Mídia grande parte para o vale-tudo e condena Lula

Por Bernardo Joffily
A uma semana da eleição, a mídia grande se atira no vale-tudo. A Folha de S. Paulo de hoje volta-se contra os números de sua própria pesquisa, com a manchete Apesar do escândalo, Lula mantém vitória no 1º turno. M

Ao longo da semana, correram numerosos rumores na internet a respeito da capa de Veja. Dizia-se que ela estamparia uma foto do presidente na Assembléia da ONU em Nova York, tendo atrás de si um segurança e com as mãos em uma posição que dava a impressão de estar algemado.



As “duas certezas” dos Civita



A edição de Veja que está nas bancas não chega a tanto, o que configuraria, entre outros, um crime eleitoral. Limita-se a uma caricatura do presidente, com as mãos nos bolsos e a faixa presidencial vedando-lhe os olhos. Mas o texto empresta crédito ao boato da criminalização: “Com seus métodos criminosos, o PT lançou o país em uma grave crise política”, é como a revista inicia as 26 páginas que dedica ao caso do Dossiê Serra.



O editorial insiste no tema, sob o título Até quando?. Conclui com o que afirma serem “duas certezas”:




“A primeira delas é que o Partido dos Trabalhadores é hoje uma agremiação em frangalhos, sem credibilidade. A outra certeza é que, desta vez, a crise não poderá ser contida nos círculos eminentemente políticos. A negociata que redundou no 'dossiêgate' é objeto de um processo conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral que poderá, em última instância, levar até à impugnação da candidatura de Lula ou à cassação de seu diploma de presidente, caso venha a ser reeleito.”



“Certezas” controvertidas



Na abertura da reportagem, Veja atribui ao PT a culpa pelo pedido de cassação e impugnação, protocolado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na segunda-feira passada, pelos presidentes do PSDB e PFL, Tasso Jereissati e Jorge Bornhausen. Se a cassação acontecer, diz a revista, “o PT terá feito algo inédito em sua rica trajetória de delinqüências. O próprio partido de Lula terá conseguido impedir a manifestação da vontade popular dos brasileiros. Na terminologia do próprio Lula, o PT terá conseguido 'melar' as eleições. Que melancólica ironia!”, diz a revista,com um júbilo nada melancólico e ousando até o ponto de exclamação que seu manual de redação desaconselha.



Ambas as “certezas” do editorial de Veja são controvertidas. A assertiva de que o PT está “em frangalhos” contrasta com as pesquisas passadas e presentes sobre preferências partidárias dos brasileiros — que apontam a sigla da estrela em um folgado primeiro lugar. Quanto ao processo pedido pelo bloco PSDB-PFL, será o caso de aguardar como se comporta o TSE depois do resultado das urnas.



O presidente do Tribunal, ministro Marco Aurélio Mello, apressou-se em declarar que o caso é “pior do que o Watergate [escândalo que derrubou o presidente dos EUA, Richard Nixon, em 1974]”, uma das frases que ganhou destaque na reportagem da revista. Mas, se “todo o poder emana do povo”, como diz o artigo 1º da Constituição, os três Poderes, e também o quarto, deverão se curvar à sentença das urnas em 1º de outubro.