extrema-direita passaram a participar dos Parlamentos estaduais de dois Estados do leste da Alemanha, no final de 2004. Um porta-voz do Ministério do Interior da Saxônia-Anhalt disse que a comemoração foi promovida pelo "Heimat Bund Ostelbien", um grupo que se originou de uma organização de extrema-direita anterior da região.

"O exemplo de Pretzien é especialmente preocupante, já que nunca antes um grupo de extrema-direita foi incorporado ao cotidiano de um vilarejo e tratado como associação perfeitamente normal", disse o porta-voz. "O problema é que, no leste do país, há poucos democratas que têm a coragem necessária para se impor e impedir esse tipo de fato."