Pobres israelenses são os que mais sofrem com agressão contra Líbano

A parte mais pobre e mais fraca da população no norte de Israel é a mais atingida pela guerra. Aqueles que tinham condições, fugiram das áreas de risco. Os que ficaram são familias pobres e numerosas, idosos, doentes e deficientes fisicos, que estão fecha

Com o passar do tempo, a situação dessas pessoas se torna mais grave. Para muitos israelenses, o Estado tem sido omisso, não assumindo a sua responsabilidade de cuidar dessa população. Nas cidades de Kiriat Shmone, Nahariya e Tzfat, que já foram atingidas por centenas de foguetes, os civis que ficaram não ousam sair dos abrigos antiaéreos, pois nunca se sabe quando haverá um novo ataque.


 


Falta de alimentos


 


A mídia local informa que há falta de alimentos e medicamentos nesses abrigos, e as condições às quais a população está sujeita são precárias. O governo israelense não tomou providências para auxiliar a população sem recursos antes de iniciar a agressão ao Líbano.


 


Quando o Hezbolá começou contra-atacar, lançando foguetes contra o norte de Israel, a população, que foi instruída a correr para os abrigos antiaéreos, encontrou muitas vezes porões sujos, sem eletricidade, sem ventilação, em pleno verão, em uma temperatura que pode chegar a mais de 35 graus.


 


O historiador Gadi Elgazi, da Universidade de Tel Aviv, atribui o que considera a omissão do Estado à politica econômica neoliberal adotada pelo governo na última década. “Esta guerra ocorre depois de anos de uma privatização acelerada. O governo privatizou os serviços básicos e se retirou de sua responsabilidade sobre várias das áreas ligadas ao bem-estar social de seus cidadãos”, disse Elgazi à BBC Brasil.


 


Diferenças de classe


 


“Como ocorreu na época do furacão Katrina, em Nova Orleans, são os mais pobres que estão arcando com o maior ônus, mas acho que no caso de Israel a situação é ainda mais grave do que lá, pois o furacão foi um desastre da natureza, mas a ampla ofensiva no Líbano foi feita por decisão do governo israelense, que não se preocupou com as pessoas na retaguarda”, disse.


 


Segundo o advogado Yuval Albashan, que dirige uma ONG que defende a responsabilidade social, “a omissão do Estado é uma vergonha e a situação das pessoas que ficaram nos abrigos antiaéreos se aproxima do desespero”. “A guerra expôs as diferenças de classe em Israel e o governo não vai poder continuar ignorando este problema.”


 


Vários israelenses exigem que o governo conduza a evacuação em massa da população das cidades mais atingidas. “Durante a blitz em Londres o governo britânico retirou as mulheres e as crianças das áreas de risco”, disse o ex-ministro Yossi Sarid ao canal 10 da TV israelense, “e afinal de contas, Londres é um pouco maior do que Kiriat Shmone”.


 


“Pobres vão pagar em dobro”


 


Para a jornalista Ruti Sinai, do jornal Haaretz, o governo não conduz uma evacuação organizada da população por receio de um grande número de “refugiados”, dos altos custos, e também por não querer “ferir a imagem da 'força' da retaguarda israelense”.


 


O psicólogo Roni Berger, especialista em psicologia de massas, alerta para os possíveis efeitos de longo prazo, do trauma que a população no norte de Israel está vivendo. “Infelizmente os efeitos serão de longa duração, essas pessoas deverão sofrer de sintomas pós-traumáticos, que poderão incluir problemas emocionais e somáticos graves”.


 


De acordo com o analista econômico Nehemia Strassler, “os pobres vão pagar em dobro”. Em artigo no jornal Haaretz, o analista afirma que a guerra vai levar a uma mudança significativa na ordem de prioridades do governo e canalizar mais orçamentos para fins militares e menos para fins sociais.


 


“No dia 12 de julho, Ehud Olmert e Amir Peretz não só decidiram iniciar uma guerra de grandes dimensões como também mudaram totalmente a ordem de prioridades do Estado de Israel. Eles de fato deixaram claro, sem dizê-lo explicitamente, que os belos planos ligados às questões sociais, saúde e educação, vão ter que esperar por uma outra oportunidade. Isso tambem faz parte do preço da guerra.”