Chantagem: EUA só encerram embargo se Cuba “americanizar”
Os Estados Unidos, país que mais patrocinou ditaduras na história, querem impor eleições livres e pluripartidárias a Cuba. Segundo o subsecretário americano de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, o embargo imposto aos cubanos há 44 anos po
Publicado 23/08/2006 21:21
Chantagista e anti-soberana, a “oferta” da Casa Branca foi reiterada nesta quarta-feira (23/8), na capital Washington. Na verdade, Thomas Shannon disse que continua valendo a proposta, já feita pelo governo americano em 2002 – e rejeitada de imediato pelo governo cubano na época. “Para nós a oferta continua na mesa”, afirmou Shannon numa entrevista coletiva com jornalistas estrangeiros na capital americana.
Os Estados Unidos receitam elementos políticos curiosos para Cuba. Falam em regime democrático, embora as eleições americanas de 2000 continuem sob a marca da fraude e os Estados Unidos sejam a nação mais imperialista do mundo. Falam em legalização de partidos, como se o regime em vigor nos Estados Unidos privilegiasse tão mais do que os dois partidos tradicionais, ofuscando os demais.
E mais: falam em respeito aos direitos humanos, ainda que não haja um caso sequer de tortura em Cuba, ao contrário do que o Exército estadunidense faz e desfaz no Iraque. Sem contar o caso dos cinco ativistas cubanos presos nos Estados Unidos por lutarem contra o terrorismo. Os Cinco são vistos em Cuba e no restante do mundo como heróis – e sua liberdade é objeto de uma campanha mundial ao longo dos últimos anos.
A lógica de Washington
A proposta de Thomas Shannon depende de uma coalizão entre republicanos e democratas. O embargo, afinal, só pode ser modificado com aprovação do Congresso. As primeiras sanções econômicas americanas contra Cuba datam de 1961, após o fracasso da invasão da ilha para tentar derrubar o regime de Fidel Castro – o episódio conhecido como o da “baía dos Porcos”.
O embargo comercial foi imposto em 3 de fevereiro de 1962 pelo presidente John F. Kennedy, com as sanções reforçadas em seguida várias vezes, notadamente pela odiosa lei Helms-Burton de 1996. Essa prática desumana vem sendo condenada há 14 anos por maioria na Assembléia Geral das Nações Unidas.
Na visão arrivista do subsecretário Shannon, este é um momento em que “a Comunidade Internacional deve deixar claro ao regime cubano que, para poder desfrutar dos benefícios de associar-se à Comunidade Internacional, realmente é preciso começar um processo de abertura política dentro e Cuba que leve à transição até a democracia”. A Casa Branca só não dá garantia alguma de que o país latino-americano não será solapado pela ânsia neoliberal do governo Bush.
Em 2004, porém, Bush resolveu renovar o discurso. Sem mencionar o risco de Cuba perder as conquistas do socialismo, o presidente americano apontou para as possibilidades, igualmente chantagistas, de a o país caribenho elevar seu PIB com turismo, viagens, investimentos, trocas financeiras e envios de recursos às famílias.
O suposto papel da Venezuela
Apesar de saber que os cubanos rejeitam a intervenção americana na ilha, Shannon disse que Fidel Castro “não parece estar em posição de retornar às tarefas do dia-a-dia que assumiu por tantas décadas”. E disse também que não acredita que o irmão de Fidel, Raul Castro, vai se tornar o líder supremo de Cuba. Suas especulações, porém, não foram desenvolvidas nem argumentadas.
A proposta americana é de tal hipocrisia que envolve até a Venezuela de Hugo Chávez – o líder bolivariano odiado na Casa Branca. Na retórica de Thomas Shannon, há um cenário em que o regime venezuelano também cai aos pés dos Estados Unidos.
“A Venezuela tem a oportunidade de assumir um papel importante e útil no futuro de Cuba se o país escolher se associar com uma transição democrática, se escolher reconhecer suas obrigações da Carta Democrática Interamericana e se escolher promover e defender a democracia”, declarou o subsecretário.
Em 31 de julho, para submeter-se a uma delicada cirurgia intestinal, Fidel Castro transferiu o mandato presidencial, em caráter provisório, a seu irmão Raúl Castro. Estadista cubano desde a revolução de 1959, Fidel completou 80 anos em 13 de agosto e recebeu a visita de Chávez, seu principal aliado no continente.