3º Congresso da Unegro lança entidade para ação de massas

Neste sábado (16), o Congresso Nacional da União dos Negros pela Igualdade (Unegro) – realizado na cidade do Rio de Janeiro desde o dia 14 – destacou o virtuoso crescimento que a entidade obteve nos últimos anos. Em 2003 a Unegro tinha presença em apenas

A “explosão” do crescimento foi creditada a pelo menos quatro fatores. “O novo cenário aberto com o governo Lula; o intenso protagonismo da Unegro nos espaços institucionais e nas últimas mobilizações de rua do movimento; a unidade e disciplina em suas fileiras; e a maior sensibilidade do PCdoB á questão racial são elementos que possibilitaram a dimensão deste congresso”, disse Edson França, da coordenação nacional (CN) da entidade, ao Vermelho.


 


Independente dos fatores, o resultado do 3º Congresso está sendo uma Unegro mais aberta e plural a todos os movimentos e também a não negros. Falaram hoje em plenário e nos grupos de discussão homens e mulheres de todas as idades, integrantes do movimento hip hop e de gênero, jogadores de capoeira, gays, lésbicas, travestis, babalorixás e ialaorixás, envangélicos, sindicalistas e estudantes, membros de comunidades quilombolas, alguns brancos, um japonês, gentes das mais diversas partes do país.


 


A ''salada'' aparente, no entanto, ecoa numa mesma frase toda vez que os atores deste palco são chamados a falar. Eles dizem: “rebele-se contra o racismo”, lema da Unegro. A dimensão da amplitude do encontro não era esperada nem pela coordenação nacional da entidade. “Fomos pegos de surpresa pela diversidade de movimentos presentes do congresso, uma boa nova que também está trazendo questões que antes jamais foram debatidas na entidade e que agora precisam ser enfrentadas”, disse Jerônimo Silva Junior, coordenador Unegro-BA e também membro da CN.


 


Os GLBT


 


Entre os novos temas que a entidade está passando a debater com o 3º Congresso está a livre orientação sexual. O primeiro contato com o debate do movimento GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros) gerou desencontros e revelou um preconceito inesperado e contraditório por parte de alguns participantes do congresso. Contudo, os GLBTs presentes não desanimaram e afirmaram que a reação era esperada e só reforça a necessidade de uma maior aproximação do movimento com a Unegro.    


 


Um destes desencontros ocorreu logo pela manhã, quando um orador do plenário protestou pela ausência de um grupo de trabalho (GT) específico para questão na parte da tarde, turno reservado na programação para os GTs. A capixaba e travesti Liliane, ou apenas Lili, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT) – uma das principais entidades organizadoras das paradas do orgulho gay no Brasil – não concordou com o protesto.


 


“É a primeira vez que eu e muitos GLBTs que estão aqui participam de um congresso da Unegro, não faz sentido nenhum nos guetizarmos em um GT específico agora. Queremos participar de todos os grupos já pré-estabelecidos pelo congresso para, pela primeira vez em conjunto com a Unegro, iniciarmos um debate sobre a livre orientação sexual com recorte de raça”, falou Lili.


 


Já na parte da tarde, uma militante do movimento negro lésbica pediu a palavra no grupo que debatia a questão de gênero. Inesperadamente uma companheira pediu que a militante concluísse a sua fala. A interrupção gerou uma saudável polêmica no grupo que protestou veementemente contra o pedido. “O que é isso? Não podemos reproduzir o preconceito que tanto combatemos, na Unegro tem espaço para o combate de todos os preconceitos, sejam eles de gênero ou de orientação sexual”, disse a jovem Isabel, de Campinas (SP), que participava do debate.


 


Após inúmeras falas de apoio as militantes lésbicas o grupo encerrou seus debates mais maduro para reconhecer e assimilar todas as diferenças na luta contra as desigualdades raciais.   


 


Ainda no período da tarde deste sábado, integrantes do Nação Hip Hop Brasil realizaram um intervenção cultural no congresso. “O hip hop é o filho mais velho do movimento negro, não poderíamos deixar de estar presente com a nossa arte e a cultura de rua que marca a criatividade do povo negro”, disse o rapper Sagaz do estado do Espírito Santo, membro da direção nacional do Nação.   


 


Neste domingo (17), último dia do congresso, a Unegro realizará sua plenária final aprovando as resoluções de seu congresso e elegendo a nova coordenação nacional da entidade que, acompanhando o crescimento expressivo revelado no encontro, tende a aumentar sua direção com relação aos atuais 13 integrantes.


 


Por Carla Santos,
do Rio de Janeiro