Quinta-coluna: o fator HH muda o cenário eleitoral
Com o crescimento de Heloísa Helena e a queda de Lula, desenha-se pela primeira vez a chance de a eleição só ser decidida no segundo turno.
Publicado 16/07/2006 00:30
O cenário eleitoral para outubro ganha um novo contorno. A segunda rodada da pesquisa CartaCapital/Vox Populi, embora ainda aponte para a vitória de Lula (PT) no primeiro turno, joga essa possibilidade, no entanto, para a margem de erro da pesquisa, calculada em 2,2%. Se a corrida eleitoral se encerrasse hoje, o presidente da República, com 42% das intenções de voto, ganharia no olho mecânico. A soma dos votos de seus adversários alcançaria 40%: Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a 32%, Heloísa Helena (PSOL) a 7% e Cristovam Buarque (PDT) manteria 1%. Os outros candidatos (José Maria Eymael, do PSDC; Luciano Bivar, do PSL; e Rui Pimenta, do PCO) somariam, juntos, menos de 0,5%.
O desempenho da senadora Heloísa Helena pode ser o fator determinante para a realização de um segundo turno eleitoral em outubro. Esse fator HH traduz-se em uma candidatura que cresce em marcha lenta. A ex-petista, candidata pelo recém-criado PSOL, tinha 6 pontos no fim de maio, caiu para 5% no fim de junho e, agora, chega a 7%. Um crescimento que, em princípio, guarda uma relação direta com os porcentuais perdidos por Lula. Mais precisamente, com uma parte dos eleitores definidos como “de esquerda”, que migraram do PT em razão da crise do caixa 2 ou em busca de opções políticas menos conservadoras.
As informações obtidas pelo cruzamento de dados, tendo como parâmetro a renda familiar, mostram o tucano disparando na faixa de eleitores que ganham acima de dez salários mínimos, no topo da pirâmide de classe. Em maio, Lula perdia de Alckmin por 3%. O petista tinha 35% e o tucano, 38%. Agora, Alckmin parece ter empolgado definitivamente esse núcleo identificado como sendo o “mais rico”. Ele tem 46% das intenções de voto contra 28% de Lula. Nessa faixa salarial, a senadora Heloísa Helena subiu de 7% para 9%. Pela primeira vez, Alckmin superou Lula na faixa imediatamente anterior a essa, que compõe a difusa e insatisfeita classe média. Ou seja, o grupo que ganha entre cinco e dez mínimos. Em maio o confronto ficava assim: Lula 40% e Alckmin 29%. Agora fica assim: Lula 34% e Alckmin 36%. A candidata do PSOL engordou seus porcentuais com eleitores dessa faixa de renda. Em maio ela tinha 7% das intenções de voto. Agora tem 11%.
Lula mantém a preferência entre os mais pobres. Continua com uma diferença expressiva entre os que ganham até um salário mínimo: tem 57% (era 62%) contra 20% (era 9%) do seu principal adversário. Na faixa de um a cinco mínimos, Lula tem 42% (tinha 49%) e Alckmin tem 31% (tinha 23%).
Ao levar em consideração a referência da escolaridade dos eleitores, fica mais claro que o confronto eleitoral ganha, cada vez mais, uma clivagem de classe. Esse é um dado que, como se sabe, inquieta os petistas. Entre os eleitores com ensino superior, Lula tem 31% (era 33% em junho) das intenções de voto e Alckmin, 44% (era 30%). Entre os eleitores com escolaridade até a quarta série do ensino fundamental, Lula alcança 51% (tinha 57%) e Alckmin atinge 23% (tinha 18%).
Todas as demais variáveis da sondagem mostram que os números, para Lula, pioraram de uma maneira geral. Para Alckmin, ao contrário, as coisas melhoraram. Perguntado sobre o candidato que tem mais chance de ganhar as eleições, o eleitor apontou Lula com 62% e Alckmin com 21%. Em maio, no entanto, Lula tinha 64% e Alckmin, 16%. O petista baixou 2 pontos porcentuais e o tucano subiu 5%.
Um indicador importante no universo numérico das pesquisas é o índice de rejeição. Na pesquisa divulgada em maio, Lula tinha 16% de rejeição entre os eleitores que indicavam o nome dele como a principal rejeição (recebia 7% como segunda opção de rejeição). Geraldo Alckmin tinha 4% (e subia para 12% nas respostas de segunda opção). O quadro agora fica assim: Lula é apontado como o mais rejeitado (com 26%) na primeira resposta e por 5% na segunda resposta.
Esse cenário que indica importantes modificações favoráveis a Alckmin (embora ainda confirme Lula como vencedor no primeiro turno) sugere, pela primeira vez, a possibilidade concreta de segundo turno. Talvez, por isso, a projeção do resultado da eleição, numa segunda rodada eleitoral, tenha aproximado os dois principais postulantes à cadeira presidencial. Em maio, Lula bateria Alckmin por 51% a 33%. Fosse agora, o resultado se daria com a vitória de Lula por 45% a 40%. Páreo bem mais duro.
Fonte: revista CartaCapital