Noam Chomsky: A proximidade do apocalipse

''Na semana passada, um grupo de intelectuais de renome publicou uma carta aberta culpando Israel pela escalada militar no Oriente Médio. A carta, que se referia principalmente ao alinhamento de forças entre Israel e a Autoridade Palesti

''A carta foi formulada pelo crítico de arte e escritor John Berger e entre os seus signatários estão o dramaturgo Harold Pinter, Prémio Nobel; o lingüista Noam Chomsky, Prêmio Nobel, o escritor José Saramago, Prêmio Nobel; a escritora Arundhati Roy, Prêmio Booker; o escritor americano Russell Banks; o escritor e dramaturgo Gore Vidal; e o historiador americano Howard Zinn.


 


Professor Chomsky, o senhor afirmou que toda a provocação e contra-provocação serve para distrair da questão real. O que significa isso?


 


Suponho que está se referindo à carta de John Berger (que eu assinei, juntamente com outros). A ''questão real'' que está a ser ignorada é a destruição sistemática de quaisquer perspectivas para a existência palestina viável quando Israel anexa terras e os principais recursos, deixando os territórios reduzidos assinalados aos palestinos como cantões inviáveis, amplamente separados uns dos outros e do pedacinho de Jerusalém deixado ao palestinos, além de completamente aprisionados quando Israel toma o vale do Jordão.


 


Este programa de reestruturação, cinicamente disfarçado como ''retirada'', é naturalmente completamente ilegal, viola resoluções do Conselho de Segurança e a decisão unânime do Tribunal Mundial (incluindo a declaração divergente do juiz americano Buergenthal). Se for implementado tal como planeado, isto significa o fim de um consenso internacional muito vasto sobre uma solução de dois estados que os EUA e Israel têm bloqueado unilateralmente durante 30 anos — assuntos que estão tão bem documentados que não precisarei revê-los aqui.


 


Voltando à sua questão específica, mesmo uma vista casual à imprensa do ocidente revela que os desenvolvimentos cruciais nos territórios ocupados são ainda mais marginalizados com a guerra no Líbano. A destruição em curso em Gaza — a qual foi raramente relatado com seriedade com o destaque devido — desvaneceu-se dentro das questões gerais, e a tomada sistemática da Cisjordânia virtualmente desapareceu.


 


Contudo, eu não iria até o ponto implícito na sua pergunta de que isto foi um propósito da guerra, embora seja claramente o efeito. Deveríamos recordar que Gaza e a Cisjordânia são reconhecidos como uma unidade, de modo que se a resistência aos programas destrutivos e ilegais de Israel é legítima dentro da Cisjordânia (e seria interessante ver um argumento racional em contrário), então é legítima também em Gaza.


 


O senhor afirma que as mídias mundiais recusam-se a fazer a ligação entre o que está a acontecer nos territórios ocupados e no Líbano?


 


Sim, mas essa é a menor das acusações que deve ser feita contra as mídias mundiais, e na generalidade contra as comunidades intelectuais. Uma das muito mais severas é levantado no parágrafo de abertura da carta de Berger.


 


Recorde os fatos. Em 25 de junho o sargento Gilad Shalit foi capturado, provocando enormes gritos de ultraje por todo o mundo, continuados diariamente de forma berrante, e uma escalada aguda nos ataques israelenses a Gaza, apoiado na base de que a captura de um soldado é um crime grave pelo qual a população deve ser punida.


 


Na véspera, em 24 de julho, forças israelenses haviam sequestrado dois civis de Gaza, Osama e Mustafa Muamar, o que de acordo com todos os critérios é de longe um crime mais grave do que a captura de um soldado. Os sequestros de Muamar certamente chegaram ao conhecimento das principais mídias do mundo. Eles foram relatados de imediato na imprensa israelense de língua inglesa, basicamente em nota de imprensa das IDF (Israel Defense Forces – nome fantasia para o exército israelense. N. da redação). E houve uns poucos, breves, dispersos e desdenhosos relatos em vários jornais nos EUA.


 


De forma muito reveladora, não houve comentários, nenhuma comentário posterior e nenhum apelo a ataques militares ou terroristas contra Israel. Um pesquisa no Google revelará rapidamente o significado relativo no ocidente do seqüestro de civis pelas IDF e a captura de um soldado israelense no dia seguinte.


 


Os eventos postos lado a lado, com um dia de intervalo, demonstram com dura clareza que o show de ultraje em torno da captura de Shalit foi uma fraude cínica. Eles revelam que pelos padrões morais do ocidente, o seqüestro de civis é perfeitamente justo se for feito pelo ''nosso lado'', mas a captura de um soldado do ''nosso lado'' no dia seguinte é um crime desprezível que exige a punição severa da população.


 


Como escreveu com precisão Gideon Levy em Haaretz, o seqüestro de civis pelas IDF na véspera da captura do sargento Shalit desnuda qualquer ''base legítima para a operação das IDF'' e, podemos acrescentar, qualquer base legítima para o apoio a estas operações.


 


Os mesmo princípios morais elementares aplicam-se ao sequestro de 12 de julho dos dois soldados israelenses perto da fronteira do Líbano, intensificado, neste caso, pela prática regular israelense durante muitos anos de seqüestrar libaneses e manter muitos deles como reféns por longos períodos.


 


Verdadeiramente deplorável


 


Ao longo dos muitos anos em que Israel executou tais práticas de forma regular, mesmo com seqüestros em alto mar, ninguém argumentou que estes crimes justificavam o bombardeamento de Israel, a invasão e destruição de grande parte do país, ou ações terroristas dentro dele. As conclusões são cabais, claras e totalmente sem ambiguidades — portanto são suprimidas.


 


Tudo isto é, obviamente, de importância extraordinária no caso presente, particularmente neste momento dramático. É por isso, suponho, que as mídias ''de referência'' preferem evitar os fatos cruciais, além de umas poucas frases dispersas e desdenhosas, revelando que elas consideram o seqüestro um assunto sem importância quando executado pelas forças israelenses apoiadas pelos EUA.


 


Apologistas de crimes de estado afirmam que o seqüestro dos civis em Gaza é justificado pelas afirmações das IDF de que eles são ''militantes do Hamas'' ou plnejavam crimes. Pela sua lógica, eles deveriam portanto estar a louvar a captura de Gilad Shalit, um soldado de um exército que estava a bombardear Gaza. Estas atuações são verdadeiramente desgostantes.


 


Está a falar em primeiro lugar e antes de tudo acerca do reconhecimento da nação palestina, mas será que isto resolverá a ''ameaça iraniana''? Será que isto afastará o Hezbolá da fronteira israelense?


 


Virtualmente todos os observadores informados concordam que uma resolução justa e eqüitativa do problema dos palestinos enfraqueceria consideravelmente a raiva e o ódio a Israel e aos EUA nos mundos árabe e muçulmano — e até muito além, como revelam inquéritos internacionais. Tal acordo está certamente ao alcance das mãos, se os EUA e Israel abandonarem o seu rejeicionismo tradicional.


 


Sobre o Irã e o Hezbolá há, naturalmente, muito mais a dizer, e posso mencionar aqui apenas uns poucos pontos centrais.


 


Vamos principiar pelo Irã. Em 2003 o Irã ofereceu-se para negociar todas as questões pendentes com os EUA, incluindo a questão nuclear e uma solução de dois estados para o conflito Israel-Palestina. A oferta foi feita pelo moderado governo Khatami com o apoio do ''supremo líder'' linha dura do aiatolá Ali Khamenei. A resposta da administração Bush foi censurar o diplomata suíço que transmitiu a oferta.


 


Em junho de 2006 o aiatolá Khamenei emitiu uma declaração oficial afirmando que o Irã concorda com os países árabes sobre a questão da Palestina, o que significava a aceitação do apelo de 2002 da Liga Árabe para a plena normalização de relações com Israel num acordo dois estados com o consenso internacional. O momento sugere que isto pode ter sido uma reprimenda ao seu subordinado Ahmadenijad,  cujas declarações inflamadas é dada vasta publicidade, ao contrário daquelas muito mais importantes do seu superior Khamenei.


 


A OLP, naturalmente, apoiou oficialmente uma solução de dois estados durante muitos anos e apoiou a proposta de 2002 da Liga Árabe. O Hamas também indicou a sua disposição de negociar um acordo dois estados, como certamente é bem sabido em Israel. Considera-se que Kharazzi é o autor da proposta de 2003 de Khatami e Khamenei.


 


Os EUA e Israel não querem ouvir nada disto. Eles também não querem ouvir que o Irã parece ser o único país aceitar a proposta do diretor da AIEA, Mohammed el Baradei, de que todas os materiais físseis utilizáveis em armas fossem colocados sob controle internacional, um passo rumo a um Tratado de Eliminação de Materiais Físseis (Fissile Materials Cutoff Treaty, FMCT) verificável.


 


A proposta de el Baradei, se aplicada não só finalizaria a crise nuclear iraniana como também trataria de uma crise muitíssimo mais séria. A crescente ameaça de guerra nuclear, a qual levou eminentes analistas estratégicos a advertirem do 'apocalipse em breve' (Robert McNamara) se as políticas continuarem o seu curso atual.


 


Os EUA opõem-se fortemente ao FMCT verificável, mas para além das objeções americanas, o tratado foi a votos na Nações Unidas, onde foi aprovado por 147 contra 1, com duas abstenções: Israel, o qual não se pode opor ao seu patrão, e mais curiosamente o Reino Unido de Blair, que retém um grau de soberania. O embaixador britânico declarou que o Reino Unido apoia o tratado, mas ele ''divide a comunidade internacional''. Isto, mais uma vez, são assuntos virtualmente suprimidos fora do círculos de especialistas, e são assuntos de sobrevivência literal das espécies, estendendo-se muito para além do Irã.


 


Costuma-se dizer que a 'comunidade internacional' apelou ao Irã a que abandonasse o seu direito de legal de enriquecer urânio. Isto é verdade, se definirmos a 'comunidade internacional' como Washington quer e seja quem for que o acompanhe. Não é certamente verdadeiro em relação ao mundo. Os países não alinhados confirmaram vigorosamente o ''direito inalienável'' do Irã a enriquecer urânio. E, particularmente notável, na Turquia, Paquistão e Arábia Saudita, a maioria das populações é a favor mais da aceitação de um Irã com armamento nuclear do que de qualquer ação militar americana, revela pesquisas internacionais.


 


Os países não alinhados também apelaram para um Oriente Médio livre de armas  nucleares, um pedido antigo da autêntica comunidade internacional, mais uma vez bloqueado pelos EUA e Israel. Deveria ser reconhecido que a ameaça das armas nucleares israelenses deve ser tomada muito seriamente no mundo.


 


Como explicado pelo antigo comandante-em-chefe do US Strategic Command, general Lee Butler, ''é extremamente perigoso que no caldeirão de animosidades a que chamamos Oriente Médio, um país se tenha armado, ostensivamente, com acumulação de armas nucleares, talvez da ordem das centenas, e que inspire outros países a fazerem o mesmo''. Israel não está a fazer qualquer favor a si próprio se ignorar estas preocupações.


 


Também tem algum interesse que quando o Irã era dirigido pelo tirano instalado por um golpe militar americano-britânico (xá Reza Pahlevi), os Estados Unidos — incluindo Rumsfeld, Cheney, Kissinger, Wolfowitz e outros — apoiaram fortemente os programas nucleares iranianos que agora condenam e ajudaram a proporcionar ao Irã os meios para prossegui-los. Estes fatos certamente não são esquecidos pelos iranianos, assim como não esqueceram o apoio muito forte dos EUA e dos seus aliados a Saddam Hussein durante a sua agressão assassina, incluindo ajudas no desenvolvimento de armas químicas que mataram centenas ou milhares de iranianos.


 


Meios pacíficos


 


Há muito mais a dizer, mas parece que a ''ameaça iraniana'' a que se refere poderia ser abordada por meios pacíficos se os EUA e Israel concordassem. Não podemos saber se as propostas iranianas são sérias, a menos que sejam exploradas. A recusa americano-israelense a explorá-las, e o silêncio das mídias dos EUA (e, que eu saiba, dos europeus) sugere que os governos temem que elas possam ser sérias.


 


Eu deveria acrescentar que para o mundo exterior isto soa um bocado bizarro, para dizer suavemente, pois os EUA e Israel advertem da ''ameaça iraniana'' quando eles e só eles estão a emitir ameaças de lançar um ataque, ameaças que são imediatas e críveis, e em séria violação do direito internacional, e estão a preparar muito abertamente um tal ataque. Seja o que for que se pense do Irã, nada deste tipo de acusação pode ser feita no seu caso. Também é aparente para o mundo, se não para os EUA e Israel, que o Irã não invadiu quaisquer outros países, algo que os EUA e Israel fazem regularmente.


 


Também acerca do Hezbolá há questões duras e sérias. Como é bem conhecido, o Hezbolá foi formado em reação à invasão israelense do Líbano em 1982 e da dura e brutal ocupação em violação das ordens do Conselho de Segurança. Ele ganhou prestígio considerável ao desempenhar o papel de líder na expulsão dos agressores.


 


A invasão de 1982 foi executada depois de Israel ter bombardeado o Líbano regularmente, durante um ano, tentando desesperadamente provocar alguma violação pela OLP da trégua de 1981, e quando isto fracassou atacou de qualquer maneira, sob o ridículo pretexto de que o embaixador Argov fora ferido (por Abu Nidal, que estava em guerra com a OLP). A invasão foi claramente destinada, como virtualmente reconhecido, a acabar com as embaraçosas iniciativas da OLP por negociações, uma ''verdadeira catástrofe'' para Israel, como destacou Yehoshua Porat.


 


Pretextos vergonhosos


 


Era, como descrito na altura, uma ''guerra pela Cisjordânia''. As últimas invasões também tiveram pretextos vergonhosos. Em 1993 o Hezbolá havia violado ''as regras do jogo'', anunciou Yitzhak Rabin: estas regras israelenses permitiam a Israel executar ataques terroristas a norte das ''zona de segurança'' mantida ilegalmente, mas não permitiam retaliação dentro de Israel. A invasão de 1996 de Peres teve pretextos semelhantes. É conveniente esquecer tudo isto, ou cozinhar contos acerca do bombardeio da Galiléia em 1981, mas não é uma prática atraente, nem de alguém sensato.


 


O problema das armas do Hezbolá é bastante sério, não duvido. A Resolução 1559 apela ao desarmamento de todas as milícias libanesas, mas o Líbano não cumpriu aquela disposição. O primeiro-ministro, sunita, Fuad Siniora descreve a ala militar do Hezbolá como ''resistência ao invés de uma milícia'', e portanto isentou-a da Resolução 1559.


 


Um Diálogo Nacional em junho de 2006 não conseguiu resolver o problema. Sua principal finalidade era formular uma ''estratégia de defesa nacional'' (em relação a Israel), mas ficou num beco sem saída com o apelo do Hezbolá a ''uma estratégia de defesa que permita à Resistência Islâmica manter suas armas como uma dissuasão à possível agressão israelense'', na ausência de qualquer alternativa crível. Os EUA podia, se quisessem, proporcionar uma garantia crível contra uma invasão da parte do seu estado cliente, mas isso exigiria uma guinada aguda na sua política tradicional.


 


Como pano de fundo estão fatos cruciais enfatizados por vários correspondentes veteranos no Oriente Médio. Rami Khouri, agora editor do Daily Star do Líbano, escreve que ''os libaneses e os palestinos responderam aos persistentes e cada vez mais selvagens ataques de Israel contra populações civis inteiras criando lideranças paralelas ou alternativas que possam protege-las e efetuar serviços essenciais''.


 


Não se refere, na sua carta, às baixas israelenses. Haverá diferenciação, na sua opinião, entre baixas de guerras civis israelenses e baixas libanesas ou palestinas?


 


Isso não é exato. A carta de John Berger é muito explícita acerca de não fazer distinção entre baixas israelenses e outros. Como declara sua carta: ''Tantas categorias de mísseis despedaçam corpos horrivelmente — quem, exceto comandantes de campo, pode esquecer isto por um momento''.


 


Afirmou que o mundo está a cooperar com a invasão israelense do Líbano e não interfere nos acontecimentos de Gaza e Jenin. A que se destina este silêncio?


 


A grande maioria do mundo nada pode fazer senão protestar, embora seja plenamente expectável que a cólera intensa e o ressentimento provocado pela violência americano-israelense — como no passado — demonstrar-se-á ser uma prenda para os elementos mais extremistas e mais violentos, mobilizando novos recrutas para a sua causa.


 


Tiranias árabes apoiadas pelos EUA condenaram o Hezbolá, mas são forçadas a recuar devido ao medo das suas próprias populações. Mesmo o rei Abdullah, da Arábia Saudita, o mais leal aliado de Washington (e o mais importante), foi obrigado a dizer que ''Se a opção da paz for rejeitada devido à arrogância israelense, então a única opção que resta é a guerra, e ninguém sabe quais repercussões que sobreviriam à região, incluindo guerras e conflitos que não poupariam ninguém, incluindo aqueles cujo poder militar está agora a tentá-los brincar com o fogo''.


 


Quanto à Europa, tem má vontade em tomar uma posição contra a administração americana — que tornou claro apoiar a destruição da Palestina e a violência israelenses. Em relação à Palestina, a posição de Bush é extrema e tem suas raízes em políticas anteriores. A semana em Taba, em janeiro de 2001, é a única interrupção real no rejeicionismo americano em 30 anos.


 


Anteriormente os EUA também apoiaram fortemente invasões israelenses do Líbano, embora em 1982 e em 1996 tenha obrigado Israel a terminar sua agressão quando as atrocidades estavam a atingir um ponto que prejudicavam os interesses americanos.


 


Infelizmente, podemos generalizar um comentário de Uri Avnery acerca do general  Dan Halutz, que ''via o mundo abaixo de si através de um visor de bombardeiro''. O mesmo também é verdadeiro para Rumsfeld-Cheney-Condoleezza, e outras figuras de topo da administração Bush, apesar de ocasionais retóricas tranquilizantes. Como revela a história, tal visão do mundo não é incomum entre aqueles que possuem um monopólio virtual dos meios de violência, com consequências que não precisamos rever.


 


O que será o próximo capítulo neste conflito do Oriente Médio, tal como o vê?


 


Não conheço ninguém suficientemente temerário para prever. Os EUA e Israel estão a empolgar forças populares que são muito ameaçadoras, e que somente ganharão em poder e que se tornarão mais extremistas se os EUA e Israel persistirem em demolir qualquer esperança de realização dos direitos nacionais palestinos, e destruírem o Líbano. Também deveria ser reconhecido que a preocupação primária de Washington, tal como no passado, é não Israel e o Líbano, mas os vastos recursos energéticos do Oriente Médio, reconhecidos 60 anos atrás serem uma ''estupenda fonte de poder estratégico'' e ''um dos maiores prêmios materiais da história mundial''.


 


Podemos esperar com certeza que os EUA continuarão a fazer o que puderem para controlar esta fonte de poder estratégico sem paralelo. Isso pode não ser fácil. A incompetência notável dos ideólogos de Bush criou uma catástrofe no Iraque, para os seus próprios interesses também. Eles estão mesmo a enfrentar a possibilidade do pesadelo final: uma aliança xiita a controlar as maiores fontes de energia do mundo, e independente de Washington — ou ainda pior, a estabelecer ligações mais estreitas com a Asian Energy Security Grid e o Conselho de Cooperação de Xangai, com base na China.


 


Os resultados poderiam ser realmente apocalípticos. E mesmo no pequeno Líbano, o principal acadêmico libanês do Hezbolá, e um duro crítico da organização, descreve o atual conflito em ''termos apocalípticos'', advertindo que possivelmente ''Todo o inferno seria solto'' se o resultado da campanha americana-israelense for uma situação em que ''a comunidade xiita ficar a ferver de ressentimento para com Israel, os Estados Unidos e o governo que perceber como seu traidor''.


 


Não é segredo que nos últimos anos Israel ajudou a destruir o nacionalismo secular árabe e a criar o Hezbolá e o Hamas, assim como a violência americana promoveu a ascensão do extremismo fundamentalista islâmico e o terror da jihad. As razões são compreendidas. Há constantes advertências acerca disto nas agência de inteligência ocidentais, e da parte dos principais especialistas nestes assuntos.


 


Alguém pode enterrar a cabeça na areia e confortar-se no ''consenso difuso'' de que aquilo que queremos fazer é ''justo e moral'' (Maoz), ignorando as lições da história recente, ou a simples racionalidade. Ou pode enfrentar os fatos e abordar os dilemas, que são muito sérios, por meios pacíficos. Eles estão disponíveis. O seu êxito nunca pode ser garantido. Mas podemos estar razoavelmente de que ver o mundo através de uma mira de bombardeiro trará novas misérias e sofrimentos, talvez mesmo o 'apocalipse para daqui a pouco''.


 


O original encontra-se em http://www.zmag.org/sustainers/content/2006-08/08chomsky.cfm (Fundada em 1988, a Z Magazine é uma revista mensal independente de análise crítica da vida política, cultural, social e econômica dos EUA)


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/.