Bida é condenado a 30 anos de prisão pelo assassinato da Irmã Dorothy
Depois de quase 24 horas de julgamento, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura foi condenado a 30 anos de prisão. A Justiça considerou Bida, como o fazendeiro é conhecido, mandante e mentor intelectual do assassinato da missionária norte-americana Dorothy
Publicado 15/05/2007 20:05 | Editado 04/03/2020 16:53
O julgamento de Bida começou por volta das 8h30 da manhã de segunda-feira (14), no Fórum Criminal da capital, na praça Felipe Patroni. No primeiro dia, promotoria se empenhou em mostrar ao júri o envolvimento do fazendeiro com o crime. Já a defesa, tentou desqualificar a missionária afirmando várias vezes que ela, quando viva, incitava os trabalhadores rurais em Anapu, oeste do Estado.
Em interrogatório feito pelo juiz Raimundo Moisés Alves Flexa, da 2ª Vara Penal de Belém, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, negou envolvimento no crime. 'Não participei de crime algum', declarou o fazendeiro.
Vitalmiro Bastos de Moura volta para a casa penal PEM III, em Santa Izabel onde já estava detido desde à época do crime.
O irmão da missionária, David Stang, acompanhou o julgamento e se mostrou satisfeito com a pena decidida pelos jurados. 'Nossa família veio ao Pará para encontrar justiça. Estamos felizes porque a justiça foi feita, mas a luta continua. Agora vamos esperar o julgamento do Taradão', disse. A esposa de Vitalmiro Bastos de Moura não quis falar com a imprensa.
David e Margareth Stang participaram de uma festa de trabalhadores rurais, que ocorreu na praça Felipe Patroni. O coordenador do Comitê Dorothy, Dinailson Benassuly, se mostrou feliz com a condenação, mas fez uma ressalva: 'O nosso sentimento é de felicidade, mas este caso ainda não está concluído, porque falta uma pessoa ir a julgamento, o Taradão'.
Os advogados de defesa informaram que já entraram com recurso e esperam um novo julgamento para Bida. 'Queremos que ele tenha um novo julgamento, com outro corpo de sentença', disse o assistente da defesa, Ercio Quaresma. 'Esta foi a primeira vez que um dos acusados deste crime teve dois votos, portanto isso é uma vitória. Vamos recorrer', finalizou.
Acusados – Vitalmiro é quarto envolvido no crime a ser condenado. Antes foram julgados e condenados Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista, condenados a 27 anos e 17 anos de reclusão, respectivamente.
Amair Feijoli da Cunha, o “Tato”, foi condenado a 27 anos de prisão como intermediário do crime, mas foi beneficiado com a redução de um terço da sentença -definitiva em 18 anos- se valendo do recurso de delação premiada. O recurso garante benefício a acusados que colaboram dando informações no processo.
Ainda falta ir a julgamento outro fazendeiro que também é acusado de ser um dos mandantes do crime. Reginaldo Pereira Galvão aguarda o júri em liberdade.
Incra: Condenação de 'Bida' é vitória da reforma agrária
Os trabalhadores rurais que aguardavam o julgamento dos responsáveis pelo assassinato da missionária Dorothy Stang comemoraram a decisão da Justiça Estadual do Pará que condenou o fazendeiro Viltamiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, nesta terça-feira (15).
A decisão ocorre num momento em que o Incra se faz mais presente na região Oeste do Pará, e as ações do órgão consolidam os Projetos de Assentamento, que são motivo da luta de Dorothy e dos movimentos sociais. A última conquista foi a retomada do lote 55, localizado no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Anapu I, conhecido como PDS Esperança, local onde ocorreu o assassinato da missionária.
A retomada do lote, além do sentido simbólico que carrega, representa o reforço do combate à grilagem de terras através de ações judiciais ajuizadas pela Procuradoria do Incra. O resultado destas iniciativas tem permitido ao Instituto atender às demandas dos movimentos sociais, respaldar a reforma agrária e a agricultura familiar.
Em Anapu, de 2003 a 2005, foram retomados 75 mil hectares, todos destinados à reforma agrária. No ano passado, outros 130 mil hectares foram retomados numa área inserida nos municípios de Altamira e Senador José Porfírio.
Paralelamente ao combate à grilagem de terras, o Incra tem investido nos assentamentos da região. Em março deste ano, 205 famílias do assentamento Pilão Poente II e III, em Anapu, receberam bens de primeira necessidade e equipamentos para incentivar a produção. Já existem recursos depositados em associações representativas do assentamento para atender mais 495 famílias. Cada família tem acesso a R$ 2,4 mil em créditos, valor integralmente subsidiado pelo Governo Federal.
O assentamento Pilão Poente II e III, localizado sob terras de alta
fertilidade, onde se destaca o plantio de cacau, também já começa a ter acesso à energia elétrica. Outros dois assentamentos, Grotão da Onça e Pilão Poente, também estão sendo beneficiados, melhorando a qualidade de vida das famílias e abrindo perspectiva de novas atividades produtivas.
Quanto às estradas, um outro ponto de investimentos do Incra em
infra-estrutura, está em curso um convênio assinado com a prefeitura de Anapu, no valor de R$ 1,3 milhão, com o objetivo de construir e recuperar 54,3 quilômetros de estradas vicinais em Projetos de Assentamento; as obras encontram-se em execução.
Fonte:
Portal ORM