Senadores de vários partidos homenageiam os 70 anos da UNE

O primeiro dia do 50º Congresso da União Nacional dos Estudantes –que começou nesta quarta-feira (4) e se estende até o próximo dia 8, em Brasília — foi marcado por uma concorrida e emocionante homenagem realizada no Senado Federal. A sessão solene foi

 


 


O Plenário do Senado dedicou a primeira parte da sessão desta quarta-feira (4) a homenagear a União Nacional dos Estudantes (UNE), que completa 70 anos de fundação no dia 13 de agosto. A homenagem foi requerida pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e apoiada por outros senadores. A sessão especial é considerada pela UNE como o marco inicial de seu 50º Congresso Nacional, que acontece em Brasília até o próximo dia 8. Logo na abertura dos trabalhos o Coral do Senado apresentou a canção Coração Civil, de Milton Nascimento. Vários estudantes assistiram à homenagem nas galerias do Plenário e por meio de telões espalhados pelo Senado.


 


Também foi homenageado pelo Senado o Centro Popular de Cultura (CPC), ligado à UNE, que tinha como objetivo difundir a cultura popular e a arte regional. O centro, inaugurado no Rio de Janeiro, em 1961, foi fechado pelo regime militar em 1964.


 


''A história da UNE sempre esteve ligada à história de lutas do povo brasileiro, deixando sua marca em todos os grandes episódios sociais e políticos do Brasil. Esteve presente em todas as lutas pela liberdade, pela democracia e pela defesa intransigente, mas conseqüente e responsável, dos interesses de nosso país e de nosso povo'', disse Inácio Arruda, em seu discurso. Entre as diversas jornadas em que a UNE se engajou, o senador comunista destacou a atuação da entidade na luta contra o regime militar (1964-1985) e pela redemocratização do país.


 


Arruda afirmou ainda que a UNE foi uma das primeiras entidades no Brasil a defender a democracia, com a organização de grandes atos contra o nazifascismo e a realização de passeatas que contribuíram significativamente para que o governo Getúlio Vargas se posicionasse contra os países do Eixo, durante a 2ª Guerra Mundial.


 


''Foi no contexto dessa luta que a UNE realizou sua primeira grande façanha. Os estudantes fecharam e ocuparam o Clube Germânia, conhecido ponto de encontro de simpatizantes do nazismo, localizado na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Foram protagonistas deste episódio histórico, além da UNE, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Confederação Brasileira dos Desportos Universitários, o CBDU'', lembrou.


 


Inácio Arruda destacou que o posicionamento em defesa dos interesses do povo brasileiro sempre colocou a UNE na mira das ''forças retrógradas''.


 


''Em 1945, no apagar das luzes do Estado Novo, a UNE sofreu uma dura perseguição, mas isso não impediu que, já em 1947, empunhasse novamente a bandeira da defesa da soberania nacional e de nossas riquezas, levantando a juventude com a campanha pela criação da Petrobras. 'O petróleo é nosso' foi a palavra de ordem que contagiou estudantes e, depois, toda a sociedade brasileira'', recordou.


 


O senador pelo PCdoB cearense também lembrou que a UNE se solidarizou com as forças progressistas, que se posicionaram contra a tentativa de impedir a posse de João Goulart. Segundo ele, foi nessecenário, ''quando as forças do atraso mais uma vez tentaram interferir'', que a articulação entre o movimento operário, as lideranças trabalhistas e a UNE se ''mostrou imprescindível para conter os atos golpistas''.


 


''Era a época da consolidação do CPC e da primeira UNE-Volante, uma verdadeira caravana que unia eventos culturais à bandeira da reforma universitária. Foi por intermédio da UNE-Volante que o CPC, recém-criado, levou sua mensagem cultural a todas as capitais do país. O principal objetivo era atingir as massas, com arte genuinamente brasileira e engajada'', afirmou Arruda.


 



Giuseppe Garibaldi


 



Ao homenagear os 70 anos da União Nacional dos Estudantes, a líder do PT no Senado Federal, Ideli Salvatti (SC), lembrou a figura de Giuseppe Garibaldi, revolucionário italiano cujo bicentenário de nascimento foi comemorado ontem, 4 de julho. A senadora disse que Garibaldi e sua companheira brasileira Anita refletem a força dos jovens brasileiros, que têm um espírito internacional de luta pela justiça e pela democracia.  ''Esse espírito de entrega, de se colocar a serviço de um sonho, só a juventude tem'', disse a senadora.


 


O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), por sua vez, lançou à entidade o desafio de lutar pela distribuição do produto da redemocratização. Para ele, isso só acontecerá por meio da construção de uma sociedade utópica na qual, no que se refere à educação, os filhos dos pobres sejam iguais aos filhos dos ricos.


 


O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) também discursou e destacou o surgimento da entidade em meio à ditadura de Getúlio Vargas. Lembrou também a luta da UNE contra o nazi-fascismo, uma das primeiras bandeiras levantadas pela organização de estudantes. ''A grande marca da UNE é a resistência'', afirmou, apontando o país como devedor das conquistas democráticas apoiadas pela mobilização estudantil.


 


No mesmo sentido, o senador José Nery (PSOL-PA) louvou a atuação da entidade em momentos-chave para a democracia brasileira ao longo de sua história e destacou a luta dos estudantes por uma educação pública e de qualidade, contra o avanço do privado sobre o público.


 


Para Nery, como instrumento de luta pelas transformações nas universidades, a UNE é uma instância fundamental para a ''condução a uma sociedade onde não haja opressão do homem pelo homem''.


 



Ao comentar a homenagem, o presidente da UNE, Gustavo Petta, destacou o fato de haver, no Senado, pessoas que fizeram parte da história da entidade estudantil. “Tem um significado muito grande a UNE ser homenageada no Senado e ter ali pessoas que fizeram parte da sua história e foram pessoalmente homenagear a entidade'', afirmou.


 



Petta lembrou que discursaram na solenidade senadores “de diferentes partidos, mas que participaram da história da UNE e ainda carregam valores que passaram a ter a partir da formação, que, com certeza, em parte, eles tiveram no movimento estudantil”.


 



Além de Inácio Arruda, e dos senadores acima citados, também discursaram homenageando a UNE os senadores João Pedro (PT-AM), Mão Santa (PMDB-PI), Sibá Machado (PT-AC), Geraldo Mesquita (PMDB-AC), Serys Slhessarenko (PT-MT), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Pedro Simon (PMDB-RS), que encerrou a sessão de homenagem.


 



Memória de Honestino


 


Ao final da homenagem, foi executado o Hino da UNE, e a senhora Maria Rosa Leite, mãe do estudante Honestino Guimarães, desaparecido durante o regime militar, recebeu uma bandeira da União Nacional dos Estudantes das mãos de Gustavo Petta, atual presidente da UNE, e do senador Inácio Arruda.


 


Estiveram presentes na homenagem, compondo a Mesa, além de Gustavo Petta, o ministro dos Esportes, Orlando Silva; o ator e secretário da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti; o deputado federal Efraim Filho (DEM-PB) e o escritor Arthur Poerner.


 


História de lutas


 



A UNE foi fundada em 13 de agosto de 1937 com o objetivo de ser a entidade máxima de representação dos estudantes de ensino superior. Em suas sete décadas de existência, a entidade participou dos alguns eventos importantes da história do país, defendendo a ruptura do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 1940 e participando do movimento que defendia a posse do vice-presidente João Goulart na Presidência da Republica, em 1961, em decorrência da renúncia do presidente Jânio Quadros. Teve entre seus dirigentes, entre outros, o atual governador de São Paulo, José Serra; o atual ministro dos Esportes, Orlando Silva; e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Aldo Rebelo.


 



Em 1964, por meio da Lei Suplicy de Lacerda, a UNE foi proibida de desenvolver atividades políticas, o que marcou o início de uma série de restrições impostas ao movimento estudantil pelo regime militar e forçou a entidade a operar na ilegalidade até o ano de 1979, quando se iniciou sua reconstrução. A UNE também participou do Movimento ''Diretas Já'', em 1984, que reivindicava eleição presidencial por voto direto e teve papel decisivo nas mobilizações dos estudantes ''caras pintadas'' durante o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.


 



Congresso


 


O 50º Congresso da UNE começou ontem (4) e vai até domingo (8), na Universidade de Brasília (UnB). Com o tema Brasil, verás que um filho teu não foge à luta, o encontro tem na programação dois seminários, que discutirão ciência e tecnologia e questões da área de saúde. Também está prevista uma passeata na Esplanada dos Ministérios e uma homenagem a Honestino Guimarães, líder estudantil da UnB, ex-presidente da UNE e desaparecido político na década de 1960.


 


A UNE estima que cerca de 10 mil jovens de todas as regiões participarão do congresso, que é o maior encontro organizado da juventude brasileira e principal fórum de deliberação do movimento estudantil. O 50º Congresso da UNE vai eleger a nova diretoria da entidade, definindo seus rumos para os próximos dois anos.


 


Diversos motivos trouxeram estudantes de todo o país a Brasília para o congresso da UNE. A estudante de Pedagogia Suzane da Costa, do Rio de Janeiro, disse que espera poder buscar no encontro políticas que a ajudem a entender melhor o meio da faculdade em que estuda. ''Eu vim para esse congresso para entender o que poderei realmente procurar para a minha faculdade.''


 



Rayane Bandeira, que estuda Geografia em Brasília, tem outro objetivo:  “Colaborar, unir forças, para lutar pelos ideais dos estudantes, valorizar os estudantes, as escolas públicas”. Segundo ela, é preciso mobilizar forças para cobrar aquilo a que os estudantes têm direito.


 



''Nunca deixar que esse espírito acabe. Mesmo que muitos estudantes estejam desacreditados, nós queremos demonstrar nossa força, nosso poder, cobrar os nossos direitos por um Brasil melhor, uma educação melhor, um futuro melhor. É isso que nós queremos”, completou.


 


Da redação,
com agências