UEE-SP planeja ações para os próximos meses

A União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) realizou no último fim de semana (24 e 25) a primeira reunião plena de sua diretoria em 2007. O encontro ocorreu na Assembléia Legislativa e contou com a presença de representantes de DCE’s e CA’s de t

Na pauta de discussões, questões de fundamental importância para o movimento estudantil paulista, entre eles o decreto do governador José Serra, que visa a criação da Secretaria de Ensino Superior. A medida adotada, no início de janeiro, integra um pacote de mudanças que engessou o orçamento das universidades estaduais além do contingenciamento (retenção temporária) de recursos e uma nova composição no conselho de reitores –esta última acabou revogada após reclamação dos dirigentes.


 


O governo paulista proibiu a USP, a Unicamp e a Unesp de remanejarem livremente seus orçamentos, prática que ocorria desde 1989, quando as três instituições conseguiram a chamada autonomia universitária. As escolas superiores terão agora de fazer uma solicitação prévia à Secretaria do Planejamento sempre que acharem necessário mudar o destino de suas verbas.


 


Juventude em debate


 


Na primeira mesa de discussões, o secretário geral do Conjuve (Conselho Nacional de Juventude), Danilo Moreira; o integrante da coordenação nacional do MST, João Paulo Rodrigues; e a diretora de relações internacionais da UNE, Lúcia Stumpf, expuseram suas idéias a respeito do cenário político e econômico nacional e qual o papel da juventude brasileira neste contexto. A mediação ficou por conta do presidente da UEE-SP, Augusto Chagas.


 


Refletindo sobre o cenário político-econômico do país, João Paulo afirmou que nos últimos dez anos não houve uma alteração que atingisse diretamente a sociedade brasileira. “Não houve nenhuma mudança significativa na vida da população, a concentração de terras, por exemplo, continua a mesma”, disse.


 


Ele também lembrou o que chamou de crise de ideologia dos movimentos sociais, fruto da forte criminalização proliferada por anos de governo PSDB e proclamou a responsabilidade e potencial do movimento estudantil neste momento. “Estamos em um período propício a cobranças, já que o atual governo vê o movimento social com bons olhos. Agora é hora de dar um salto de qualidade e elaborar um plano de desenvolvimento para a construção de um país soberano e colocar o povo na rua para exigir mudanças concretas”, convocou.


 


No mesmo tom, Danilo Moreira, ex-diretor da UNE na gestão 1999/2003, reforçou que este é um bom momento para que os estudantes cobrem do governo para concretizarem seus planos para a juventude. “Ainda há um estranhamento em relação à prática de levar propostas do movimento estudantil para órgãos do governo. Muitos acham que a burocracia não é sua alçada. Vale lembrar que para concretizar exigências é preciso colocar esses projetos na agenda do Estado”, afirmou.


 


Lúcia reforçou o caráter progressista da gestão Lula e declarou que neste segundo mandato a palavra de ordem é mobilização. “A juventude é abnegada e tem sim, ao contrário do que a visão neoliberal quer nos fazer acreditar, vontade e competência para mudar essa realidade que prega o individualismo. O movimento estudantil aliado a outros setores organizados da juventude tem força para transformar esse país”, avaliou.


 


Universidade pública paulista na mira do neoliberalismo


 


A segunda rodada de debates discutiu a educação paulista. No centro da conversa, a criação da Secretaria de Ensino Superior sob a ótica do diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, Marcílio Ventura; o pró-reitor de graduação da universidade, Edgard de Decca; e a diretora de comunicação da UNE, Daniele Costa.


 


De acordo com o pró-reitor, as universidades não foram consultadas a respeito do decreto de José Serra. “Em 28 de dezembro, fomos chamados pelo secretário de ensino superior, José Aristodemo Pinotti que pediu uma planilha com as demandas da Unicamp. Neste documento a universidade pedia um aumento de 0,05% que viria do orçamento do Estado, somatória de 20 milhões de reais para a construção de um novo campus. No dia seguinte o projeto foi vetado pelo ex-governador Cláudio Lembo”, contou.


 


Esta medida, segundo Marcílio, uniu ainda mais os estudantes em defesa da universidade pública de qualidade. “As instituições não se negam a prestar contas, muito pelo contrário, mas precisamos manter nossa autonomia. Nosso objetivo principal é ter mais recursos para manter o alto nível do ensino público universitário e também nos preocupamos com a permanência dos estudantes na sala de aula”, disse.


 


Na opinião do presidente da UEE-SP, Augusto Chagas, a gestão Serra tem sido catastrófica. “Temos acompanhado uma tentativa de sucateamento do ensino público pelo governo tucano. Prova disso é que 1% dos jovens em idade de ingressar na faculdade estão no ensino superior público”.


 


Depois de fazer um panorama sobre a universidade brasileira desde sua criação até os dias atuais, Daniele Costa reforçou a importância da reforma universitária como alternativa para combater o projeto neoliberal de Serra para a educação paulista. “É preciso ir contra a concepção de Estado Mínimo, conceito neoliberal que trata a educação como serviço não como direito e é isso que o PL da reforma exige: uma educação pública de qualidade, mais acesso e regulamentação da universidade privada”.


 


Por uma mídia mais democrática


 


No segundo dia de reunião, as atenções foram voltadas para a democratização dos meios de comunicação, questão avaliada pelo professor de jornalismo da PUC-SP, Hamilton Otávio de Souza, e pelo diretor de Inclusão Digital da UNE, Leandro Chemalle.


 


“O sistema de imprensa brasileiro é quase igual ao americano”. Partindo desta definição o professor Hamilton refletiu sobre a influência da comunicação na formação da opinião pública. “A grande mídia é excludente e presta serviço à elite nacional, o povo brasileiro não consegue colocar suas demandas nesta imprensa”, caracterizou.
Tratando a comunicação como setor estratégico, Hamilton sugeriu a criação de emissoras de rádio e televisão e também de outras mídias de massa de caráter público geridos pela sociedade como elemento de democratização.


 


Voltando o debate para tecnologia da informação com forma de ampliar o conteúdo da imprensa, Chemalle apresentou as novidades tecnológicas do setor e afirmou que os softwares é que controlam a geração de conteúdo. “Por isso não podemos ficar reféns de quem produz esses softwares. A tecnologia digital vai ampliar os geradores de conteúdo. O que a bandeira de inclusão digital da UNE quer é que os estudantes conheçam também o software livre para que não fiquem eternamente presos à Microsoft”.


 


Fora Bush!


 


O presidente da UNE, Gustavo Petta também participou da reunião. Ele saudou os estudantes paulistas e também falou sobre a ocupação do terreno da antiga sede da entidade, na Praia do Flamengo (RJ).


 


Em despedida, Petta convocou os presentes a se manifestarem contra a visita do presidente norte-americano, George W. Bush ao Brasil prevista para 8 de março. “A presença da UEE-SP é fundamental para deixar bem claro que Bush não é bem vindo aqui e que a juventude brasileira principalmente a paulista é anti-neoliberal e não aceita esse presidente belicista em nosso país”, disse.


 


Ao final do segundo dia, a diretoria plena da UEE-SP aprovou as seguintes moções: apoio às manifestações dos estudantes da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) contra as arbitrárias e irresponsáveis decisões do Instituto Educacional de Piracicaba (IEP), na figura do reitor Davi Barros, 10 anos sem Darcy Ribeiro, apoio ao repórter Rogério Viana, demitido por denunciar arbitrariedades da rede Globo e repúdio à tentativa de golpe no processo eleitoral do DCE da Universidade Presbiteriana Mackenzie.