Japão volta a adotar políticas militares pró-imperialistas

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, obteve uma dupla vitória há poucos dias, ao conseguir que o Parlamento aprovasse duas metas de seu mandato, que destroem tabus derivados da derrota na II Guerra Mundial: restabelecer o ensino do patriotismo nas es

As duas mudanças não são alheias à ameaça representada pela Coréia do Norte, ainda mais desde outubro passado, quando esta realizou seu primeiro teste atômico. Nem ao clima político criado pelos grupos nacionalistas.



As reformas das leis de Educação e de Defesa são as primeiras realizadas desde 1947 durante a ocupação do país pelos EUA. O governo também se empenhou, chegando ao extremo de pagar a algumas pessoas para que defendessem as iniciativas do governo nas assembléias escolares realizadas em todo o país para discutir as reformas. A descoberta da manobra foi um escândalo político e três membros do governo tiveram de se comprometer a devolver três meses de seus salários como castigo.



A restauração do ensino do patriotismo foi criticada por aqueles que acreditam que os dirigentes japoneses a utilizaram no passado para justificar a expansão nipônica no Pacífico durante o conflito mundial e que temem o ressurgimento do nacionalismo e do militarismo imperial. O restabelecimento do amor à pátria, à bandeira e do orgulho de ser japonês representa uma grande vitória para os conservadores – como Abe, único primeiro-ministro japonês nascido depois da II Guerra Mundial -, que consideram que o sistema escolar dominado pelos sindicatos de esquerda do professorado provocou o esquecimento dos valores da cultura japonesa e sua ordem social.



A reforma educacional coincide com a aprovação de leis municipais em várias regiões do Japão, incluindo Tóquio, pelas quais os alunos e professores que se negarem a cantar o hino nacional e a hastear a bandeira japonesa em eventos escolares são penalizados.



A aprovação do aumento da consciência patriótica nas aulas, em um país onde isso é associado ao passado imperialista, foi possível depois que o governo superou uma moção de censura apresentada por quatro partidos de oposição que tentaram evitar um maior controle estatal na educação, já sobrecarregada por manuais escolares que são claras mostras de revisionismo histórico sobre as agressões japonesas contra países vizinhos no passado.



A reforma da lei de Defesa, aprovada – diferentemente da de Educação – quase sem oposição parlamentar devido à preocupação gerada no Japão pela ameaça norte-coreana, estabelece que a partir de janeiro de 2007 o diretor-geral da Agência Nacional de Defesa, Fumio Kyuma, se transformará em ministro, embora o exército continue se chamando Forças de Autodefesa. E, mais importante, o governo não precisará mais de uma lei especial para enviar militares a zonas de conflito no exterior, como ocorreu nos casos da missão no Iraque ou do apoio logístico no Afeganistão. A mudança implica de certa forma o princípio do fim do estatuto dos japoneses nascidos depois da vitória aliada em 1945 e um distanciamento da marca pacifista de sua Constituição, redigida pelos EUA.


 


Também poderia ser o primeiro passo de uma mudança no equilíbrio de poder no leste asiático, reforçando o papel de Tóquio em seu apoio aos EUA – que conta com 50 mil soldados mobilizados no Japão – na defesa de Taiwan em caso de uma agressão chinesa.


 


“É natural que tenhamos novamente um Ministério da Defesa porque já o tínhamos há 60 anos e porque o Japão deve ter um exército próprio. É um erro que nossa autodefesa ainda dependa dos EUA, o que se justificava nos primeiros dez anos do pós-guerra. Isto perdeu o sentido desde que somos a segunda potência econômica”, afirma Reinosuke Hara, importante líder da indústria japonesa.



Em relação à introdução do patriotismo nas escolas, Hara indica que “nos EUA cantar o hino nacional acompanhado do gesto de levar a mão ao coração é uma tradição arraigada e presente na vida diária”, e nem por isso os americanos se consideram nacionalistas. Hara acrescenta que “o amor à pátria, ao hino e à bandeira é positivo”, mas “não o fato de a emenda legal não mencionar que isso deva ser compatível com o respeito à comunidade internacional”.



Fonte: El País
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves/ UOL Mídia Global