Nota: IMG denuncia ódio da direita contra Quartim de Moraes
O Instituto Maurício Grabois, através de seu presidente, Adalberto Monteiro, acaba de divulgar nota em apoio ao professor Quartim de Moraes por ataques que o ideólogo de direita Olavo de Carvalho fez ao professor da Unicamp. “Quartim é um homem que sempre
Publicado 22/08/2007 17:21
Instituto Maurício Grabois
Nota de solidariedade ao professor Quartim de Moraes
O Instituto Maurício Grabois vem se somar às inúmeras outras organizações e personalidades brasileiras na solidariedade ao professor João Quartim de Moraes, atacado de maneira injuriosa por Olavo de Carvalho.
O ódio dos ideólogos da direita brasileira a Quartim de Moraes, constantemente expostos em seus sítios na internet, tem como base a profícua produção acadêmica e não-acadêmica deste intelectual contra as idéias mais conservadoras – antidemocráticas, antinacionais e anti-sociais – que predominam em alguns círculos restritos das nossas elites.
E há outro fato inaceitável para esta direita intelectual: Quartim é um homem que sempre procurou articular pensamento crítico com ação política. Um teórico e ao mesmo tempo um militante político. Duas dimensões de sua vida que caminham juntas desde sua juventude. Opção que o levou, na atualidade, a se vincular ao Instituto Maurício Grabois e filiar-se ao Partido Comunista do Brasil. Ele levou a sério a afirmação do jovem Marx de que a teoria só adquire força material quando ganha as massas. A direita pode, no limite, até aceitar o pensamento avançado contanto que ele fique restrito aos muros das universidades e não procure interlocução com o conjunto da sociedade, especialmente com os trabalhadores.
Quartim de Moraes é um dos grandes expoentes do pensamento avançado brasileiro. Estudioso do pensamento antigo, em que fez sua especialidade, é também estudioso da América Latina e do Brasil contemporâneo. Graduou-se em filosofia pela USP em 1964 e se especializou em filosofia antiga. Participou da resistência armada ao regime militar, como dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária, e foi obrigado a se exilar na França.
No exílio, em 1971, publicou Dictatorship and armed struggle in Brazil. Esta foi uma de suas primeiras obras a tratar de maneira mais sistematizada da luta armada brasileira. Logo em seguida publicou em Les Temps Modernes o ensaio “A natureza de classe de Estado brasileiro”. Este seria a base para seu doutorado, na Fundação Nacional de Ciência Política de Paris, com a tese Os militares e os regimes políticos no Brasil entre 1889 e 1979. Na Europa colaborou com várias revistas, especialmente Afrique-Asie.
Voltou ao Brasil e continuou escrevendo para revistas acadêmicas e de esquerda. Tornou-se professor titular da Unicamp, onde ajudou a formar e foi o primeiro diretor do Centro de Estudo Marxista (Cemarx). Organizou a coleção História do Marxismo no Brasil e escreveu vários livros, como Esquerda militar no Brasil Liberalismo ; Ditadura no Cone Sul; e Epicuro: as luzes da Ética.
Os artigos ofensivos publicados por Olavo de Carvalho no Jornal do Brasil e no Diário do Comércio têm como objetivo tentar manter aceso o ideal anticomunista no interior das Forças Armadas. Um ideal que vem sendo reduzido graças à evolução da sociedade brasileira que se vê diante de novos e complexos dilemas muito diferentes dos existentes durante a guerra fria. Foram construídas novas pontes assentadas num programa nacional e de desenvolvimento. Um programa que se choca com poderosos interesses externos e internos.
Olavo também ataca outras das realizações de Quartim de Moraes: o Centro de Estudos Marxistas. Reafirmamos a importância de centros de pesquisa como o Cemarx/Unicamp. A academia não poderia deixar de ter um centro para estudar, sob os mais diversos ângulos, as contribuições teóricas daquele que é considerado por todos os intelectuais sérios – independentemente de suas posições – como um dos principais pensadores do século 19 e cujas idéias tiveram impactos profundos no mundo contemporâneo. Seus métodos foram amplamente utilizados no estudo dos diversos aspectos da sociedade: história, sociologia, economia, cultura, psicologia etc.
Ao mesmo tempo em que nos solidarizamos com Quartim de Moraes, alertamos que estes ataques não são fatos isolados. Eles fazem parte da nova ofensiva da direita brasileira contra os avanços democráticos e sociais que conheceu a sociedade brasileira nestes últimos anos – frutos da luta incansável de nosso povo. Eles querem voltar a roda da história para trás, restaurar em nosso país o regime de arbítrio e obscurantismo. Neste caso devemos retomar o grito de guerra da comunista espanhola Dolores Ibarruri diante do avanço das tropas fascista do generalíssimo Franco: “No passarón!”.
Adalberto Monteiro, presidente do Instituto Maurício Grabois.
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