Fora da disputa, Garotinho procura espaço fora do PMDB

Por Maurício Thuswohl – Carta Maior

Ex-governador do RJ ainda busca uma maneira de ecoar sua voz nessa campanha eleitoral e fazer política a partir de 2007. Tentativa de usar o tempo do nanico PSC no rádio e na tevê durante a propaganda e

Transportado, contra a própria vontade, da condição de protagonista da disputa política nacional para um súbito e incômodo ostracismo desde que o PMDB lhe tirou da boca a candidatura à Presidência da República, Anthony Garotinho agora se esforça para recuperar terreno fora do partido. O ex-governador do Rio de Janeiro ainda busca uma maneira de ecoar sua voz nessa campanha eleitoral e procura um espaço para fazer política a partir de 2007.

A tentativa de usar como tribuna o tempo do nanico PSC no rádio e na televisão durante a propaganda eleitoral não se concretizou, pois a direção do partido decidiu privilegiar as alianças regionais em detrimento da candidatura própria no estilo “boneco de ventríloquo” sugerida por Garotinho. Outra opção de vitrine imaginada — a volta ao primeiro escalão do governo do Rio até o fim do mandato de sua mulher, a governadora Rosinha Matheus — também teve que ser abortada em respeito à nova lei estadual contra o nepotismo.

Nesse contexto, as declarações de simpatia à candidatura de Cristovam Buarque feitas durante a semana são um reflexo dessa dupla busca de Garotinho por espaço na campanha e abrigo político no ano que vem, além de alimentar a possibilidade de retorno ao PDT, opção dos sonhos do ex-governador. Ainda que a opção mais provável num primeiro momento seja mesmo o ingresso no PSC — legenda “adotada” por seu grupo político desde 2003 — o flerte com o partido que o fez surgir para a vida pública é o principal trunfo de Garotinho para se manter na primeira divisão da política nacional nos próximos dois anos e tentar nova aventura eleitoral em 2008.

Quem cuida da herança deixada por Leonel Brizola no PDT é seu presidente nacional, Carlos Lupi, que também é candidato ao governo do Rio. Não é segredo que Lupi não topa o casal Garotinho, mas ele sabe que o apoio do ex-governador nessa campanha, ainda que informal, pode ajudar o partido a superar a cláusula de barreira necessária à sua sobrevivência. Garotinho já conversou com Cristovam e sabe que, mesmo apoiando a candidatura pedetista, não poderá usar em causa própria o exíguo tempo de propaganda gratuita a que terá direito o PDT na mídia. Ainda assim, o apoio ao senador do Distrito Federal pode ser anunciado em breve por um Garotinho de olho no seu futuro político.

No calor do seu afastamento da disputa presidencial, o apoio à candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a ser ensaiado, mas a idéia foi logo abandonada devido à impossibilidade de equacionar as diferenças entre os partidos no que diz respeito às candidaturas de Eduardo Paes (PSDB) e Sérgio Cabral Filho (PMDB) ao governo do Rio de Janeiro. Além disso, o apoio a Alckmin afastaria Garotinho da posição de “terceira via” entre tucanos e petistas, papel que pretendia construir na campanha e sobre o qual pretende se apresentar daqui pra frente. No caso do PDT, não existem maiores problemas regionais, uma vez que Cabral Filho parece não considerar a candidatura de Lupi uma ameaça.

"Plano B" fracassa

Assim que passou a considerar irreversível sua derrota no PMDB, Garotinho tentou bancar a candidatura própria do PSC, uma espécie de “plano B” que iria lhe garantir cerca de dois minutos diários na propaganda eleitoral. O candidato do PSC seria Rogério Vargas, que foi secretário de Administração no governo Garotinho e é um de seus principais aliados. Vargas cederia seu espaço a Garotinho, que teria que se desfiliar do PMDB para poder participar do programa de outro partido e somente poderia ingressar na legenda após as eleições. O mesmo caminho seria seguido por Rosinha.

Apesar de nanico, o Partido Social Cristão (PSC) não é um partido novo. Fundado em 1985, a legenda sempre serviu à organização política das igrejas evangélicas, fato que permitiu a aproximação de Garotinho. Durante o processo de construção da base de apoio ao governo Rosinha na Assembléia Legislativa do Rio, no início de 2003, o casal passou a controlar o partido no estado. Desde então, além de Rogério Vargas, já se transferiram para o PSC outros aliados importantes, como o pastor Everaldo Dias (vice-presidente nacional), Antônio Oliboni (secretário nacional) e Hugo Leal (presidente regional), todos ex-secretários de Garotinho.

O “plano B” parecia bem pavimentado, mas, para surpresa de Garotinho, a convenção nacional do PSC, realizada em Brasília no dia 28 de junho, decidiu de forma diferente. Utilizando o argumento da verticalização das candidaturas, a Executiva Nacional do partido decidiu por unanimidade não lançar candidato próprio à Presidência, dando preferência à construção de alianças regionais. Apesar do controle sobre o diretório do Rio e do apoio dos sete deputados federais do partido, a articulação de Garotinho acabou sucumbindo frente às necessidades expressas pelos demais diretórios regionais. O presidente do PSC, Vítor Nósseis, resumiu a situação: “A candidatura do Vargas mais atrapalharia do que ajudaria o partido neste momento”, disse.

Candidaturas em 2008

Mesmo que não conseguisse uma janela de mídia durante a propaganda eleitoral, restaria a Garotinho o retorno ao governo do Rio, no qual, segundo o anunciado pela governadora, ele voltaria a ocupar o cargo de supersecretário de Coordenação e Governo, criado especialmente para ele: “O Garotinho volta para o meu governo na hora que quiser”, disse Rosinha. A mesma opinião, no entanto, pode não ser compartilhada pela Justiça depois que foram aprovadas no estado novas regras para vedar a prática de nepotismo no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Ainda às voltas com o Tribunal Regional Eleitoral devido às acusações de compra de votos nas eleições municipais de 2004, o casal preferiu não arriscar uma condenação à inelegibilidade.

A intenção do casal Garotinho é rearmazenar forças para voltar a disputar a preferência do eleitorado nas urnas em 2008. Para início de conversa, precisam retomar o controle político em Campos, sua cidade, perdido nas últimas eleições. Por isso, eles já anunciaram que voltam a morar no Norte Fluminense no ano que vem e é provável que Rosinha concorra à Prefeitura de Campos em 2008. Quem também quer concorrer à Prefeitura, só que na capital, é Garotinho. Os dois ainda não sabem com certeza qual legenda os irá abrigar no caso bem provável de o PSC não atingir a cláusula de barreira. A ida para o PDT, nesse caso, seria fundamental, sobretudo na difícil disputa que terá Garotinho na cidade do Rio. Se for derrotado novamente em 2008, Garotinho terá que esquecer de uma vez por todas suas pretensões presidenciais.