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Para Mantega, crise não altera rumo da economia no Brasil

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou nesta quinta-feira (16) que a crise no mercado financeiro internacional não vai mudar os rumos da economia brasileira. “No olho do furacão as coisas parecem piores. É normal, no mercado financeiro, que as co

Segundo Mantega, o mercado exagera tanto quando há um período de calmaria, aplicando mais e se expondo ao risco, quanto em momentos de crise. “Quando você tem uma retração, uma turbulência você tem um movimento inverso, eles exageram também na retração e na fuga”.



O ministro atribuiu o nervosismo desta quinta-feira – quando a Bovespa chegou a cair 8,33% no meio do dia, mas voltou a se recuperar – ao “contágio natural” do mercado financeiro. “Os mercados mundiais são conectados, então há um contágio de ativos, porque os bancos, os fundos de investimento, estão presentes em vários mercados ao mesmo tempo. Então quando eles perdem em um mercado, eles procuram retirar ativos em outros mercados”, explicou.



O Brasil, segundo Mantega, está sendo afetado apenas no setor financeiro, ou seja, não há contágio na produção interna, nas fábricas ou no consumo. “Essa turbulência ainda está circunscrita no setor financeiro, não afetou o setor real da economia. Então, para mim, ainda não é exatamente uma crise”, afirmou.



O ministro Mantega não descartou que a turbulência possa afetar o crescimento da economia mundial, mas disse que caso esse crescimento não desacelere, não vai prejudicar o Brasil internamente. “Essa é a questão que mais interessa, porque se não atingir o crescimento das economias, não deve ter repercussão no Brasil”.



Efeitos mais amplos



Os dados sobre as vendas no varejo, divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçam a crença de que as empresas e os consumidores – que fazem a economia real funcionar – ainda não estão preocupados com o momento. A informação motivou até comemoração por parte do ministro Mantega: “Eu estou feliz porque a economia está crescendo vigorosamente, o mercado consumidor já é uma realidade. Nós estamos, com a pesquisa mensal de comércio apontando para 13% de crescimento neste ano, em relação ao ano anterior. A população está consumindo mais 13%  e isso é demanda para as empresas brasileiras”.




Mantega lembrou ainda que a produção está crescendo em todos os setores: “Há uma geração de emprego que é recorde. Nos sete primeiros meses, passou o que produzimos de emprego no ano passado inteiro. O investimento está correndo na frente do consumo”.



Menos otimista, Edgar Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), afirmou que o fato de a indústria estar crescendo 4,5%, ao passo que o consumo cresce a 10%, pode preocupar. “Há de fato um aquecimento da economia, as vendas estão crescendo, mas isso não está se traduzindo inteiramente em aumento da produção e do emprego”, disse.



Pereira diz também que, embora num primeiro momento o dólar esteja subindo – o que, para ele, beneficia a produção local e as exportações –, é possível que retome a trajetória de queda, voltando a prejudicar a indústria. Por isso, ele defende a adoção de medidas mais permanentes por parte do governo. “O fato é que o dólar está fora do lugar, está mal posicionado. Não é a crise que vai corrigir isso. O que vai corrigir é uma política monetária doméstica mais consistente com a trajetória de crescimento da economia do que a que vem sendo praticada até agora”, disse.


A crise se intensificou nos Estados Unidos porque vários tomadores de empréstimos no setor imobiliário deixaram de pagar suas dívidas. Eles estão no grupo do subprime, um tipo de mercado que não exige garantias como comprovante de renda ou “nada consta”. Como se trata de uma operação de altíssimo risco, os empréstimos são feitos a taxas bastante elevadas. O retorno para o investidor é bom, mas arriscado. Os bancos, que emprestaram muito, não estão recebendo de volta. Em conseqüência, as instituições e investidores do mundo inteiro que emprestam aos bancos também não recebem, e sofrem o chamado efeito dominó.



Ainda não há números oficiais sobre o tamanho do calote. As estimativas variam de bilhões a trilhões de dólares. “Não sabemos qual é o tamanho da exposição dos fundos de pensão do mundo no mercado hipotecário, por isso é muito difícil avaliar a profundidade da crise”, ponderou Alex Agostini, economista-chefe da Austin. Mas ele disse não acreditar que o prejuízo atinja a casa dos trilhões.  



Para a agência, é prematura avaliar se a crise financeira irá afetar a economia como um todo, o que ainda não aconteceu nem mesmo nos Estados Unidos. “A crise vivida pelo mercado financeiro mundial deve se limitar ao segmento de hipotecas nos EUA, com foco no subprime. Ou seja, de posse das informações disponíveis até o momento, a crise atual caracteriza-se como localizada e conjuntural”, diz a Austin.



As expectativas são de que a crise não chegará à produção nacional, às fábricas e às exportações. “Esta crise afeta o mercado financeiro, mas a gente aqui não vai ter uma crise econômica do lado da produção, das vendas”, aposta Agostini. Para ele, só haverá efeito na economia como um todo se mudar as expectativas do consumidor, o que mexeria nas estratégias do setor empresarial. “Aí o consumo cai, a produção cai. Aí tem que ajustar o custo”, alertou.