Há 175 anos morria Goethe, o poeta que previu a globalização

O genial autor de Werther e Fausto foi também homem de Estado e cientista. A qualidade de suas obras é tão inegável quanto sua atualidade. “Ainda temos muito a aprender com Goethe”, afirma especialista. Leia matéria da Deutsch W

Em 22 de março de 1832, falecia Johann Wolfgang von Goethe, com a famosa frase nos lábios: “Mais luz!”. Mesmo os seus críticos tinham de reconhecer: com o multitalento de Weimar desaparecia o mais importante poeta alemão. “Os peritos em arte eram unânimes: desde 1800 Goethe era o indiscutível número um da cultura alemã”, comenta Jochen Golz, presidente da Sociedade Goethe, de Weimar.


 


Nascido de família abastada em 22 de agosto de 1749, em Frankfurt do Meno, o jurista formado – porém pouco aplicado à matéria – deu sua grande arrancada na carreira literária em 1774, com o romance Os Sofrimentos do Jovem Werther. O sucesso deste ícone do movimento Sturm und Drang (tempestade e ìmpeto) em breve atravessava as fronteiras alemãs.


 


A infeliz história de amor é baseada nas experiências de um amigo do escritor. Seu efeito é tão profundo na época, que os jovens imitam o protagonista, desde a indumentária – fraque azul e colete amarelo – até à opção pelo suicídio.


 


O poeta de 25 anos se assusta com o efeito do best-seller: “Ele se sentiu profundamente incompreendido”, explica Golz. Entretanto, para os literatos, Werther continua sendo a via de acesso mais imediata à obra goethiana, após mais de 250 anos.


 


Alto funcionário e cientista


 


Em 1775, o poeta se muda de Frankfurt para a corte do jovem príncipe Carlos Augusto. Este é o soberano do grão-ducado de Saxe-Weimar-Eisenach, um mísero Estado-anão, com menos de 100 mil habitantes.


 


A ascensão de Weimar, no decorrer dos séculos seguintes, à categoria de cintilante metrópole cultural foi, sobretudo, mérito de Goethe, que a partir de então passa a praticar a poesia como segunda profissão.


 


Johann Wolfgang leva extremamente a sério suas numerosas funções, entre as quais a de secretário de Finanças. Além disso, dedica-se às ciências naturais. Suas pesquisas de anatomia comparada lhe permitem identificar a existência do osso intermaxilar em seres humanos.


 


Até então esse osso, onde estão incrustados os dentes incisivos superiores, só fora observado em esqueletos de animais. A descoberta representa para Goethe uma prova do parentesco entre o ser humano e outras espécies animais. Na física, ele se ocupa com experimentos com luz e cores.


 


Para cada época, o seu Goethe


 


Somente o encontro com Friedrich Schiller – que a partir de 1794 se transformará em amizade – traz de volta o entusiasmo pela atividade literária. É atendendo ao apelo do colega que Goethe retoma o trabalho na peça teatral Fausto, a qual, contudo, ele só concluirá em 1831, 60 anos após os primeiros esboços.


 


Segundo o estudioso Jochen Golz, é desnecessário se indagar sobre a atualidade desse drama, possivelmente o maior da língua alemã. “Do ponto de vista teatral, Fausto é simplesmente insuperável. Quanto ao conteúdo, uma peça para o aqui e agora.” Goethe toca todos os conflitos básicos do ser humano, “e além disso traz o assunto para o palco numa linguagem grandiosa”.


 


Hoje em dia, 175 anos após a morte do criador, muitos diretores têm dificuldades com a obra. “É claro que o teatro é sempre para o presente, e é claro que as peças de Goethe podem ser encurtadas”, admite Golz. Mas é desnecessário transferi-lo à força para o presente – faz muito mais sentido contemplar os clássicos sob novas perspectivas. “E isso vale a pena. O passado demonstrou que cada época cria sua própria imagem de Goethe.”


 


Profeta da globalização?


 


Certos cientistas até vêem em Goethe o descobridor da globalização, pois previu diversos desdobramentos futuros. “Goethe identificou a impaciência humana como a grande força impulsionadora da modernidade”, esclarece Golz. “Por exemplo, ele descreveu o desejo de querer tudo imediatamente, sem refletir sobre as conseqüências.”


 


Embora haja falecido antes da industrialização, Goethe já advertia para a destruição do meio ambiente. Golz ressalva ser errado querer ver, no poeta, um profeta. “No entanto, acredito que ainda se pode aprender muito com ele. Sobretudo, que homem e natureza formam uma unidade.”


 


O especialista goethiano não vê uma desvantagem no fato de ser praticamente impossível abarcar o volume da literatura sobre o poeta, aos 175 anos de sua morte. “O mercado livreiro possibilita hoje em dia o acesso ideal a Goethe. Na verdade, existe a abordagem adequada para cada um.”