Ditadura de Pinochet foi desastre para economia do Chile

Augusto Pinochet, que recentemente liberou a Humanidade de sua presença, não foi só o sanguinário ditador que encabeçou o assassinato e a tortura de milhares de patriotas chilenos, instaurou a pior das ditaduras na América do Sul e suprimiu todas as liber

A utilização do Estado chileno para atender aos interesses imperiais das corporações -via açambar-camento do patrimônio público e ocupação do mercado nacional –, com apoio na que foi também a mais submissa de todas as ditaduras, tornou-se o primeiro experimento deste assalto que seus próceres denominaram de 'neoliberal'.



Para orientar a ocupação da economia chilena, Pinochet convidou para assessor o recentemente desaparecido economista norte-americano Milton Friedman, acompanhado de seus “Chicago Boys”, logo depois do assassinato do presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973.



A aplicação de medidas tão destrutivas do patrimônio nacional não poderia acontecer sem um golpe de Estado, sem a destituição violenta do governo popular comandado pelo presidente Salvador Allende; sem o ataque aos amplos setores da sociedade que apoiavam seu plano de governo, sem a intervenção direta da CIA e o financiamento do Departamento de Estado americano, na época dirigido por Henry Kissinger.



A isso somava-se ainda a vontade de Washington de acabar com um governo revolucionário e soberano que tinha se tornado exemplo para todos os povos da região.



O custo social, o atraso para o país que essa política significava, requeria a repressão selvagem, o assassinato em massa, a instauração do medo.



Para golpear o governo popular — que em seu primeiro ano tomou medidas que fizeram o desemprego cair de 8,4% para 4,3% e a indústria crescer em 12% — o cartel internacional do cobre promoveu uma baixa artificial do valor desta mercadoria, essencial para a economia do Chile, em 37,5%. Logo depois do golpe o cobre voltou aos valores anteriores.



Para defender o assalto, a mídia imperial propalou o mito de que houve um “milagre chileno” realizado pela ditadura de Pinochet. Do mesmo modo, agora, depois da morte do carniceiro, esses meios de comunicação vêm insistindo em martelar que, apesar dos crimes cometidos (afinal, existem realidades que não há como negar), deve-se reconhecer o sucesso do modelo econômico.



As medidas alinhavadas por Friedman foram a ocupação da economia pelos monopólios — principalmente ianques — que o douto economista norte-americano chamava de “livre” mercado, através da drástica redução do Estado com a privatização das empresas públicas e o fim de todos os direitos trabalhistas.



A produção de cobre, que havia sido nacionalizada pelo governo de Allende, colocando-a em mãos do Estado, no entanto, foi mantida e foi o que o que salvou o Chile da quebradeira total. De fato, 45% das entradas por exportações da economia do país vinham precisamente desse mineral.



O governo da Unidade Popular tinha recuperado para a nação todas as jazidas de cobre exploradas pelas filiais de companhias americanas, a Anaconda e a Kennecott. O governo verificou que em 15 anos, as multinacionais tinham roubado mais de 80 bilhões de dólares ao Estado chileno.



Além disso, a profunda reforma agrária realizada por Allende que, expropriando e incorporando à propriedade social 2,4 milhões de hectares de terras produtivas, tinha transformado o campo em um fator econômico fundamental, também não pode ser revertida por Pinochet. E foram exatamente esses os únicos setores que mantiveram o país funcionando.



Mesmo assim, a intervenção neoliberal foi desastrosa. “Em 1973, no ano em que Pinochet assumiu o governo, o desemprego no Chile era de 4,3%. Em 1983, depois de 10 anos de 'livre' mercado, o desemprego atingiu 22%”, apontou o jornalista americano Greg Palast, em artigo publicado no Hora do Povo, do dia 13 de dezembro. O salário mínimo foi extinto. Os sindicatos foram fechados e as negociações coletivas eliminadas.



Duas grandes depressões



Na linha de reduzir ao mínimo o Estado, uma das primeiras medidas ditadas pelos “Chicago Boys” foi cortar os gastos e investimentos públicos em 20%, mandando embora 30% do funcionalismo, liquidando os sistemas de poupança popular e o crédito para moradia.



“Sob a influencia das teorias de Friedman, privatizou o sistema previdenciário, aboliu todos os impostos sobre as riquezas e os lucros, privatizou 212 indústrias e 66 bancos do Estado e executou um ajuste fiscal”, detalhou o jornalista.



As políticas de “livre” mercado submeteram o país a duas grandes depressões em menos de 10 anos. Em 1974-1975, o Produto Interno Bruto, PIB, caiu 12% e em 1982-1983 afundou outros 19%.



Em 1970, 20% da população do Chile viviam na pobreza. Em 1990, quando Pinochet foi expulso do governo, o número de desamparados tinha duplicado. Era 40%.



“Ainda assim, com notável descaso, os cientistas malucos de Chicago declararam o modelo um sucesso. Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado do presidente Ronald Reagan emitiu um informe concluindo: o Chile é caso para estudo de uma boa consultoria sobre administração econômica”, assinalou Palast.



Em 1982, com a especulação financeira – um dos setores mais beneficiados pelo “milagre” – no auge, empresas e inclusive parte dos bancos privados fecharam e o dinheiro se evaporava. Com medo de não conseguir controlar a revolta da população, Pinochet voltou atrás em alguns de seus ataques aos trabalhadores, passando a aplicar receitas de caráter claramente keynesiano. Autorizou um programa para criar 500 mil empregos, voltou a nacionalizar alguns bancos e indústrias, o que permitiu um fôlego para o país.



Ou seja, o “milagre” que a mídia procura exaltar destruiu a economia chilena. O que impediu uma débâcle ainda maior — e é escamoteado —, é que a ditadura não teve condições de abandonar todas as medidas do Allende.



A falsificação em torno do “exemplo chileno” foi utilizada aos quatro ventos, inclusive no Brasil pelos que optaram pela submissão aos interesses imperiais. No final da década dos 70, outros dois próceres do neoliberalismo, Margareth Thatcher e Ronald Reagan, chegaram ao poder. Não por acaso, a inglesa, declarou que estava muito triste pela morte de seu amigo chileno.