Serra Vermelha: Osmar cobra sinceridade dos ambientalistas
O deputado Osmar Júnior (PC do B – PI) concedeu entrevista ao correspondente do Portal Acesse Piauí em Brasília, Mauro Sampaio sobre a exploração de recursos naturais com a utilização de técnicas de manejo sustentável na região Sul do Piauí, especificamen
Publicado 29/03/2007 10:37 | Editado 04/03/2020 17:02
Na entrevista Osmar foi categórico: ''Não podemos ser privados de produzir''.
O deputado cobrou argumentos sinceros dos ambientalistas contrários ao projeto de exploração da madeira para a produção de carvão vegetal. ''Quem não quer que se explore nenhum tipo de recurso natural no Piauí, tem que afirmar isso claramente.'' Segundo Osmar Júnior, os ambientalistas estariam irracionalizando o debate, trazendo para a cena principal o ''horror'' mundial com a destruição da natureza.
Acessepiauí – Na medida em que o senhor é favorável ao projeto de exploração de carvão vegetal na Serra Vermelha, que vai de encontro aos ambientalistas, o senhor também é contrário à preservação do meio ambiente?
Osmar Júnior – Olha, eu acho que o mundo vive hoje um problema muito sério, que é um problema ambiental. Resultado, sobretudo nos últimos 200 anos, de uma exploração irracional dos recursos naturais. Esse problema chegou a um nível assustador. No entanto, eu acho que não devemos lançar, em primeira mão, a responsabilidade por esse problema ambiental nas costas das regiões menos desenvolvidas. A exploração de florestas, a exploração de recursos naturais, tem sido feita no mundo todo, sobretudo nos países mais ricos. Qual a minha preocupação hoje? Em função disso, regiões como a nossa, que agora que dá os primeiros passos na agricultura, na pecuária, na exploração de suas reservas naturais, elas possam ser completamente impedidas de fazê-lo. Hoje nós dispomos de técnicas e consciência ambiental. Juntas, elas permitem a exploração racional dos recursos naturais.
Acessepiauí – O projeto da JB Carbon obedece essas condições racionais? O senhor conhece de perto?
Osmar Júnior – Eu acredito muito na competência técnica e na responsabilidade social da equipe do Ibama, sobretudo do Ibama do Piauí. As críticas que tenho àquela equipe, e outros também, estão mais relacionadas ao rigor com que ela age, eu diria até o excesso de rigor, na hora de examinar qualquer projeto que diz respeito ao seu impacto ao meio ambiente. Portanto, o projeto foi autorizado pelo Ibama. Cumpriu os requisitos que a lei brasileira exige, e o Ibama é zeloso nessa questão. E mais ainda, cumpriu os requisitos de uma lei ambiental que é considerada uma das mais, digamos assim, mais bem feitas do mundo. Ela deve ser cumprida. Se for cumprida, as condições para a intervenção do homem estarão limitadas no ponto em que ela poderia provocar uma destruição maior do meio ambiente. Então, eu parto do princípio de que analisado pela equipe técnica do Ibama, aprovado pela equipe técnica do Ibama, o projeto deve ser retomado.
Acessepiauí – Carvoarias, desmatamento total, não é um completo desrespeito ao meio ambiente?
Osmar Júnior – O que se viu lá foram fornos. É um projeto que vai produzir carvão vegetal para a indústria siderúrgica que está localizada no Nordeste. O corte da madeira é feito em grande parte do mundo. Só, que ao invés de derrubar a mata como sempre foi feito, o projeto sustentável estabelece as regiões onde se deve cortar, os períodos, o modo como deve ser feito o corte, exatamente para que aquela parte da mata possa se recompor com o tempo. Esse é que é o projeto sustentável. Eu não posso conceber que se admita a hipótese que hoje a gente possa viver sem energia, que a gente possa viver sem a exploração da madeira. Vai construir uma casa, precisa de madeira. Vai morar, precisa de madeira para construir os móveis. Existe uma série de necessidades que precisam ser atendidas para que a humanidade possa continuar vivendo. Antes, como é que se fazia isso? De qualquer jeito. Derrubava-se a floresta de qualquer maneira. Hoje existem recursos técnicos e científicos que permitem explorar os recursos naturais com o mínimo de danos ao meio ambiente.
Acessepiauí – Quer dizer que o Piauí não está dando um mau exemplo?
Osmar Júnior – Pelo contrário. O Piauí, no que diz respeito à exploração de suas terras, faz quase na sua totalidade dentro das regras mais modernas que a tecnologia coloca a serviço do homem.
Acessepiauí – Por que os ambientalistas pensam justamente o contrário?
Osmar Júnior – Veja bem. Existe um conceito dentro de uma parcela do movimento ambientalista de que regiões que não foram exploradas ainda, não devam ser. Elas têm que ficar intactas. É assim que eles querem. Essa é a razão, por exemplo, que houve um forte movimento para que não se instalasse no Piauí uma unidade da Bunge Alimentos. O argumento era esse. Se instalar vai produzir mais soja. Ora, nós queremos que produza. Nós não queremos que se destrua o meio ambiente. A preocupação é tão grande do nosso governo com essa questão, que a área de reserva legal, que é de 20% pela legislação federal, no Piauí, por decisão do governador Wellington Dias, ela é de 30%. 30% por cento da área não podem ser utilizadas. Para nenhum tipo de atividade naquela região do cerrado. Certamente para dar mais garantias de sustentabilidade aos projetos que estão instalados.
Acessepiauí – Então não são os projetos que estão irracionais, é o debate?
Osmar Júnior – Nesse debate, precisa ficar bem claro: quem não quer que se plante mais nada no Piauí; quem não quer que se explore nenhum tipo de recurso natural, tem que afirmar isso claramente. Não pode se esconder suas opiniões por trás do horror que há hoje, muito justo, da destruição do meio ambiente. Será que nós, piauienses, vamos aceitar que o nosso território seja completamente proibido de produzir qualquer tipo de produto agrícola? Será que nós vamos aceitar passivamente que no nosso território seja proibida a exploração de qualquer tipo de recurso mineral? Essa é a questão que está em falta. Ninguém em sã consciência vai apoiar que se destrua o meio ambiente, mas por que não usar as técnicas modernas de hoje, como exemplo, o manejo florestal sustentável, que é utilizado na Finlândia, no Canadá, que são países ricos em florestas e diversidade e que exploram os seus recursos naturais de forma sustentável? Por que nós, no Piauí, não podemos fazer? Por que nós, no Piauí, vamos impedir que qualquer tipo de investimento seja feito? O biocombustível, por exemplo, entra como um elemento importante na matriz energética mundial e o Piauí pode ser um grande produtor de biocombustível. Mas se for proibida qualquer tipo de ação, como nós vamos plantar e produzir biocombustível?
Acessepiauí – Ao mesmo tempo que se discute o desenvolvimento sustentável, há um exemplo terrível de destruição: o Rio Parnaíba está à mingua. Isso decorre da exploração do homem e da chegada da agricultura mecanizada na região dos cerrados.
Osmar Júnior – Discordo. O assoreamento do Rio Parnaíba não tem nada a ver com a exploração mais moderna dos cerrados. Tem a ver com a exploração histórica das margens, sobretudo dos afluentes do Parnaíba. Se examinarmos o que ocorre ao longo do Rio Canindé e seus afluentes, como por exemplo, o Rio Itaim e o Guaribas, o que ocorre no Rio Piauí e Rio Gurguéia, ali está a origem principal do assoreamento do Rio Parnaíba. A região que produz grãos nos cerrados ainda está num volume extremamente limitado para causar algum tipo de interferência no rio. Nós temos 11 milhões de hectares nos cerrados. Calcula-se que aproximadamente quatro a cinco milhões sejam agricultáveis. A exploração dos cerrados no Piauí ainda não alcança 350 mil hectares.
Acessepiauí – Se o problema está distante, é no contexto da própria bacia do Rio Parnaíba, por que o governo não ataca essas causas?
Osmar Júnior – Nós lançamos agora o programa de revitalização da bacia do Rio Parnaíba, através da Codevasf. O presidente Lula autorizou a liberação de R$ 239 milhões, sendo R$ 80 milhões já no ano de 2007, só para ações de revitalização do Rio Parnaíba.
Acessepiauí – Vai acontecer mesmo?
Osmar Júnior – Já está acontecendo.
Acessepiauí – Os ambientalistas então não estão sendo sinceros nesse debate?
Osmar Júnior – Eu diria que uma parcela deles, não. Eles acham que não se deve plantar nada no Piauí. Mas não dizem isso. Eu quero que eles digam o seguinte: pode ou não pode plantar. Eu quero que eles digam se a legislação ambiental brasileira é ou não é correta. E se não é, no que tem que mudar. Porque eles não dizem isso. Só dizem que estão destruindo o meio ambiente. Essa é a única palavra. Qualquer tipo de intervenção, dizem que se está destruindo o meio ambiente. No fundo, o que eles querem é que não se plante mais nada no Piauí.
Acessepiauí – Onde se deve plantar, o que se deve plantar, e o que deve ser preservado no Piauí?
Osmar Júnior – São eles que têm que dizer. Eu acho que o Piauí tem que plantar e tem que produzir dentro das regras que a legislação ambiental brasileira estabelece.
Acessepiauí – Eles não estão corretos ao dizer que a Serra Vermelha é uma área de preservação e lá não deveria haver carvoarias?
Osmar Júnior – Não. Lá não é área de preservação.
Acessepiauí – E não deveria ser?
Osmar Júnior – Eu acho que não. O Piauí tem 4.387.540 hectares de áreas de preservação. É o Estado brasileiro, fora a Amazônia, que tem mais área de preservação proporcional. Nós estamos dando uma grande contribuição ao processo de equilíbrio ambiental no mundo. Já estamos dando. Mas não podemos ser privados de poder produzir.
Acessepiauí – A JB Carbon vai voltar a produzir?
Osmar Júnior – Quem vai dizer é o Ibama. Eu acho que se ela cumprir as regras ambientais, ela deve voltar a produzir.
Por Mauro Sampaio
Portal Acesse Piauí