Ciclo de conferências discute 'O esquecimento da política'

    O que Política e Cultura têm em comum num mundo onde a barbárie, incentivada pelo capitalismo global, dá as cartas? O seminário «O Esquecimento da Política _ Cultura e Pensamento em Tempos de Incerteza», que começa nesta quinta, às 1


    O simpósio, que também acontece em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília, é organizado pelo jornalista e professor Adauto Novaes, habitual realizador de seminários,  todos metamorfoseados em livros como «O Olhar», «Os Sentidos da Paixão», «O Desejo», «Tempo e História», «Libertinos, Libertários» e, ano passado, «O Silêncio dos Intelectuais».



    Estarão na capital mineira intelectuais do calibre de Francisco de Oliveira, Franklin Leopoldo e Silva, Pascal Dibie, Luiz Felipe de Alencastro, Marcelo Coelho, Francis Wolff, Miguel Abensour, Jean-Pierre Dupuy, Jean-Michel Rey, Newton Bignotto e Sérgio Paulo Rouanet. São pensadores de áreas distintas, o que explicita a intenção plural do seminário.



    Além disso, a partir de 8 de setembro, o Cine Usiminas Belas Artes exibe a mostra «O Cinema que Reinventa a Política», atração complementar ao simpósio, com curadoria do crítico de cinema Jean-Michel Rey, da notória revista francesa «Cahiers Du Cinema». Serão exibidos, até 14 de setembro, filmes como «A Comédia do Poder» (Claude Chabrol), «Amantes Constantes» (Phillippe Garrel), «O Pequeno Tenente (Xavier Beauvois), «A Traição» (Phillipe Faucon), «A Criança» (Jean-Pierre e Luc Dardenne) e «O Homem sem Passado» (Aki Kaursimaki).


 


    O organizador Adauto Novaes observa que «O Esquecimento da Política» é o segundo ciclo de conferências da trilogia sobre cultura e pensamento nestes tempos de confusão intelectual. O primeiro, «O Silêncio dos Intelectuais», realizado ano passado e transformado em livro homônimo, publicado no início deste mês pela Companhia das Letras, de São Paulo (SP), tenta desvendar, de acordo com Novais, os mecanismos que levam a essa espécie muito peculiar de silêncio. O terceiro simpósio, a ser realizado em 2007, vai investigar as relações íntimas entre a política, a religião e a utopia.


 


    «Todos, ou quase todos, concordam com o diagnóstico de que vivemos um momento de incerteza e desordem. Em qualquer domínio da atividade, seja nas esferas do saber e do poder, nos costumes e mentalidades, notamos transformações sem precedentes», salienta Novaes.
Ele frisa que «a política é parte dessas mutações e desse caos. Já se disse que a imagem de um caos é um caos e que, ao voltarmos o olhar para esta imagem, muitas vezes nossa reflexão tende a tornar-se mais perturbadora ainda. O olhar corre o risco de perder-se, ao concentrar o trabalho do pensamento nessa coisa ao mesmo tempo brilhante e obscura que é a imagem do esquecimento». Sendo a política, hoje, um dos objetos privilegiados do esquecimento, é preciso, inicialmente, voltar nosso olhar às origens desse esquecimento, para só então chegar à coisa propriamente esquecida. «Uma das formas do esquecimento da política está na ausência de conceitos, mais ou menos precisos, mais ou menos provisórios, que até pouco tempo serviam de pontos de referência para a prática», afirma. «Esse saber teórico, que procurava dar conta da idéia de totalidade que a política pede, decompõe-se hoje em teorias parciais, voláteis e puramente instrumentais. O ciclo de conferências pretende circunscrever esse tema tão abrangente» salienta Novaes.



    Um dos nomes mais aguardados do seminário é o do cientista político Sérgio Paulo Rouanet, autor de obras-primas como «As Razões do Iluminismo» e «O Espectador Noturno». Ele lembra que muitos se queixam da tendência à politização excessiva de certos temas e atividades. Exemplo disso seria a exploração eleitoral dos assassinatos de rua recentemente ocorridos na capital paulista. «E se tudo isto fosse um mal-entendido? E se em vez de política demais, tivéssemos política de menos? E se em vez da hipertrofia do político, estivéssemos assistindo ao recuo da esfera pública ou à atrofia do político?» _ indaga Rouanet, ao seu modo predileto, apostando na argumentação e na reflexão.



    Para o ensaísta, a política anda deslocada por elementos como a tecnoburoracia, a religião, o terrorismo, a dominação imperial e a programação genética. «Trata-se de um processo global, fortalecido por déficits internos de democracia, que talvez conduza, no limite, a um estado de coisas em que a própria recordação de que num certo momento do seu passado, a humanidade julgou possível regular a vida social pelo discurso e pela ação política, sucubam ao esquecimento. Ou será que a amnésia já se instalou?», questiona Rouanet.


 


    Os debates contam com transmissão, em tempo real, para cerca de 200 universidades federais do país. Assita ao vivo pela internet, durante a realização do evento, no link http://gtvd.rnp.br/d-webtv.jsp?id=POLITICA.



    «O Esquecimento da Política» _ Seminário organizado por Adauto Novaes. A partir de quinta-feira, às 19 horas, no Museu Histórico Abílio Barreto – lotação de 120 lugares – (Avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim, telefone 3277-8573). As inscrições – R$ 30 e R$ 15 (estudantes)-, na capital mineira, devem ser feitas no próprio Museu, cujo telefone é (31) 3277-8573, ou no Ieat, que fica na sala 7003 do prédio da Reitoria da UFMG (avenida Antônio Carlos, 6627 – campus Pampulha).


 


    Mais informações, no Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares, pelos telefones (31) 3499-4123 e 3499-5509.


 


Confira os temas, as datas e os conferencistas da edição mineira do evento:


 


Agosto
24 – A colonização da política, com Chico Oliveira
25 – Moralidade como política, com Franklin Leopoldo e Silva
31 – A política sem nome, com Pascal Dibie


 


Setembro
1º – Esquecimento e memória, com Luiz Felipe Alencastro
4 – A política dos acontecimentos, com Marcelo Coelho
8 – Esquecimentos da política ou desejos de outras políticas, com Francis Wolff
11 – Do bom uso da hipótese da servidão voluntária, com Miguel Abensour
14 – A tentação de apagar a política com a técnica, com Jean Pierre Dupuy
15 – Sedução da crença e o princípio anarquia, com Jean Michel Rey
18 – Uma sociedade sem virtudes, com Newton Bignotto.


 


Fonte: Jornal Hoje em Dia e Portal UFMG