Sarkozy: Candidato íntimo dos barões da imprensa francesa

A relação de Nicolas Sarkozy com jornais, revistas e redes de TV inaugurou na França uma nova fase no panorama político. Os principais barões da imprensa são alguns dos melhores amigos de Sarkozy, considerado um PhD em marketing político e apontado por in

Quanto à relação do ex-ministro com os jornalistas, esta poderia ser melhor. Obviamente, entre os jornalistas existem sarkozistas, mas estes são a minoria. Sarkozy nem sempre é hábil e diplomata e alguns episódios recentes mostraram que o favorito das pesquisas de opinião para a eleição de 22 de abril tenta controlar a informação usando suas relações privilegiadas com os donos de jornais, revistas e emissoras de TV.



O jornalista e escritor Serge Halimi, que analisou com detalhes no seu livro Les nouveaux chiens de garde (Os novos cães de guarda) as ligações de Sarkozy com os donos da mídia, diz que quase todos os barões da imprensa são tão íntimos do candidato que o tratam de ''tu'' e não com o formal ''vous''.



Demissão a pedido
Quando convidado a participar da edição de Libération, na semana passada, Sarkozy reclamou com o diretor de redação, Laurent Joffrin, da má vontade do jornal para com ele. Antes, a imprensa já havia noticiado um suposto telefonema de Sarkozy a seu amigo Edouard de Rotschild (acionista majoritário do jornal) para se queixar da linha editorial de Libé – que considera contra ele.



No ano passado, o então ministro do Interior chegou a ser apontado como responsável pela demissão do ex-diretor da revista Paris Match. Sarkozy não teria aprovado a publicação na capa da revista, em agosto de 2005, da foto de sua mulher com o novo namorado durante a separação tumultuada que durou alguns meses, antes que Cécilia Sarkozy voltasse ao lar. Esse número da revista vendeu 900 mil exemplares.



Para se vingar, Nicolas Sarkozy teria pedido a seu amigo Arnaud Lagardère – dono de um império de comunicação que inclui Paris Match – que afastasse o diretor de redação da revista, Alan Genestar. A demissão veio alguns meses depois, para dissimular a reação de causa e efeito. Depois de ter passado anos a expor sua vida pessoal na mídia qual um político americano, Sarkozy resolveu fazer de conta que sua vida pessoal era um assunto privado, qual um político francês.



Alan Genestar divulgou essa versão da demissão a pedido de Sarkozy em entrevista ao jornal Le Monde, na qual dizia que ''um país livre e democrático como a França não pode conceber que um ministro do Interior peça a cabeça de um jornalista''. Sarkozy obviamente negou em bloco.



A demissão do diretor de redação teve como conseqüência uma greve dos jornalistas em sinal de protesto. Essa ''greve contra uma demissão por motivos políticos'' foi a primeira feita pelos jornalistas de Paris Match desde 1968.



Direita sem complexos
Para acalmar as suspeitas de futuras intervenções punitivas, num debate organizado pela revista Elle com diversos candidatos, na semana passada, Sarkozy declarou que ''não fará uma caça às bruxas''. Aproveitou para reafirmar que não gostou de uma matéria feita pelo canal (estatal) France 3, que ele classificara antes de ''desonesta''. Sem repetir o termo, disse que era ''inadmissível'' o enfoque da matéria, mas que continuaria a ir aos estúdios de France 3. Os jornalistas desse canal, todos servidores públicos, haviam manifestado ''preocupação'' com os comentários do ex-ministro do Interior.



Martin Bouygues, o milionário dono do canal TF1, que comemora este ano 20 anos de privatização, é outro amigo íntimo do casal Sarkozy. Cécilia Sarkozy o considera como ''nosso melhor amigo''. O proprietário de TF1 é padrinho do filho do casal e fala com o candidato todos os dias.



Quando se sabe que o jornal das 20h de TF1 (o de maior audiência da França) tem mais espectadores (9 milhões) do que a soma dos leitores de todos os jornais da imprensa de circulação nacional, incluindo o L’Equipe e Paris Turf, compreende-se por que esses amigos são tão cortejados pelo político que encarna a ''direita descomplexada'', como ele mesmo se define.



Além de todos os citados, ninguém desconhece as boas relações de Nicolas Sarkozy com o dono do jornal Le Figaro, Serge Dassault, que o apóia sem reservas.



Voto da banlieue
Mas se o ex-ministro é o darling dos barões da imprensa, o partido anti-Sarkozy cresce a olhos vistos e pode ser a grande surpresa dessas eleições.



Depois de publicarem um texto intitulado ''Vencer Sarkozy'', um grupo de intelectuais de peso divulgou esta semana um novo manifesto intitulado ''Assumir nossa responsabilidade histórica no dia 22 de abril''. Sociólogos, filósofos, escritores e atores assinam o texto que diz que ''uma nova derrota eleitoral da esquerda seria sinônimo de graves ameaças contra as liberdades fundamentais e a independência da justiça, regressão para a pesquisa e asfixia para a criação artística, além da domesticação da informação''.



O Le Monde publicou há poucos dias uma matéria de página inteira intitulada ''Nicolas Sarkozy agrega contra ele uma galáxia heterogênea''. Impedir a eleição de Sarkozy virou uma preocupação maior de alguns grupos de esquerda.




O fato novo dessa eleição é a força da internet, que pode neutralizar o papel da imprensa tradicional junto aos eleitores. Uma verdadeira guerra vem sendo travada na web pelos antisarkozistas. Juntamente com o voto da banlieue, a periferia das grandes cidades, majoritariamente antisarkozista, o resultado pode surpreender tanto quanto em 2002, quando nenhum instituto de pesquisa previu o direitista Jean-Marie Le Pen no segundo turno contra Jacques Chirac.