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Luis Nassif: Brasil perdeu o bonde da exuberância econômica

Seja qual for o resultado da atual crise internacional, a verdade dolorosa é que o Brasil perdeu o bonde desses 12 anos de exuberância da economia mundial. A crise está se alastrando. Apesar de manifestações otimistas daqui e dali, fica claro que mesmo os

Não haverá como a atual crise não afetar a economia real e o comércio mundial. O crédito secou no mundo. O volume de comércio será reduzido. A própria China terá que diminuir o ritmo de atividade econômica para enfrentar pressões inflacionárias.



O Brasil tem o conforto ainda de superávits comerciais sustentados pelos preços dos produtos primários, Mas jogou fora os dois momentos mais importantes da história contemporânea.



O primeiro, em 1994, quando a estabilização da economia permitiu o florescimento de um mercado de consumo popular reprimido. Esse processo se deu ao mesmo tempo em que as grandes multinacionais estavam realocando suas unidades de produção pelo mundo. E o Brasil, ao lado da China, seria um dos portos de atração desse investimento.



Os chineses aproveitaram esse momento para um salto fundamental. Concentraram toda sua política de atração de investimentos para absorver tecnologia, meios de produção, novas indústrias. Apesar de possuir uma infra-estrutura precária, acenava com um mercado de consumo crescente e um mercado potencial extraordinário e, especialmente, uma política de câmbio competitivo e taxas de juros baixas.



Na partida do Real, os economistas provocaram uma apreciação da moeda, visando lucros no mercado de câmbio. Essa armadilha amarrou a economia brasileira, impediu-a de crescer e ganhar musculatura. A descompressão do câmbio, em 1999, trouxe algum gás para a economia, mas insuficiente para relançá-la.



A segunda tragédia ocorreu no primeiro ano do governo Lula. Em 2002, a desvalorização cambial – fruto de crise internacional e da instabilidade política – permitiu entrar em 2003 com perspectivas inéditas de retomada de crescimento. Escapava-se da armadilha cambial. Milhares de pequenas e médias empresas passaram a buscar o mercado externo. O agronegócio explodiu. Ajudado pela expansão da liquidez internacional e do fator China, a economia mundial entrou em uma fase de expansão inédita.



Mas a política monetária de Antonio Palocci e Henrique Meirelles, avalizada por Lula, jogou fora a grande oportunidade. Com o câmbio apreciado, o produto brasileiro perdeu competitividade. A carga tributária aumentou, as exportações de manufaturados foram perdendo gás.



Aproveitou-se para reduzir a dívida externa brasileira, e o componente cambial na dívida pública. Graças aos preços das commodities, o Brasil entrou menos vulnerável na crise atual.



Mas vai sair dela como entrou, sem ter conseguido dar o grande salto de industrialização e desenvolvimento que teria conseguido, caso tivesse sido conduzido por estadistas nesses 12 anos. Ao final desse período, tem-se o maior processo de concentração de renda da história.



Fonte: Blog do Nassif