Renato: “Segundo turno exige concentrar energias”

Logo após o anúncio oficial do TSE de que haverá segundo turno das eleições presidenciais, na madrugada desta segunda-feira, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, analisou os resultados. Para ele, o primeiro turno confirmou a força do presidente

Como você analisa os resultados parciais da eleição presidencial, que apontam nesta hora o presidente Lula com quase 50% dos votos (49,79%), mas joga a decisão para o segundo turno?



Renato Rabelo: Em primeiro lugar, é preciso destacar a força do presidente Lula. Diante de tão violento ataque, nenhum outro candidato teria essa expressiva votação. Desde o ano passado, a oposição direitista e mídia desenvolvem uma intensa campanha para desgastar e derrubar o atual governo. Qualquer outro governante já teria caído. O presidente Lula não só resistiu à  ofensiva, como consolidou sua votação em amplos setores da sociedade, em especial nas camadas populares. Nas duas últimas semanas, com a explosão da nova crise política, da chamada “guerra dos dossiês”, a direita e a mídia reforçaram ainda mais seu discurso golpista. Nunca se viu tanto ódio das elites conservadoras contra um governo. A ofensiva, que já era brutal, ficou ainda pior.



A oposição liberal-conservadora mostrou que não tolera a democracia. Inventou todos os tipos de mentiras e conclamou ao golpe. Deixou claro que não aceitaria a vitória do presidente Lula, que faria de tudo para jogar a decisão para o segundo turno. Pior ainda: anunciou que não toleraria a reeleição de Lula, que tentaria evitar sua diplomação. Caso esse golpe não funcionasse, anunciou também que apostaria tudo no impeachment no segundo mandato. Graças ao apoio descarado da mídia hegemônica, o bloco PSDB-PFL escondeu o conteúdo do dossiê das sanguessugas, que incriminava vários tucanos, e só falou da tentativa desastrada de compra deste dossiê. E ainda transformou um agente federal, que tirou fotos ilegais, num herói. Se alguém do nosso campo tivesse vazado aquelas fotos, seria a maior gritaria da oposição e da mídia contra esta ação ilegal.



O papel da mídia neste processo foi dos mais repugnantes da nossa história. Até um jornalista independente, o Luis Nassif, escreveu que “houve uma verdadeira competição na mídia para ver que derrubava primeiro o presidente Lula”. Ela transformou acusações e supostos indícios de corrupção em provas de culpa, numa autêntica aberração jurídica. Ela relegou um crime, o dossiê das sanguessugas, e centrou sua cobertura na condenação dos que tentaram comprar o tal dossiê. Na reta final, a mídia cometeu outro crime escancarado. Escondeu o vazamento ilegal das fotos, disse que foram roubadas. Nem sequer publicou a declaração deste delegado, que confessou que o vazamento visava “ferrar” o governo Lula. A mídia mentiu, omitiu, manipulou e teve uma atitude criminosa, que merecerá intensa apuração e responsabilização no futuro.



Apesar de todo este complô da oposição e da mídia, o presidente Lula quase conseguiu a maioria dos votos. Isto é que deve ser destacado no momento. Esse é o nosso patrimônio, o nosso capital, para a batalha do segundo turno. É preciso deixar explícito que a direita neoliberal evitou fazer o debate programático, evitou as comparações entre o governo Lula e o de FHC. Até na questão da corrupção, é preciso explicar que nunca houve tanta apuração de atos ilícitos como no governo Lula. Enquanto FHC escondeu as maracutaias das privatizações, da compra de votos para sua reeleição, do Proer para os banqueiros, o governo Lula acionou vários órgãos, como a Polícia Federal, para fazer a maior operação de combate à corrupção. Por isso, Lula teve grande votação.



E agora, como encarar o batalha do segundo turno da eleição presidencial?



Se a direita neoliberal e a sua mídia já atuaram desta forma para viabilizar o segundo turno, imagine o que ela fará nos próximas 30 dias. Eles vão radicalizar ainda mais esse processo de desqualificação e desgaste do governo Lula. Vão usar todos os mecanismos, legais e ilegais, para impedir a vitória do nosso campo. A disputa neste período será das mais sujas e encarniçadas. A mídia fará de tudo para envenenar a população; a oposição fará de tudo para criar um clima de terror golpista. Até um jornal um pouco mais ponderado, como o Valor, dois dias antes do pleito, apresentou em matéria de capa a revista The Economist afirmando “o presidente Lula perdeu o brilho”.



Num cenário tão acirrado, alguns desafios estão colocados. Em primeiro lugar, é preciso polarizar ainda a disputa, politizando a sociedade. É preciso mostrar, inclusive para as camadas médias, que a vitória de Geraldo Alckmin significaria uma revanche das forças neoliberais e de direita. Que isto representaria a retomada das privatização, o corte dos investimentos públicos nas áreas sociais, o fim do processo da integração latino-americana e a retomada da Alca, a criminalização dos movimentos sociais. É preciso apostar na politização da sociedade.



Em segundo lugar, é preciso ampliar as alianças e somar todas as forças realmente patrióticas, democráticas e de esquerda. Que realmente for de esquerda não ficará passivo com o risco da revanche neoliberal, com o perigo da criminalização dos movimentos sociais, das privatizações e da Alca. Agora é a hora de unir todas as forças para barrar o retrocesso da direita neoliberal. Alckmin representa a direita mais retrograda e autoritária, representa setores ultraliberais que estão excitados com a possibilidade de retornar ao governo central. Ninguém pode se omitir nesta hora decisiva. As divergências devem ser deixadas de lado para derrotar o inimigo maior.



Em terceiro, e isto é fundamental, é preciso colocar toda a militância nas ruas nestes 30 dias. Será necessário um grande mutirão para explicar o que está em jogo nas eleições, para mostrar os riscos do retrocesso. A batalha principal é pela derrota do direitista Alckmin, como a reeleição do presidente Lula. Agora é que se mede quem realmente é consciente e engajado, quem pensa no futuro do Brasil. Ninguém pode esmorecer ou se omitir. A militância terá muito trabalho nos próximos dias. Ela será decisiva para garantir a vitória das forças populares e democráticas. É preciso organizar um grande ato de todos os movimentos sociais, intelectuais e artistas que sabem o perigo que representa a vitória do candidato do Opus Dei.



Por último, como você avalia a performance do PCdoB nestas eleições?



O PCdoB é parte integrante do projeto de reeleição do presidente Lula e dedicou toda sua energia para conquistar este objetivo. Neste sentido, o partido não fica imune a brutal ofensiva da direita neste período. Uma primeira avaliação mostra que, apesar destas dificuldades, o PCdoB obteve um resultado positivo. Até agora, contabilizamos a eleição de 13 deputados federais e a eleição de um senador no Ceará, o que é um fato inédito na história recente e altamente positivo. O partido teve resultados muito positivos no Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, entre outros estados. Num cenário ainda de defensiva do movimento comunista, no qual muitos PCs esbarram em dificuldades para ganhar maior visibilidade, o PCdoB continua acumulando forças.  



Mas para os militantes comunistas a batalha não terminou. O partido esteve na linha de frente da campanha pela reeleição de Lula. Sabe que um retrocesso no país terá duros efeitos nas lutas dos trabalhadores e na própria existência do partido. Caso a direita neoliberal volte ao poder, ela será ainda mais raivosa, não poupará os movimentos sociais e fará uma reforma política altamente antidemocrática. Para os comunistas, a batalha fundamental é garantir a reeleição do presidente Lula. Os comunistas não fogem da luta e de suas responsabilidades históricas, não esmorecem e nem se omitem. Terão um papel decisivo para garantir a vitória no segundo turno.