Raio-X de Zottolo e Philips revela exploração e desemprego
Paulo Zottolo, presidente da multinacional Philips no Brasil,bancou os primeiros anúncios em jornais do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, o ''Cansei''. A generosidade não deve ter pesado muito em seu bolso. Segundo reportagem da IstoÉ
Publicado 19/08/2007 20:57
Contrastando com esse ''parco'' vencimento de Zottolo, os funcionários da Philips no Brasil sofrem um regime de escravidão institucionalizado pela empresa. Enquanto Zattolo fica milionário na passagem de ano, os valores médios dos salários pagos em cada uma de suas unidades no Brasil chega, no máximo a R$ 500,00.
Em Manaus o salário é de R$350,00, enquanto em Recife o piso salarial varia de R$ 247,75 a R$ 479,00.
Fim do emprego
A empresa LG.Philips Displays é resultado de uma parceria entre as empresas Royal Philips Eletronics, da Holanda, e a LG Eletronics, da Coréia do Sul. A partir de negociações iniciadas em 1999, as duas empresas estabeleceram na cidade de Amsterdã, em 11 de junho de 2001, um acordo pelo qual fundiam seus negócios relativos à produção de tubos de raios catódicos (TRC).
No momento de sua criação, a LG.Philips Displays possuía 34 fábricas distribuídas por 14 países, com aproximadamente 36 mil empregados, e uma expectativa de vendas anuais em torno de 6 bilhões de dólares. Das 34 fábricas, 14 produzem telas e painéis e as demais fabricam componentes.
Em junho de 2002, ou seja, um ano após a criação dessa parceria o número de fábricas reduziu-se para 32 e o de funcionários para aproximadamente 35 mil. As duas principais unidades de produção da LG.Philips Displays são as localizadas em Nanjing e Changsha, ambas na China, que respondem por 25% da sua produção mundial.
No final de 2003, a LG.Philips Displays reduziu o número de fábricas para 23 e o número de funcionários para 27 mil, tendo anunciado que, até meados de 2004, estaria fechando mais duas unidades: Aachen (na Alemanha) e Simonstone (no Reino Unido). A fábrica da Alemanha, fundada em 1954, possui aproximadamente mil funcionários e a do Reino Unido, fundada em 1960, 265.
A empresa anunciou que também fará reduções no número de funcionários nas unidades de Dreux (França) e Durham (Reino Unido).
Quadro: Evolução do emprego (2001-2003)
Ano – Número de fábricas – Trabalhadores
Junho/2001- 34 – 36000
Julho/2002 -32- 35000
Dezembro/2003- 23- 27000
Resultado: 9 mil desempregados
Philips no Brasil
As atuais unidades produtivas da LG.Philips Displays no Brasil estão localizadas em algumas plantas de produção da Philips do Brasil Ltda. No momento de criação da parceria (em junho de 2001) parte ou a totalidade da produção dessas plantas foi transferida para a nova empresa, tendo ficado a estrutura produtiva da LG.Philips Displays distribuída por três estados brasileiros: Amazonas (unidade da Zona Franca de Manaus), Pernambuco (unidade de Recife) e São Paulo (unidades de Capuava e São José dos Campos).
Praticamente todas as atividades da unidade de São José dos Campos foram repassadas à LG.Philips que assumiu as operações de televisões de telas pequena e média. Em Capuava (SP) a Philips transferiu à LG.Philips a produção de vidros, cones e do cinescópio das televisões de telas pequenas e médias, representando um insumo à produção de São José dos Campos. Em Recife, foram transferidos à LG.Philips os negócios relativos à produção de componentes para telas, permanecendo sob controle da Philips do Brasil os negócios relativos aos sistemas de iluminação automotivos, produzidos também nesta unidade.
Em Manaus, a produção de tubos de imagem foi transferida à LG.Philips Displays. Esta unidade é a principal planta da empresa no Brasil, sendo entendida como um ponto estratégico no Brasil e região. Foi implantado em Manaus um plano de expansão dessa fábrica, voltado para a ampliação de sua capacidade produtiva, que representa um investimento de US$ 10 milhões. De acordo com a empresa, essa ampliação da produção em Manaus representará um aumento no número de funcionários, de 580 para 700 (representando um aumento de 120 postos de trabalho).
Com a ampliação da produção em Manaus, a LG.Philips passou a produzir, no Brasil, 95% dos insumos (componentes) utilizados na fabricação de produtos finais no país. Atualmente, esta companhia possui cerca de 3 mil trabalhadores no Brasil e gera cerca de US$ 290 milhões em vendas, e somente a unidade de Manaus é responsável por aproximadamente US$ 128 milhões desse total.No caso brasileiro, a fusão de algumas operações da Philips com a LG significou basicamente a transferência da tecnologia desta última para as fábricas que a Philips já possuía no país.
Perfil sindical na Philips
As informações contidas nesta seção foram coletadas nos sindicatos dos metalúrgicos das regiões pesquisadas e também nos seus respectivos sites, além da consulta à base de dados da CUT no que se refere aos dados agregados (número de trabalhadores na base sindical). Não foram consideradas informações relativas às empresas terceirizadas prestadoras de serviços às unidades da LG.Philips no Brasil em função da ausência de informações nos sindicatos consultados.
Em São José dos Campos, o Sindicato dos Metalúrgicos local foi fundado em março de 1956 e, desde 2001, integra a Fenam (Federação Nacional dos Metalúrgicos da CUT). Este sindicato abrange as regiões de Caçapava, Jacareí, Santa Branca e Igaratá, tendo no total uma base sindical de 35 mil trabalhadores ativos, com 20 mil sócios entre trabalhadores ativos e aposentados. Os empregados da LG.Philips Displays abrangidos na base sindical totalizam 1.893, dos quais 1.452 trabalhadores são sindicalizados
Os dados sobre ramo e sobre a representação geral dos sindicatos citados referem-se a março de 2003.
Em Recife, os trabalhadores da LG.Philips são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco. Com uma base de aproximadamente 14 mil trabalhadores, a taxa de sindicalização geral é de 28,6%. Na empresa em questão, a taxa de sindicalização reduz-se para 8,7% de uma base de 367 trabalhadores.
Os trabalhadores da unidade de Manaus são representados pelo Sindicato dosTrabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, que tem abrangência estadual e, aparentemente, é o único que inclui trabalhadores terceirizados. Este sindicato congrega 45 mil trabalhadores em sua base geral e apresenta taxa de sindicalização de 27,9%.
Na empresa LG.Philips, o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus representa 101 trabalhadores e possui apenas 1% de sindicalizados. Cabe destacar que o sindicato atua na unidade desta empresa e na da própria Philips, onde se encontram alguns trabalhadores com mandato de dirigente sindical. Os próprios trabalhadores e seus representantes entendem que não há qualquer diferença entre a postura atual da empresa e a que adotava quando as duas plantas faziam parte de uma só unidade da Philips.