Chávez critica demora para Gasoduto do Sul sair do papel
O projeto do Gasoduto do Sul, planejado para levar gás natural do Caribe até o Rio da Prata e abastecer boa parte do Brasil, “esfriou por causa de ataques dentro da própria América do Sul”, justificou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O monumental p
Publicado 02/08/2007 10:21
O Gasoduto, que cruzaria a Amazônia ou então a contornaria por todo o leste brasileiro, deveria ter capacidade para levar diariamente 150 milhões de metros cúbicos de gás, quase a metade do atual consumo da região, desde o nordeste venezuelano até os principais centros urbanos e industriais de seus países vizinhos no sul. “A Venezuela tem, felizmente para a América Latina, uma das maiores reservas de gás do mundo. Aqui existe gás para um século”, disse Chávez na semana passada, em um ato com simpatizantes a oeste de Caracas.
As reservas venezuelanas de gás estão calculadas em 150 bilhões de pés cúbicos, o que coloca esse país no nono lugar no mundo na matéria, mas em sua maior parte associada a petróleo, que seria necessário produzir paralelamente. A Bolívia, segunda fonte de gás sul-americana, tem 52 bilhões de pés cúbicos de gás livre.
Letargia
O entusiasmo inicial pelo gasoduto, que segundo o estabelecido no Rio de Janeiro deveria ser apresentado aos demais governos sul-americanos a partir de setembro, deu lugar a um adiamento de prazos para estudos e reuniões, além do silêncio dos governos. “Não podemos obrigar ninguém”, lamentou Chávez, acrescentando que a sugestão foi feita em termos de cooperação bolivariana, pois “se estivéssemos pensando apenas em dinheiro, venderíamos o gás para a América do Norte”.
Chávez prevê visitar Buenos Aires e se reunir com Kirchner na próxima segunda-feira. Mas sua declaração sobre o “esfriamento” do gasoduto aconteceu depois que seu ministro de Energia, Rafael Ramírez, se reuniu com o presidente argentino. Segundo informações dos governos sul-americanos interessados no projeto, sete grupos de especialistas, que totalizavam 50 pessoas, estudavam sua a viabilidade econômica e técnica, a engenharia, o traçado, o financiamento e suas questões ambientais e sociais. A desanimadora declaração de Chávez traduziu a paralisação das reuniões e dos trabalhos para dar forma ao projeto e parece dar razão aos críticos do gasoduto.
Críticas ao projeto
Apesar da aliança política tecida entre La Paz e Caracas, já em abril de 2006 o vice-ministro de Hidrocarbonos da Bolívia, Julio Gómez, afirmava que o gasoduto “é um projeto viciado, uma loucura”. Além disso, no parlamento boliviano foi rotulado de “competição desleal” da Venezuela com a demanda boliviana de melhor preço para seu gás. Mas a frente mais dura foi a dos ambientalistas, que inclusive coletaram assinaturas em quatro continentes para pedir aos governos que deixassem o projeto de lado. Cartas enviadas aos presidentes da região foram divulgadas durante a Cúpula Energética Sul-americana realizada em abril na Venezuela.
“A integração de nossos povos requer uma mudança de modelo que se afaste do desenvolvimento dependente dos hidrocarbonos imposto à nossa civilização”, dizia uma das cartas, considerando que o projeto “aumentará a dívida ecológica e social, e por fim, a pobreza”. O gasoduto, mais as vias e instalações necessárias para sua manutenção, “seria o passo definitivo para a destruição da Amazônia, da Guiana venezuelana e de diversos ecossistemas da costa caribenha e atlântica, pondo em risco iminente a região com devastadoras conseqüências para o planeta”, segundo o texto.
Fonte: IPS