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FHC conta a tucanos por que o povo gosta de Lula e não dele

O PSDB reuniu sua alta cúpula em Sâo Paulo para um seminário nesta quinta-feira (9), dividido para 2008 – entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab para prefeito paulistano – e dividido para 2010 – entre José Serra e Aécio Neves. Mas a estrela do dia foi ma

 


''Política não se faz sem convicção e coragem. Por isso, devemos falar claro. Em geral, os políticos falam de modo complicado e os que não falam complicado são os que o povo gosta. O Lula, por exemplo, fala claro, mas, às vezes, não sabe onde quer chegar'', avaliou FHC.



Um ''político que fala complicado''



O seminário no Hotel Hyatt, com nome pomposo ( ''Fundamentos da Economia e os Desafios do Crescimento''), visava alegadamente preparar os tucanos para a plataforma presidencial de 2010. O presidente de honra da sigla, porém, dedicou boa parte de seu discurso ao passado, defendendo seus dois mandatos no Planalto (de 1995 a 2002).



 ''Ao contrário do que ocorre hoje, fizemos tudo o que dissemos no passado. Não tínhamos um discurso na campanha e outro no governo. Consolidamos a democracia e acabamos com a inflação'', ressaltou FHC, talvez atribuindo sua impopularidade (veja o gráfico acima) ao fato de que o povo não gosta de ''político que fala complicado''.



Responsabilidades pela crise aérea



Mesmo ao falar do acidente com o Airbus da TAM, atualíssimo, o ex-presidente voltou-se para o passado: tratou de plantar uma vacina para os preparativos da crise aérea que ocorreram durante seu governo.



''É claro que os governos, e eu me incluo, não preciso me excluir, têm responsabilidade, porque muita coisa vem de mais tempo. Mas isso não absolve o atual, porque estourou tudo agora'', alegou FHC sobre a crise aérea.



O orador aconselhou que ''não se deve usar politicamente essa questão, porque não é uma questão partidária, é uma questão muito séria porque morreu muita gente. Não adianta ficar fazendo muito escândalo, o que ocorreu é muito trágico'', disse.



O criador da CPMF agora é contra



Porém a parte mais interessante do discurso ex-presidencial foi a que criticou o esforço do atual governo federal para prorrogar a CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira, mais conhecida como Imposto do Cheque). Foi FHC que criou a CPMF, em outubro de 1996, renovou-a, em junho de 1999, e elevou-a de 0,20% para 0,38%, em março de 2001. FHC defendeu a tese de que no seu tempo o Imposto do Cheque estava certíssimo mas agora está completamente errado.



 ''Na época, a situação era outra. Tínhamos que controlar a inflação e o imposto inflacionário havia desaparecido. Havia ainda a necessidade de se investir em saúde. Atualmente, nada justifica a manutenção da CPMF no limite que está'', explicou. ''Esse assunto foi tratado no painel do seminário na manhã de hoje e ficou claro para nós que atualmente existe abundância de recursos e desperdício de verbas, principalmente nas mãos do Estado'', justificou ainda.


 


Unidade neoliberal na economia, disputa na política



A parte econômica do seminário ficou a cargo de uma turma da pesada: Pedro Malan, o neoliberal titular da Fazenda no governo Fernando Henrique; Luiz Carlos Mendonça de Barros, outro ex-ministro, convertido a um neoliberalismo tão extremado que defende a privatização da Petrobras; e para completar Gustavo Franco, tão ultraliberal que o próprio FHC teve de tirá-lo do Banco Central, em 1999, quando estourou a crise do Plano Real e o índice de ''ruim'' e ''péssimo'' do presidente bateu em 56% (confira no gráfico).



Presentes também os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), o ex-governador Geraldo Alckmin e o senador Tasso Jereissati (CE), em fim de mandato como presidente do PSDB. Os três primeiros estão envolvidos em um complicado triângulo litigioso: Alckmin e Serra se desentendem porque o primeiro quer ser candidato a prefeito de São Paulo e o segundo prefere apoiar a reeleição do atual prefeito, do DEM, atraindo o ex-PFL para sua chapa presidencial em 2010;  Serra e Aécio disputam porque o segundo também quer disputar a Presidência.



O seminário em São Paulo foi convocado com o objetivo de recolher contribuições para atualizar o programa partidário no 2º Congresso do PSDB, em setembro. Segundo Jereissati (CE), o Congresso também conhecerá o resultado de recadastramento de filiados e militantes. E ainda aprovará um novo estatuto, que inclua uma  fórmula de de prévias para escolher o candidato presidencial em 2010 – para não passar de novo pelo constrangimento da disputa Serra-Alckmin entre janeiro e março do ano passado, cuja decisão ficou a cargo de uma ''santíssima trindade'' de notáveis do partido, presidida por FHC.