Furos: revista “Veja” erra até quando tenta acertar
O jornalista Luis Nassif publicou em seu blog neste domingo (29) uma “contribuição” do jornalista André Borges Lopes que desmonta o “furo” da última edição da revista “Veja” sobre as prováveis causas do acidente aéreo com o Airbus da TAM. O texto mostr
Publicado 29/07/2007 19:09
A revista Veja publica em seu site que: “A Aeronáutica se negou a comentar neste fim de semana as INFORMAÇÕES EXCLUSIVAS divulgadas na atual edição de Veja, que mostra que o avião da TAM que caiu em São Paulo teve erro humano no pouso.” (grifo meu) Esse “furo” sobre o possível erro de operação do piloto em função do reverso “pinado” já estava aqui no Blog, creio que no dia seguinte ao da tragédia. É considerada a versão mais provável segundo o jornal espanhol El País há pelo menos cinco dias. Tem dois antecedentes documentados e motivou, depois do acidente em Congonhas, um comunicado formal da Airbus aos usuários do avião. Haja exclusividade.
Voltando ao que está publicado no site:
“As investigações revelam ainda que, apesar da chuva, não houve aquaplanagem nem falha no sistema de freios.”
Compare-se essa declaração com o título do box da página 67 da edição 2018 (semana passada) da revista impressa:
“Para a maioria dos profissionais, o sistema de freio falhou e houve aquaplanagem”.
Dentre os dez “profissionais ligados à aviação” (anônimos) ouvidos pela Veja, a hipótese de falha nos freios ganhava por 8 X 1 (com uma abstenção) e a de aquaplanagem por 7 X 3. Nenhuma surpresa para quem conhece o critério da redação de Veja para selecionar a opinião de especialistas.
Para coroar, qual o título da matéria no site?
“FAB silencia sobre o erro do piloto. E especialistas confirmam falhas em pista”
Quanto à FAB, ela apenas segue fazendo o que fez desde o início dessa (e de outras) investigações de acidente: não comenta hipóteses até a conclusão das investigações.
E quais são as considerações dos “especialistas” da vez? Voltemos ao texto do site:
“Em reportagens divulgadas neste domingo pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, especialistas do setor aéreo confirmam outra informação de Veja em sua última edição — a de que as características da pista de Congonhas também contribuíram de forma decisiva para o desastre em SP. Curta e sem uma área de escape adequada, a pista agravou o acidente, por dificultar a reação dos piloto.” (sic)
Ou seja: sorrateiramente, saem do texto (mas não do título) a aquaplanagem, a falta do “grooving”, o “holiday on ice” do Mainardi , a “reforma inacabada”, a entrega precipitada da pista pela Infraero e tudo mais o que foi incessantemente martelado por mais de 10 dias pela imprensa nativa. As “falhas” da pista decorrem do fato de ter apenas 1950 metros, não ter área de escape e estar no meio da cidade. “Falhas” que têm, pelo menos, uns 30 anos de existência, mas só agora foram reveladas por Veja em sua última edição.
Que beleza, não? Humilde sugestão minha para o próximo “furo” da Veja: “Epecialistas da Airbus, que preferem não se identificar, afirmam que avião poderia ter pousado em segurança apesar do reverso desativado, da chuva e do equívoco dos pilotos, caso a pista tivesse 10 km de extensão e Lula não estivesse na Presidência da República”.
PS: curiosa essa colocação de que o suposto erro dos pilotos tenha sido a “causa inicial” do acidente. Confirmada a hipótese da manete mal posicionada, na minha opinião, a “causa inicial” é o reverso desativado; a causa secundária são os procedimentos confusos da Airbus para pouso nessas condições; a causa terciária é o erro dos pilotos em condições não usuais. Chuva, pista relativamente curta e condições do aeroporto, são agravantes.
Por outro lado, transformar um aeroporto limitado como Congonhas em principal “hub” da aviação nacional é uma evidente irresponsabilidade – que deve ser dividida entre o governo e as companhias aéreas.
Comentário
No dia do acidente participei de uma entrevista com um especialista em segurança no Jornal da Cultura. No intervalo, ele dizia que a hipótese mais provável era do reverso não ter funcionado. No ar, fugia da hipótese. Nos dias seguintes, o efeito-manada desestimulou as análises nessa linha. Só quando começou a se esgotar a história do “grooving” e da pista é que os jornais passaram a explorar, no início timidamente, a hipótese do reverso.