Protestos em show de Caetano nos 25 anos do shopping Iguatemi

No show de Caetano Veloso realizado em Fortaleza na noite do último sábado, 28/4, patrocinado pelo Shopping Iguatemi, que tem entre seus proprietários o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), alguma coisa estava fora da ordem. A apresentação do cantor e comp

“Iguatemi – Há 25 anos sua vida acontece aqui”, podia-se ler nos grandes cartazes publicitários que ladearam o palco onde Caetano e sua banda, formada pelos jovens instrumentistas Pedro Sá (guitarras), Ricardo Dias Gomes (baixo e teclados) e Marcelo Callado (bateria), tocaram músicas do disco “Cê” e canções mais conhecidas para um público estimado em mais de 30 mil pessoas. Em contraponto, a platéia, que enfrentou a chuva para conferir o show, aderiu ao protesto realizado por manifestantes que denunciaram a destruição do Rio Cocó e de sua área de mangue pelo empreendimento comercial da família Jereissati, que atualmente promove a construção de um grandiloqüente edifício de escritórios, junto ao Shopping Iguatemi.


 


 


“Caetano, os que pagam o teu show assassinam o Cocó” era, por outro lado, a mensagem estampada em adesivos distribuídos à multidão e em uma grande faixa preta e branca aberta perto das grades que separavam a “primeira fila” do público da área vip reservada aos convidados do shopping – entre eles, o próprio senador Tasso Jereissati. O espaço seleto incluía, além da visão privilegiada do show, um grande “lounge” nos bastidores do palco, com direito à distribuição de bebidas como uísque e cerveja. Até mesmo um esquema de transporte foi montado exclusivamente para que os convidados da empresa do ex-governador cearense tivessem acesso facilitado ao local do show – micro-ônibus faziam o trajeto entre o Parque do Cocó e o estacionamento do shopping.


 


 


Já na extensão do espaço do show, foram afixados cartazes e balões publicitários da Coca-cola – produzida e engarrafada no Ceará pela Refrescos Cearenses S/A, também de propriedade de Jereissati – e da Companhia Energética do Ceará, Coelce, privatizada durante a gestão do tucano no Governo do Estado, gerando diversas ações trabalhistas, pelas varias demissões e terceirizações realizadas, e judiciais contra os consecutivos aumentos da tarifa de luz que se seguiram à venda da empresa.


 


 


“Eu incomodo governo e oposição”


 


 


Uma outra faixa erguida em meio ao público destacava: “Parabéns, Iguatemi, pelos 25 anos destruindo o Cocó”. Apesar das manifestações de parte da platéia, gritando palavras de ordem como “Preservem o Cocó”, durante o show Caetano não fez comentário sobre o protesto. Mas não deixou de falar de política. Disse estar há 40 anos acostumado a incomodar esquerda e direita, governo e oposição.


 


 


Trajando camiseta lilás e jaqueta, pulando de um lado de outro do palco procurando saudar e estimular o público, Caetano comentou ainda sua condição de recorrente fonte de polêmica em declarações à imprensa. “Lancei o disco ‘Cê’ entre o primeiro e o segundo turno das eleições do ano passado, dei milhares de entrevistas e claro que vários jornalistas me perguntavam sobre política. E eu, que falo mesmo, respondi”, disse, citando a entrevista concedida ao Blog do Moreno como especialmente polêmica.


 


 


“Eu disse que não havia votado no Lula no primeiro turno, mas que talvez votasse no segundo turno. Foram milhares de comentários. Desagradei tanto os lulistas, por dizer que não tinha votado nele, quanto os não-lulistas, porque talvez votaria”, registrou o cantor. “Mas de todas as mensagens inflamadas de comentário, uma me tocou no coração. Alguém disse que tá bom, tá bom, podemos até agüentar o Caetano falando sobre tudo que ele não entende nada. Mas disse que duro mesmo era agüentar Caetano tocando violão”, contou, antes de cantar acompanhado ao instrumento, em um momento solo do show. Resta saber se os tucanos cearenses e nacionais, que ainda batem bico por terem passado de governo a oposição, concordariam com Caetano.


 


 



De Fortaleza, Joana Ribeiro