Venezuela: Jornalista defende fim de concessão à TV golpista

Por Pedro Venceslau (Portal Imprensa)
O jornalista Jesús Romero Anselmi, presidente da VTV (Venezuelana de Televisão), vive no trabalho. Literalmente. Em seu gabinete na sede da emissora, o que parece uma parede de madeira é, na verdade, uma c

Por trás da “cortina”, está um apertado quarto com banheiro, com uma cama de casal e um armário. “Eu vivo aqui, literalmente”, conta o presidente do canal 8, a principal trincheira chavista na mídia venezuelana.


 


Jesús Romero assumiu a presidência da VTV apenas três semanas antes do golpe – e do contra-golpe – de abril de 2002. Na ocasião, a sede da emissora foi invadida pelas polícias do estado de Miranda e do município de Caracas, ambas comandadas por inimigos políticos de Chávez. “Fui o último a sair. Chegou um momento em que fiquei sozinho no canal, enquanto lá fora os manifestantes (anti-Chávez) pichavam, gritavam e ameaçavam”, lembra.


 


O golpe fracassou, Chávez voltou ao poder e Jesús reassumiu seu cargo. Desde então, raramente dorme fora de seu gabinete. Na última terça feira (03/04), o presidente da VTV reservou um generoso espaço na agenda para conversar com Imprensa.


 


RCTV


 


O primeiro tema da conversa foi a decisão do governo de não renovar a concessão da RCTV, que vence em 26 de maio próximo. O discurso de Jesús se mostra afinado com o dos outros chavistas que entrevistei em Caracas. Didático, ele explica por que considera que Chávez tomou a decisão correta: “Todas as concessões um dia acabam. Quando isso acontece, o Estado, que é o dono, o único proprietário do sinal, tem o direito de assumir de novo o espectro”.


 


“Não é certo dizer, como estão difundindo os donos da RCTV, que o canal será fechado. O Estado, de acordo com suas conveniências, decide se vai ou não renovar. As concessões não são infinitas em nenhuma parte do mundo”.


 


Com fala pausada e jeito bonachão, o presidente da VTV relembra o papel que a RCTV teve no golpe de 2002: “Os meios de comunicação, não só a RCTV, formaram, em 2002, uma concertação. Foram a vanguarda do golpe (de Estado). Eles criaram o ambiente golpista”.


 


“Depois do golpe, quando Chávez acumulou uma série de vitórias eleitorais, alguns meios mudaram de posição. Alguns empresários, como o Gustavo Cisneros (dono da Venevizión), sentiram que o povo estava com Chávez. E começaram uma guinada de posição e conteúdo. A RCTV e a Globovisión seguiram atacando, desqualificando permanentemente o presidente. Eles convocaram greves, manifestações”.


 


Elogio ao Brasil


 


No fim da longa da conversa, que integrará a reportagem especial da edição de maio da Revista Imprensa, Jesús falou sobre a recente polêmica com o ministro brasileiro das Comunicações, Hélio Costa, que criticou duramente sua emissora. Sem polemizar, disse apenas que Costa “deve ser um excelente ministro: já faz parte do time do Lula, que é um grande presidente”.


 


Jesús disse, ainda, que é fã da TV brasileira e que espera sugestões dos brasileiros para montar a nova TV pública da Venezuela, que ocupará o sinal da RCTV. “Acredito que o Brasil pode contribuir muito. Temos muito o que aprender com vocês. Os meios brasileiros são elogiados no mundo todo”.


 


Sobre a nova TV pública venezuelana, Jesús defende uma grade de programação feita por produtoras independentes: “Isso permitiria um conteúdo amplo e diversificado”.