Cuba lidera ação contra poder investigativo de órgão da ONU

O governo de Cuba lidera alguns outros países na tentativa de retirar do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas seu poder de investigar e condenar violações, algo que segundo ativistas pode ameaçar a credibilidade de toda a ONU.

Os 47 países participantes da nova entidade, criada no ano passado para substituir seu desacreditado predecessor, negociam discretamente um pacote de medidas para definir o seu papel.



Está em jogo principalmente o destino dos chamados “procedimentos especiais”, feitos por investigadores independentes nomeados para apurar suspeitas de abusos em determinados países. O ex-secretário-geral Kofi Annan descrevia esses investigadores como as “jóias da coroa” no maquinário de direitos humanos da ONU.



“Nosso temor é de que alguns governos estejam tentando vender as jóias da coroa, tentando abalar a independência dos procedimentos especiais”, disse Irene Khan, secretária-geral da Anistia Internacional, a jornalistas em Genebra.



“Há enormes apostas aqui para os direitos humanos, não só para os sobreviventes dos abusos, mas para a credibilidade do Conselho e para a credibilidade da ONU”, afirmou.



Discriminação
Os 13 relatores especiais, “herdados” da antiga Comissão de Direitos Humanos, investigam países como Belarus, Cuba, Sudão e Coréia do Norte. Governos envolvidos – e aliados seus, como a China – dizem que essas investigações são discriminatórias e politicamente motivadas. Por isso, querem abolir a figura dos relatores especiais.



Cuba, que nunca autorizou uma visita da relatora Christine Chanet, lidera a iniciativa. Junto com seus aliados, a ilha diz que os países deveriam apresentar seus próprios relatórios sobre a situação interna dos direitos humanos, sem necessidade de investigações intrusivas.



O chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, alertou na semana passada contra transformar o Conselho em “um tribunal da Inquisição”. “A perpetuação de mandatos específicos para países, impostos pela força e pela chantagem, mantém a espiral de confrontação que acabou com a autoridade e a credibilidade da extinta Comissão de Direitos Humanos”, afirmou ele em discurso.



A União Européia diz lutar pela preservação dos procedimentos especiais e pela capacidade de o Conselho adotar resoluções condenando os responsáveis pelas piores violações. O Conselho tomará uma decisão sobre o tema até meados de junho.